Segundo estimativa do Ica (Instituto Nacional do Câncer), o Brasil deve ter 704 mil novos casos de cancer a cada ano, nos próximos três anos. Até 2025, serão mais de 2 milhões de casos – foto: Igor Stevanovic/Adobe Stok

PATRÍCIA PASQUINI

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em 2012, a professora Vera Lúcia Cavalcanti de Sá, 68, baiana de Salvador, recebeu a pior e a melhor notícia de sua vida.

A rouquidão era frequente. Na época, Vera realizava tratamento com otorrinolaringologista contra refluxo. O problema disfarçava o crescimento de um carcinoma na laringe.

Outros sintomas surgiram, como a sensação de nó na garganta, dificuldade para engolir e facilidade para engasgar.

Um dia, após cuspir sangue, a professora procurou a emergência do Hospital Santa Izabel, na cidade onde mora. Os médicos recomendaram uma broncoscopia. Em fevereiro daquele ano, ela recebeu o diagnóstico de câncer na laringe.

O tumor foi descoberto em estágio avançado, no grau quatro. Ex-fumante há oito anos, na época, Vera Lúcia recusou a cirurgia.

“Tive que assinar um documento, porque não queria operar e ser mutilada. Os médicos queriam tirar a laringe, a faringe… Preferi seguir em frente com o tratamento. Fiz cinco sessões de quimioterapia, 32 de radioterapia e mais duas de quimio, e fui liberada no mesmo ano. Após cinco anos, tive alta definitiva. Na terceira quimioterapia, o tumor já havia diminuído 80%. Não operei e não perdi minhas cordas vocais, onde ele estava alojado”, relata.

Além de exames anuais, a professora hoje faz exercícios físicos, cuida da alimentação, não bebe e nem fuma.

É comum associar a rouquidão a causas mais simples, como gripe, resfriado, refluxo, mau uso da voz, poluição, estresse ou ansiedade, por exemplo. Especialistas afirmam que essa alteração na voz não deve ser subestimada ou negligenciada.

A rouquidão é o principal indício de câncer na laringe, doença cinco vezes mais comum no público masculino, população mais exposta ao fumo e à bebida alcoólica. É predominante na faixa etária acima de 40.

“Basicamente, você tem no tumor de cabeça e pescoço, e particularmente da laringe, a maior causa conhecida de rouquidão”, afirma Artur Malzyner, oncologista do Hospital Albert Einstein e membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.

Segundo Malzyner, os cânceres de pulmão e do mediastino também estão associados à rouquidão prolongada. “Mais de duas semanas é um alerta; mais de um mês é absoluta necessidade de ver um especialista.”

Para cada ano do triênio 2023-2025, o Inca (Instituto Nacional do Câncer) estima 7.790 novos casos no Brasil –6.570 nos homens e 1.220 nas mulheres. Esses valores correspondem a um risco estimado de 6,21 casos novos a cada 100 mil homens e 1,09 a cada 100 mil mulheres.

“A atenção a um simples sintoma, como rouquidão, já seria capaz de aumentar exponencialmente as taxas de diagnóstico precoce no país. O ideal é que qualquer pessoa que apresente um padrão de voz diferente e persistente procure um especialista, como um fonoaudiólogo ou otorrinolaringologista”, afirma o médico Carlos Santa Ritta, vice-coordenador da Comissão de Cabeça e Pescoço da SBCO (Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica).

A rouquidão persistente já pode representar uma lesão na prega vocal e precisa ser avaliada por um exame de videolaringoscopia. Quanto mais precoce é o diagnóstico, maior é a probabilidade de preservar a laringe.

Outros sintomas do câncer de laringe são tosse seca e constante, escarro com sangue, dificuldade para engolir alimentos ou sensação de algo preso na garganta, dor de garganta ou de ouvido persistentes, caroço no pescoço e perda de peso.

“Ocasionalmente pode haver dificuldade respiratória. O ar vem pelo nariz ou pela boca e é inspirado até os pulmões através da laringe. Se a laringe está estreitada por um tumor crescendo, é óbvio que poderá comprometer a capacidade respiratória do paciente”, explica Malzyner.

Thiago Bueno de Oliveira, oncologista clínico e presidente do GBCP (Grupo Brasileiro de Câncer de Cabeça e Pescoço), alerta que o fumo de qualquer produto (cigarro, cachimbo, charuto, narguilé, cigarro de palha, cigarro eletrônico) é um hábito cancerígeno. “Além disso, assim como o tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas também aumenta a probabilidade de tumor na laringe. E o risco aumenta exponencialmente na combinação dos dois.”

O controle do peso e alimentação saudável, principalmente com frutas, legumes e verduras, também são formas de evitar a doença.

O câncer de laringe representa cerca de 25% dos tumores malignos que acometem a região da cabeça e pescoço.

Além de evitar o fumo e o álcool, e controlar o peso, os cânceres de cavidade oral podem ser evitados com boa higiene bucal, uso da camisinha no sexo oral e a vacina contra o HPV.

As estimativas do Inca para cada ano do próximo triênio (2023-2025) apontam para 41 mil novos casos de câncer de cabeça e pescoço.

A mortalidade dos cânceres de boca e laringe é mais alta, principalmente no Brasil onde os diagnósticos são tardios. Se tratados em fase inicial, a chance de cura desses tumores é de 90%. O problema é que 80% dos pacientes já chegam ao diagnóstico e tratamento em fase avançada.

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SINTOMAS

Laringe:

Rouquidão

Dificuldade para engolir alimentos ou sensação de algo preso na garganta

Dor de garganta ou de ouvido persistentes

Caroço no pescoço

Tosse constante

Dificuldade respiratória

Perda de peso sem motivo

Cavidade oral:

Área esbranquiçada na cavidade oral, parecida com uma afta, que não melhora

Mancha vermelha persistente na cavidade oral, que pode sangrar

Ferida na boca que não cicatriza após 15 dias

Perda ou amolecimento de dentes

Nódulo no pescoço

Massa ou nódulo na língua, nas gengivas ou no rosto

Dificuldade para mexer a língua, mastigar ou engolir alimentos

Mau hálito constante

Perda de peso inesperada