RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Uma pesquisa nacional revelou que mesmo níveis baixos de atividade física melhoram sintomas depressivos. Foram considerados dados de uma coorte de 58.445 brasileiros adultos (68,6% homens e 31,4% mulheres) com idade média de 42,2 anos atendidos no Centro de Medicina Preventiva do Hospital Israelita Albert Einstein ao longo de 14 anos

O levantamento apontou que os pacientes com prevalência de quadros de depressão eram mais jovens, sedentários e já possuíam maior índice de massa corporal (IMC), configurando um sobrepeso alto (acima de IMC 26 e 27). Essas pessoas passavam mais tempo sentadas durante a semana e o fim de semana e também tiveram maior presença de comorbidades como hipertensão e diabetes.

A amostra foi selecionada entre 125.439 pacientes submetidos a avaliações de saúde antropométricas, laboratoriais, clínicas e comportamentais entre 2008 e 2022.

Foram desconsiderados registros duplicados e participantes sem notas de rotinas de atividade física (incluindo sedentarismo) e de sintomas depressivos, presentes em 9.251 (15.8 %) dos participantes.

Os resultados foram divulgados no final do ano passado na publicação internacional “Journal of Affective Disorders”. No artigo, os pesquisadores encorajam autoridades públicas e clínicas privadas a investirem mais no combate ao sedentarismo para melhora da saúde mental, especificamente da depressão.

“Houve uma forte associação entre atividades físicas e sintomas depressivos. Todos os níveis de atividade foram associados a probabilidades significativamente menores do problema depressivo”, afirmam os pesquisadores, que são integrantes do Instituto Israelita Ensino & Pesquisa de São Paulo (do Hospital Israelita Albert Einstein) e da Universidade Nove de Julho.

O coordenador da análise, Rafael Mathias Pitta, e a autora Luana de Lima Queiroga, ambos profissionais de educação física e pesquisadores do Einstein, destacam que o mais surpreendente do trabalho foi a comprovação do impacto que qualquer atividade física pode causar.

Pitta reforça que até níveis de atividade física considerados insuficientes (acúmulo menor do que 150 minutos na semana, pouco mais de 20 minutos diários com qualquer movimentação corporal) foram associados com redução na probabilidade de desenvolver depressão. “Isso demonstra que pequenas caminhadas ou até mesmo um deslocamento ativo para o trabalho pode ser efetivo na redução do risco de depressão em adultos”, conta o coordenador.

Praticar a atividade ao ar livre, em contato com a natureza ou com alguma companhia também podem potencializar o resultado.

Segundo Queiroga, a prática de poucos minutos de atividade física podem interferir nas decisões ao longo do dia, induzindo, por exemplo, a “melhor alimentação, aumento no consumo de água, melhor qualidade do sono e diminuição do estresse” —a afirmação é baseada em dados publicados pela literatura internacional, como o estudo polonês “The effects of a single aerobic exercise session on mood and neural emotional reactivity in depressed and healthy young adults”, publicado em 2023 na revista Psychophysiology.

.”São fatores que estão altamente relacionados com a depressão”, afirma a pesquisadora.

De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), 14% das mulheres e 7% dos homens têm diagnóstico de depressão no Brasil.

O consultor de negócios Antônio Augusto Xavier, 56, convive com a doença e passou por muitas etapas antes de conseguir uma melhora. Ele conta que considera os exercícios uma parte importante do tratamento.

Com um quadro de depressão iniciado em meados de 2024, Xavier viu a saúde mental afetar seu dia a dia. “Comecei a ter pensamentos negativos, fiquei sem disposição para sair de casa, fui mudando bastante esse lado emocional, não conseguia dormir bem, comecei a não comer da forma correta”, lembra o consultor.

A esposa, com quem está casado há 40 anos, percebeu a mudança de comportamento e deu o alerta de que precisavam buscar ajuda, o que incluiu passagem pelo psiquiatra, medicação orientada e acompanhamento psicológico.

“Fui fazer o acompanhamento e uma das sugestões [da psicóloga] foi o exercício físico. Ela falou que ajudava muito nesse quadro”, diz o consultor

O impacto é tamanho que, segundo ele, quando fica uma semana sem se exercitar em função de viagens de trabalho, o corpo já começa a sentir falta da rotina de exercícios, que incluem academia e futebol. “Tanto a caminhada quanto a academia me trazem esse bem-estar, além de convívio com as pessoas, não ficar dentro de casa”, diz o consultor, que se exercita de quatro a cinco vezes por semana.

Para ele, a soma do apoio da família com os profissionais de saúde e educação física foram fundamentais para seu restabelecimento. “Não é recuperação total, a gente está sempre no acompanhamento, mas com dois, três meses, já foi me tirando dessa crise, me trazendo uma normalidade na qualidade de vida.”