SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Desde o fim da pandemia, os paulistanos voltaram a frequentar os clubes da cidade, que implementam mudanças para manter e ampliar seu público.
Localizado nos Jardins (zona oeste), uma das regiões mais nobres de São Paulo, e fundado em 1899, o Esporte Clube Pinheiros tinha, antes da crise sanitária, uma média de 6.000 acessos diários. Agora, são 10 mil. O tempo médio de permanência dos associados em suas instalações subiu na mesma proporção.
Os associados procuram o clube atrás de práticas esportivas, culturais e contato com a natureza. São mais de 2.000 árvores catalogadas, muitas delas nativas da mata atlântica, que tornam o endereço também rota de aves migratórias. Esse ambiente tem levado as pessoas a frequentarem o local também para trabalhar, quando estão em atividades fora do escritório.
Atual presidente do Sindiclubes, que reúne os clubes do estado, Sérgio Nabhan, diz que o aumento da frequência não foi um fenômeno isolado do Pinheiros. “As pessoas saíram da pandemia com um desejo de maior socialização”, diz.
Assim, o isolamento social, que acabou por acelerar o fechamento de clubes que estavam em crise, foi um impulso para a retomada dos clubes quando houve a reabertura.
Agora, os espaços tentam se adaptar para receber mais grupos. “A maioria dos clubes hoje tem uma política de acessibilidade em seus espaços, para incluir as pessoas com deficiência, além de ter desenvolvido políticas específicas para crianças e adolescentes”, afirma Nabhan.
Presidente do Clube Atlético Ypiranga, fundado em 1906 no bairro de mesmo nome, na zona sul, Fernando Oberle aponta também a presença feminina como um motivo de fortalecimento dos clubes. “Quando o clube é frequentado apenas por homens adultos, há um alerta de crise”, diz.
Para ele, as mulheres acabam trazendo a família toda para o espaço e reforçam o ambiente de sociabilidade. Isso também é importante para combater a sazonalidade, quando os associados só pagam e frequentam o local nas estações quentes do ano e ficam inadimplentes nos meses frios.
Para usar os espaços, os sócios precisam pagar uma taxa de adesão, que vai, em geral, de R$ 2.000 para clubes pequenos a R$ 300 mil no caso dos grandes. Além disso, há uma mensalidade, que parte de R$ 100 e pode chegar a R$ 1.000.
De olho no público feminino, o Ypiranga criou uma escolinha de futebol para mulheres adultas. Uma parceria com a liga espanhola também serve para reforçar a proximidade com meninos e meninas que praticam o esporte. Nos últimos anos, o clube foi presidido por uma mulher pela primeira vez e teve também a primeira mulher a presidir o seu conselho.
Luiz Carlos Picone, presidente do Esportivo da Penha, na zona leste, considera que a sociabilidade vem acompanhada de outro sentimento fundamental para a sobrevivência desse tipo de entidade associativa. “Não é o clube, é o seu clube”, diz.
Para ele, os clubes entram em um ciclo negativo quando não conseguem mais cuidar de suas instalações. “Um clube malcuidado atrai menos os associados, aumenta a inadimplência e passa a ter menos condições de fazer as obras de manutenção que necessita”, conta.
O Esportivo da Penha tem 95 anos de fundação formal, mas é centenário se forem considerados os anos de instalação na área. Localizado na várzea do Tietê, tinha o rio como atrativo na época. Assim como os demais clubes que sobrevivem na cidade, tem buscado a incorporação de novos esportes para atrair frequentadores. As quadras de futevôlei, vôlei de areia e, principalmente, de beach tennis são exemplos desse novo perfil esportivo.
Também localizado às margens do Tietê, mas do outro lado do rio, o Esperia tem um conjunto de quadras de areia. São 11 ao todo, 7 delas exclusivas para a prática do beach tennis. “O segredo da administração do clube é entender que ele nunca está pronto, sempre precisa se atualizar e se aperfeiçoar para receber e manter seus associados”, afirma o presidente, Osvaldo Arvate Junior.
Com 125 anos de história, o Esperia tem aproveitado o momento positivo para recuperar e valorizar sua história, com a retomada de esportes que marcaram sua trajetória.
Entre seus atletas, estava Alfredo Gomes, primeiro vencedor da São Silvestre, corrida que completa seu centenário em 2025. Depois de um intervalo, o clube voltou a contar com aulas de corrida de rua para seus associados e formação de atletas para o esporte a partir de dez anos de idade.
Arvate conta que o clube pretende neste ano retomar o remo, obviamente longe do rio Tietê, onde foram disputadas as primeiras provas com a participação de sua equipe.
“Estamos elaborando o projeto para depois entrar com o pedido de vaga na raia da Cidade Universitária da USP (Universidade de São Paulo) “, diz. O clube, lembra ele, foi fundado por sete canottiere, termo em italiano que era usado pelos remadores do início do século passado para se identificarem na cidade.
Muitas décadas depois, o navegador Amyr Klink foi remador do Esperia. Ele ainda era atleta do clube quando fez, em 1984, a sua primeira grande viagem: a travessia do Atlântico em um barco a remo.