SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O gabinete de segurança de Israel superou divergências e aprovou, nesta sexta-feira (17), um acordo de cessar-fogo com o grupo terrorista Hamas, encerrando um processo de negociação que durou meses.
O colegiado votou o acordo, que entrará em vigor no domingo (19), por um placar de 24 ministros a favor e 8 contrários, de acordo com a imprensa israelense. A reunião durou mais de seis horas.
O encontro do gabinete de segurança estava previsto para acontecer na véspera, mas foi adiada em cima da hora por Netanyahu, que acusou o Hamas de querer mudar os termos do documento no último minuto.
O grupo terrorista tinha negado o relato. Nesta sexta, afirmou que os obstáculos que haviam surgido em relação ao trato foram resolvidos.
Esta primeira fase do cessar-fogo a princípio irá durar 16 dias. Nele, 33 mulheres (civis e militares), crianças, doentes e homens com mais de 50 anos sequestrados pelo Hamas no mega-ataque que deu início à guerra seriam trocados por todas as mulheres e crianças palestinas menores de 19 anos mantidas em prisões israelenses.
Informações obtidas pela agência de notícias AFP dão conta de que as três primeiras pessoas a serem libertadas pelo Hamas seriam mulheres com menos de 30 anos. Em contrapartida, também seria solto “um certo número de prisioneiros importantes” palestinos.
Na etapa seguinte do acordo, será negociada a libertação dos soldados homens israelenses que também estão em cativeiro, 29 segundo as contas do Exército do país.
Por fim, os corpos dos mortos durante o ataque e depois que permanecem em Gaza, 36 de acordo com os cálculos mais recentes, serão devolvidos. No total, o Hamas matou 1.200 pessoas e sequestrou outras 250 no atentado -cerca de 100 já tinham sido libertadas na primeira e única trégua entre as partes, ocorrida cerca de um mês após o início da guerra.
Já Gaza perdeu quase 47 mil pessoas ao longo dos enfrentamentos segundo as contas das autoridades locais, ligadas ao Hamas, e teve praticamente a totalidade de sua população deslocada pela guerra.
Posteriormente será estruturada a administração de Gaza, que era dominada pelo Hamas desde 2007, um processo complexo e ainda incerto, que dependerá muito da vontade do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.
A crise que ameaçava o início do cessar-fogo começou horas depois de a trégua ser anunciada, na quarta (15). Em uma publicação no X, Bibi, como Netanyahu é conhecido, acusou os palestinos de apresentarem de última hora mais uma condição para aprovar o texto: a retirada imediata de forças de Israel do chamado corredor Filadélfia, a fronteira de 17 km entre Gaza e o Egito sob a qual seria feito tráfico de armas para os terroristas.
O acordo negociado previa uma retirada gradual das tropas, em 50 dias. O Qatar, que media as negociações do cessar-fogo ao lado dos Estados Unidos e do Egito, chamou Israel e o Hamas de volta à mesa e, ao fim das conversas, o Estado judeu divulgou uma nota dizendo que, “devido à forte insistência do premiê”, o grupo terrorista tinha abandonado a sua demanda.
Houve quem especulasse que Netanyahu estava jogando para a plateia -mais precisamente, para os ministros da ultradireita religiosa que integram a coalizão que o sustenta. Eles defendem que Israel deveria seguir à risca a sua promessa de só encerrar a guerra na Faixa de Gaza após exterminar o Hamas, objetivo considerado por muitos utópico.
O ministro das Finanças, o radical Bezalel Smotrich, por exemplo, prometeu deixar o governo caso os enfrentamentos não fossem retomados após a primeira fase do cessar-fogo, que no total tem duração prevista de seis semanas. Enquanto isso, o chefe da pasta da Segurança Nacional, o também extremista Itamar Ben-Gvir, ameaçou renunciar se o acordo fosse aprovado, ainda que tenha afirmado que não derrubaria o governo.
A maioria da população é a favor do trato, no entanto. Uma sondagem do Canal 12 publicada em dezembro passado afirmou que 72% dos entrevistados disseram que apoiariam um cessar-fogo que envolvesse a libertação de todos os reféns, enquanto 15% foram contra, e 13% não souberam responder. Vários israelenses se juntaram em uma praça em Tel Aviv à espera das deliberações do governo nesta sexta.
Enquanto isso, centenas de caminhões com alimentos, tendas e outros itens de ajuda humanitária estão em Arish, cidade no Egito a cerca de 48 km da fronteira com Gaza, aguardando o cessar-fogo. A emissora Al Qahera News também indicou que hospitais egípcios estão prontos para tratar palestinos feridos.
O acordo abre caminho para um aumento significativo de envio de suprimentos para o território, devastado pelos bombardeios e assolado pela fome e as doenças.
Rik Peeperkorn, representante da OMS (Organização Mundial da Saúde), afirmou nesta sexta que o trato permitiria a entrada de 600 caminhões em Gaza por dia. É quase dez vezes a média diária de 51 veículos de ajuda humanitária que entraram no território no início deste mês.
“Acredito que a possibilidade está muito presente, especialmente quando outras passagens forem abertas”, disse Peeperkorn à imprensa em Genebra. “Isso pode ser implementado muito rapidamente.”