SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – São Paulo sempre foi mais conhecida pela garoa que cai do céu do que pela sua vista em si, mas a cidade também tem diferentes opções para quem quer observar os astros.
A missão não é das mais simples, como explica o astrônomo Roberto Costa, professor do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (Universidade de São Paulo), mas, ainda assim, possível.
Ele afirma que o céu de verão tem muitos objetos diferentes que podem ser visualizados sem a necessidade de equipamentos específicos. O planeta Vênus é um exemplo.
Ele pode ser visto no sentido oeste da região metropolitana, logo após o anoitecer. “É um elemento que brilha bastante, que costumava ser chamado pelos antigos de estrela Dalva. Mais ao fundo, na mesma direção, é possível localizar Saturno”, afirma.
Ele explica que, no meio da noite, se o observador olhar em linha reta para o céu, é possível ver a constelação de Órion, cujo símbolo mais famoso são as estrelas conhecidas como Três Marias. “Próximo a elas, é possível avistar também o planeta Júpiter”, diz.
Mais ao final da noite, na direção nordeste, também dá para ver Marte. “Estamos numa época em que este planeta está mais próximo e alinhado ao nosso”, explica. O fenômeno se repete a cada 26 meses, por causa da diferença do tempo de rotação dele em relação ao da Terra.
Costa explica que a dificuldade de ver o céu em São Paulo é comum a outras grandes metrópoles. “Além da verticalização, que faz com que o observador não tenha uma imagem mais ampla do céu, por conta dos obstáculos, as próprias luzes da cidade reduzem o contraste entre o escuro da noite e o brilho dos astros.”
O ideal, portanto, é buscar lugares altos e com menos iluminação artificial para conseguir ver melhor.
Alguns exemplos que ele cita são as áreas próximas de parques públicos, como o do Carmo (zona leste), Ibirapuera (zona sul), Aclimação (região central) e o Horto Florestal (zona norte). A praça do Pôr do Sol, em Pinheiros, também serve bem à função de mirante noturno, assim como as áreas próximas às represas Billings e Guarapiranga e a área rural localizada no extremo sul da cidade.
Mas as melhores opções, de fato, estão fora dos limites urbanos da região metropolitana, não só apenas no interior paulista. “Para quem quer e pode ir um pouco mais longe, as praias da Baixada Santista são uma ótima opção para admirar o céu durante a noite.”
O oceano Atlântico a partir da costa brasileira, lembra ele, garante uma longa extensão de céu aberto no sentido leste.
Ele diz que existe um movimento de pessoas que passaram a praticar a astronomia amadora a partir das janelas de apartamentos e dos quintais de casas. “Foi algo que ganhou muito impulso a partir do período de isolamento por conta da pandemia de Covid-19 e foi se mantendo a partir de então.”
Essas pessoas, diz, costumam usar aplicativos disponíveis para download no celular ou no computador para ajudar na orientação e na busca por planetas e estrelas. Costa cita como exemplo dois que considera bons, acessíveis e que podem ser baixados gratuitamente: Stellarium e Sky Chart.
Caso alguém tenha alguma dificuldade para fazer a visualização sozinho ou queira aprender mais sobre o assunto, o astrônomo lembra que a cidade de São Paulo tem três planetários em funcionamento. O mais antigo deles, no parque do Ibirapuera, fundado em 1957; o do parque do Carmo, que foi reaberto em 2016, depois de passar por uma reforma e modernização; e o de Parelheiros, inaugurado em 2024.
Em se tratando de São Paulo, o professor não recomenda que as pessoas saiam na rua sem qualquer cuidado durante a noite para avistar estrelas e planetas, ainda mais se não conhecerem em lugar seguro para fazer isso. Ainda mais porque os locais ideais têm pouca iluminação e ficam afastados de áreas mais adensadas.