SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A Polícia Civil de Pernambuco investiga a morte de uma criança de 4 anos que morreu em dezembro de 2024 em um hospital particular no Recife após receber seu primeiro atendimento médico para tratar uma amidalite.
A família da vítima acusa a Unimed de Recife de ”sucessivos erros” e ”negligência médica”. No dia 9 de dezembro do ano passado, a menina Bruna Brito Barbosa de Araújo deu entrada em uma unidade da rede com dores na garganta e recebeu o diagnóstico de amidalite.
A médica responsável pelo atendimento teria prescrito benzilpenicilina benzatina, o Benzetacil. Apesar dos pais terem informado a profissional que a filha havia criado certa resistência ao antibiótico, a mulher pediu para que esperassem cerca de três dias para o medicamento fazer efeito.
Quadro de saúde de Bruna se agravava e pais resolveram retornar ao hospital outras vezes. ”Voltamos para casa e assim foram quatro dias de idas e vindas, no qual a gente insistia que o quadro dela não era normal, que era para ser investigado”, contou a mãe, Gabriella de Brito Silva, em vídeo nas redes sociais ao lado do marido nesta quarta-feira (15).
Três dias depois, a menina foi encaminhada para a urgência de otorrinolaringologia da Unimed. Desta vez, o médico que atendeu a criança solicitou uma tomografia com contraste e sedação para avaliar a situação do pescoço dela.
“Chegando lá, a Bruna já estava sem comer, sem beber água, prostrada, não fazia mais nada, eu via que ela tinha muita dor na garganta. É muito difícil para uma mãe ver o filho sofrendo desse jeito”, disse Gabriella de Brito Silva.
Durante a sedação para o exame, Bruna teve laringoespasmos. Com contração das pregas vocais bloqueando o fluxo de ar para os pulmões, a criança enfrentou dificuldade para respirar, teve a saturação de oxigênio diminuída e precisou receber ventilação mecânica.
Anestesista teria informado aos pais que Bruna não poderia ter feito o procedimento. ”Ficamos chocados na hora, como assim Bruna não poderia ter feito esse exame? Depois de terem feito o exame. Era pra ter dito isso antes”, falou a mãe.
MORTE DURANTE TRANSFERÊNCIA PARA UTI
A família contou que Bruna morreu ao dar entrada na UTI pediátrica do hospital no dia 13 de dezembro. Ao chegar ao prédio da UTI, não havia vaga disponível para a menina, que passou por uma intubação enquanto aguardava por um leito.
No momento da transferência, pais ouviram um barulho alto e som de um cilindro de gás vazando. Família acredita que menina tenha sido derrubada enquanto era trocada de uma maca para outra. ”E nesse momento, a doutora se desesperou também e fechou a porta pra gente não ver o que estava acontecendo. Ali, a gente já sabia que tinham acabado com tudo, que fizeram algo que acabaria com tudo”, relatou.
“Nessa hora de transferir de uma maca para outra, a gente escuta um barulho, um grito de uma das enfermeiras, dizendo ‘doutora, o que é isso, doutora?’ e um estouro muito grande de oxigênio. Depois saiu uma enfermeira com sangue na roupa”, disse Gabriella de Brito Silva.
Equipe fez manobras de ressuscitação na paciente, mas ela não sobreviveu. ”Depois de um certo tempo, vem a médica, assim, aquele momento de filme e com aquela cara. Ela veio dizer ‘Bruna não está bem, reze por ela’. Só que ali, Bruna já tinha morrido”, afirma Gabriella.
CAUSA DA MORTE É INVESTIGADA
Inicialmente, o hospital informou que a causa da morte havia sido hemorragia pulmonar. Aos pais, os médicos também negaram que a menina tenha sido derrubada da maca.
Após semanas da morte, prontuário da unidade indicou que a paciente estava com pneumonia. ”Como é que Bruna estava com pneumonia se a gente estava lá no hospital segunda, terça, quarta, quinta, e não deram esse diagnóstico? Pelo contrário, todos os dias escutavam o pulmão de Bruna”, questionou a mãe.
“São muitas camadas, muitas coisas aconteceram, foram muitos erros. Foi erro do pequeno para o maior, de uma equipe inteira, a Unimed inteira, por isso eu atribuo tudo isso à Unimed. Uma instituição que não tem rigor nenhum para um profissional que mexe com a saúde e com a vida das pessoas”, disse Gabriella de Brito Silva.
O IML (Instituto Médico Legal) de Recife realizou uma perícia tanatoscópica na vítima. O laudo foi encaminhado para as autoridades policiais que estão responsáveis pela investigação. Pais ainda não tiveram acesso ao resultado.
O QUE DIZ A UNIMED
Em nota, a empresa diz lamentar profundamente a perda da paciente. A Unimed também chamou de ”inverídica” a informação de que a paciente faleceu em decorrência de uma perfuração pulmonar ocorrida durante o procedimento de intubação.
A direção afirmou que todas as informações solicitadas pela família e pelas autoridades competentes estão sendo fornecidas. ”A Unimed esclarece que toda a assistência foi prestada pela equipe multidisciplinar composta por médicos, enfermeiros, técnicos e demais profissionais, e que todos os procedimentos realizados durante o atendimento à paciente foram pautados nas melhores práticas de medicina baseadas em evidências”, escreveu.