BRASÍLIA, DF E WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – No mesmo dia do anúncio do acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza entre Hamas e Israel, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o eleito, Donald Trump, disputaram o crédito pela trégua.

Antes mesmo da divulgação oficial do trato, Trump escreveu em sua rede social Truth que houve êxito na negociação e vinculou o sucesso com sua vitória eleitoral, ocorrida em novembro. O republicano assume a Casa Branca na próxima segunda-feira (20).

Biden, por sua vez, adotou tom conciliador ao dar entrevista para anunciar o cessar-fogo, mas afirmou mais de uma vez que os termos do acordo são os mesmos que o seu governo havia proposto em maio do ano passado.

Ele ressaltou que a negociação se deu com a equipe atual e a futura. “Nos últimos dias, nós temos conversado como um mesmo time”, afirmou o democrata. Questionado se o crédito pelo desfecho seria seu ou de Trump, Biden respondeu: “Isso é uma piada?”

As declarações de Biden ocorreram por volta das 16h (horário de Brasília). Antes, Trump já havia anunciado o acordo e o chamado de épico. O republicano ainda mencionou uma eventual expansão dos Acordos de Abraão e disse que os EUA irão “continuar promovendo a paz através da força”.

“Este acordo de cessar-fogo épico só poderia ter acontecido como resultado da nossa histórica vitória em novembro porque alertou ao mundo todo que minha administração vai buscar a paz e negociar acordos para garantir a segurança de todos os americanos e de nossos aliados. Estou empolgado com o retorno de reféns americanos e israelenses para suas casas”, escreveu Trump em sua rede social.

O acordo aprovado pelas duas partes do conflito na Faixa de Gaza foi mediado pelos EUA, ainda sob o governo de Joe Biden, pelo Qatar e pelo Egito. Detalhes do pacto, que foi adiantado por negociadores e agências de notícia antes de ser formalmente divulgado, ainda serão detalhados pelo premiê e chanceler do qatari, Mohammed al-Thani.

“Com este acordo, meu time de segurança nacional, pelos esforços do enviado especial ao Oriente Médio, Steve Witkoff, vai continuar a trabalhar de perto com Israel e nossos aliados para assegurar que Gaza nunca mais se torne um porto seguro para terroristas”, escreveu o presidente eleito.

“Continuaremos a promover a paz através da força na região enquanto aproveitamos o momento do cessar-fogo para expandir os históricos Acordos de Abraão. Este é apenas o começo de grandes coisas que virão para os EUA e para o mundo. Alcançamos muito mesmo não estando na Casa Branca”, acrescentou ele.

Os Acordos de Abraão foram pactos firmados com mediação de Washington sob Trump, em 2020, que normalizou as relações entre alguns países árabes e Israel. Na ocasião, Emirados Árabes Unidos e Bahrein assinaram o texto, juntando-se a Egito e Jordânia como nações árabes que reconhecem Israel como Estado. A Arábia Saudita estava em processo de negociação quando o conflito em Gaza estourou.

Biden afirmou que este é o “fim permanente da guerra” e foi ameno na disputa pelo crédito do êxito, ao contrário de Trump. O democrata disse que o acordo foi negociado e fechado durante a sua gestão, mas que ele está ciente de que será colocado em prática durante o próximo mandato.

Provocado depois sobre a tentativa de Trump de se sobressair na negociação, Biden afirmou: “Eu pedi para que o meu time costurasse de perto o acordo com a equipe de Trump porque é isso que os presidentes fazem”.

O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, por sua vez, divulgou nota confirmando o acerto, mas disse que ainda há “itens do arcabouço” que deverão ser finalizados. O texto precisa ser aprovado por membros de seu governo, alguns deles contrários ao acordo.

Mais tarde, o premiê agradeceu tanto Biden quanto Trump. Segundo a equipe de Netanyahu, o líder israelense conversou por telefone, separadamente, com o democrata e o republicano.

A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, publicou no X pedindo que seja aproveitada a oportunidade para libertação dos reféns e fim das mortes de palestinos. “Nestas horas há esperança de que os reféns sejam finalmente libertados e que as mortes em Gaza cheguem ao fim. Todos os que têm responsabilidades devem agora garantir que esta oportunidade seja aproveitada”, escreveu.

O chanceler da Turquia, Hakan Fidan, afirmou a jornalistas em Ancara que o acordo é um passo importante para a estabilidade da região. Ele ressaltou que a Turquia continuará com esforços pela solução de dois Estados na região, um judeu e outro palestino.