SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Três advogados de Alexei Navalni, opositor morto de Vladimir Putin, foram condenados pela Justiça da Rússia a penas de até cinco anos e meio de prisão por “atividade extremista” nesta sexta-feira (17).

Igor Sergunin, Alexei Liptser e Vadim Kobzev foram condenados a, respectivamente, 3,5 anos, 5 anos e 5,5 anos de reclusão. Em um comunicado, o tribunal afirmou que Sergunin se declarou culpado das acusações, ao contrário de Lipster e Kobzev.

Os três foram presos em outubro de 2023, quando Navalni ainda estava vivo. Eles foram acusados de participar da organização do opositor, que a Rússia classifica de extremista desde 2021.

Navalni, que morreu repentinamente aos 47 anos em uma colônia penal no Ártico em fevereiro de 2024, foi condenado por extremismo e outras acusações, todas, segundo a defesa, inventadas pelas autoridades para silenciar suas críticas a Putin.

O Kremlin afirmou que não comenta casos judiciais individuais. As autoridades russas classificam Navalni e seus apoiadores, há tempos, como traidores apoiados pelo Ocidente buscando desestabilizar a Rússia.

Os advogados foram denunciados por supostamente transmitir a Navalni informações que poderiam permitir a ele “planejar, preparar […] e cometer crimes extremistas” do momento em que ele foi preso, janeiro de 2021, até sua morte, em 16 de fevereiro de 2024. Estas acusações são puníveis com até seis anos de prisão.

O julgamento teve início em meados de setembro, num tribunal de Petushkí, na região de Vladimir, a leste de Moscou, onde também se localiza uma das prisões que Navalni passou. Após o início da primeira audiência, no dia 12, as sessões decorreram a portas fechadas a pedido do Ministério Público, contrariando os protestos dos advogados de defesa.

Segundo um deles, Roman Karpinski, o processo se baseou em escutas telefônicas realizadas durante as reuniões de Navalni com os seus defensores quando ele já estava preso. Isso constituiria uma “violação do sigilo profissional” por parte da administração penitenciária, que transmitiu essas gravações aos investigadores do caso, disse Karpinski.

No tribunal nesta sexta, uma mulher de heróis chamou os três acusados, que estavam juntos em uma cela com grades, de heróis, e outros apoiadores de Navalni os aplaudiram após a sentença.

Iulia Navalnaia, viúva de Navalni e exilada, afirmou na rede X que os advogados condenados são “prisioneiros políticos e devem ser libertados imediatamente”. Ela acrescentou que as gravações do processo foram feitas pelas autoridades e entregues à sua equipe depois que ela ofereceu uma recompensa para as pessoas que dessem informações sobre a morte do marido.

Ela diz que seu marido foi assassinado por ordens de Putin, uma acusação que o Kremlin nega veementemente. A própria Navalnaia é procurada por suposta atividade extremista, mas disse que espera retornar ao país um dia e concorrer à Presidência.

Os governos do Reino Unido, Alemanha e Holanda aderiram ao pedido de libertação dos advogados. Por sua vez, a Anistia Internacional denunciou uma “tentativa vergonhosa de silenciar aqueles que ousaram defender Alexei Navalni”.