SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A CrewAI, startup que desenvolve agentes de inteligência artificial (IA) para automatizar tarefas repetitivas, pode aumentar a produtividade de companhias em até 30 vezes, sem necessariamente substituir seres humanos nos cargos.

É o que afirma João Moura, brasileiro fundador de empresa que atingiu em 2024 US$ 18 milhões (cerca de R$ 100 milhões) investidos por fundos no exterior —incluindo um ligado à família de Sam Altman, CEO da OpenAI.

“As empresas que se saem melhor são as que ainda têm as pessoas como responsáveis pelos resultados. O que se espera é que funcionários consigam fazer mais, porque agora têm agentes trabalhando para eles”, diz Moura em entrevista à reportagem.

A perspectiva de preservação de empregos não é consenso no setor. Especialistas apontam que vagas com tarefas protocolares, como o preenchimento de formulários e atendimento a clientes, serão cada vez mais ameaçadas.

Fundada em outubro de 2022, a CrewAI diz atender mais de 100 clientes empresariais, incluindo parcerias com as gigantes PwC e IBM, e registrar até 400 mil downloads mensais na versão de código aberto de sua tecnologia. Em um único dia, a empresa já teria rodado mais de um milhão de agentes de IA.

Agentes de IA são automações potencializadas por inteligência artificial que, diferentemente dos chatbots tradicionais, podem executar tarefas complexas, com mais de uma ferramenta. “O modelo pondera o que está acontecendo e decide se vai para a direita ou para a esquerda”, afirma Moura.

Um departamento jurídico, por exemplo, pode usar agentes para revisar contratos, fazer cálculos e verificar métricas conforme a legislação, enviando ao time humano apenas para aprovação final. Mas embora os embora os agentes tenham precisões superiores a 90% em muitas tarefas, segundo testes de mercado, ainda é necessário supervisão humana, segundo o dono da plataforma.

“Não temos visto tanto o discurso de cortes de pessoas, e nem creio que esse seja o caminho que terá maior sucesso”, afirma.

No quesito segurança, a empresa oferece diferentes níveis de proteção conforme o plano contratado. O modelo mais caro, chamado Factories, permite que clientes instalem o software em servidores próprios, o que faz com que nem a CrewAI tenha acesso ao que é feito nesses casos. A empresa também diz investir em certificações internacionais de tratamento de dados e segurança.

Questionado sobre a possibilidade de uso indevido da tecnologia, Moura afirma que a empresa monitora as atividades na plataforma, exceto nos planos empresariais mais caros —que custam entre US$ 100 mil e US$ 300 mil (de R$ 570 mil a R$ 1,7 milhão) por ano e são contratados por “grandes empresas renomadas”.

Na versão de código aberto, embora a CrewAI monitore métricas básicas como frequência de utilização e tipos de modelos empregados, a empresa não coleta dados pessoais nem exige cadastro dos usuários, como de praxe nesse tipo de compartilhamento.

“Nesse caso a gente acaba não sabendo quem são ou o que estão fazendo”, diz.

Quando o assunto é a regulação do uso e desenvolvimento de IA no Brasil, Moura defende cautela. O empresário acredita que regras em excesso prejudicam empresas menores, tornando a inovação restrita a grandes grupos de tecnologia.

O plenário do Senado aprovou em dezembro projeto de lei de regulação da IA com previsão de remuneração de direitos autorais para conteúdo usado em treinamento de modelos. O resultado se deu apesar de oposição da bancada bolsonarista, em aliança com as big techs.

O texto foi aprovado em votação simbólica, apenas com o registro das oposições, e agora segue para a Câmara, onde deve enfrentar mais resistência.

Para competir contra gigantes Microsoft, Google e OpenAI no mercado de soluções com IA, a CrewAI diz que oferece a seus clientes de uma plataforma mais intuitiva do que a dos concorrentes.

“Acreditamos que é um mercado de US$ 50 bilhões (R$ 285 bilhões), e a competição é muito bem-vinda. Nosso produto é superior e nosso time mais rápido”, afirma.

O empreendedor brasileiro esteve com Sam Altman há cerca de dois meses, na sede da OpenAI, em San Francisco, em reunião organizada pela Alt Capital, fundo da família Altman que investiu na CrewAI.

O dono da OpenAI teria sugerido a Moura, segundo ele, que a CrewAI focasse na ponta da integração de soluções de IA nas empresas, pois os modelos por trás da tecnologia continuaria melhorando continuamente.

A CrewAI atende principalmente executivos das áreas de inovação e tecnologia de grandes corporações.

Embora não possa identificar clientes por acordos de confidencialidade, Moura indica ter entre clientes brasileiros empresas nos setores de telecomunicações, bebidas e bens de consumo.

A CrewAI opera com apenas 20 funcionários espalhados entre Brasil, Estados Unidos, Reino Unido e Austrália. A companhia utilizou até agora 2,5% dos R$ 100 milhões captados e planeja intensificar investimentos em marketing e eventos após o lançamento público de sua plataforma.