RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O clima voltou a preocupar o agricultor gaúcho Fábio André Jacoboski, 40, na passagem de dezembro para janeiro. O motivo é a falta de chuva que começa a causar perdas em parte das lavouras no Rio Grande do Sul.
A família de Fábio cultiva soja em uma área de 115 hectares nos municípios de Ijuí e Bozano, que ficam a cerca de 400 km de Porto Alegre.
Ele estima que as perdas poderão alcançar a faixa de 40% a 50% da plantação. “A estiagem sempre existiu na nossa região, às vezes mais forte, às vezes mais fraca. Só que, neste ano, começou cedo, no início de dezembro”, lamenta.
“A soja não conseguiu se desenvolver. Está com um porte muito pequeno. Está perdendo tempo de crescimento”, acrescenta.
A falta de chuva vem após o Rio Grande do Sul amargar os prejuízos das enchentes históricas de abril e maio de 2024, além de estiagens no início de 2023 e de 2022.
A sequência de problemas climáticos afetou a agropecuária local, com impacto nas condições financeiras de parte dos produtores, segundo lideranças do estado.
“Infelizmente, temos uma situação difícil de novo”, afirma Carlos Joel da Silva, presidente da Fetag-RS (Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul).
“As chuvas têm sido muito irregulares e localizadas. Um mesmo município pode ter três situações diferentes. Tem o produtor que está perdendo quase tudo, tem aquele que está perdendo um pouco, e tem o produtor que não está perdendo nada”, completa.
Segundo a Emater-RS, os danos estão maiores em lavouras do centro-oeste gaúcho. Claudinei Baldissera, diretor técnico do órgão, evita projetar o tamanho dos estragos em números, mas afirma que o quadro já provoca perdas irreversíveis em algumas plantações, especialmente de soja.
“As chuvas não foram homogêneas. Há lavouras que receberam quantidade suficiente ou razoável, mas há outras muito próximas, dentro dos mesmos municípios, que estão só com aquelas chuvas de verão”, afirma Baldissera.
Cooperativas também alertam para os impactos da estiagem. Dados preliminares da FecoAgro-RS (Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul) apontam que a quebra na safra de soja pode ficar em torno de 21%. A previsão inicial caiu de 61 para 47,8 sacos por hectare.
“É cedo para definir isso, e a variação de produção é muito grande de cooperativa para cooperativa, de região para região ou dentro de uma mesma região”, afirmou Paulo Pires, presidente da FecoAgro-RS, em nota.
“Toda a soja está implantada, há uma boa expectativa de clima, mas essa falta de precipitações está trazendo muito prejuízo. Mais uma frustração seria muito ruim para o produtor e para a economia do estado”, acrescentou.
Até a manhã de domingo (26), 18 municípios gaúchos já tinham decretos de emergência em razão da estiagem, conforme a Defesa Civil. O Rio Grande do Sul é composto por 497 cidades.
Um dos municípios que já decretaram emergência é Cacequi (a cerca de 400 km de Porto Alegre), onde o produtor rural Cesar Augusto da Silva Macedo, 42, torce pela volta da chuva.
De acordo com ele, a perspectiva para a safra de verão era promissora, mas o prejuízo já foi instalado devido à estiagem, que afeta sobretudo a soja, além de dificultar a criação de gado.
“Cada fazenda é uma fazenda. Em um vizinho, chove, em outro, não”, diz o agricultor, que também se queixa de custos “astronômicos” de produção após a pandemia.
“A preocupação que a gente tem é para conseguir se manter na atividade”, afirma.
Um alento para o estado vem da produção de uva. Segundo a Emater-RS, a safra na região da serra gaúcha deve crescer 55% em relação à anterior (2023/2024) e 5% se comparada a uma temporada considerada normal.
Na uva, não é verificado o mesmo efeito da estiagem que começa a ameaçar culturas como a da soja, mais presente em outras áreas do estado.
As estimativas mais recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para a safra de grãos no Brasil foram divulgadas neste mês. A perspectiva dos dois órgãos sinalizava recorde de produção no país, após os estragos do clima no ano passado.
Os registros de seca e queimadas em diferentes regiões, além das fortes chuvas no Rio Grande do Sul, prejudicaram a agropecuária em 2024. Esse quadro, dizem economistas, acabou pressionando os preços dos alimentos.
A inflação da comida, aliás, virou dor de cabeça para o governo Lula (PT). O Palácio do Planalto tenta encontrar medidas para freá-la.
Economistas, porém, afirmam que as ações poderiam ter alcance limitado. Ou seja, não atacariam as principais causas da alta nos preços incerteza fiscal e reflexos no dólar, além de impactos do clima.