RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – Michael entrou na entrevista coletiva na pré-temporada do Flamengo nos Estados Unidos dizendo que estava aprendendo árabe e se virava no inglês. Entre brincadeiras e muita sinceridade, o atacante valorizou o amadurecimento dos últimos anos. Durante as falas, enalteceu o técnico Filipe Luís várias vezes, comentou sobre o processo de terapia e admitiu que teve dificuldades de voltar a ter vontade de vencer. Agora, recuperou a motivação que precisava para ajudar o Fla em 2025, mesmo que não seja como titular.
“Ganhar não é difícil, mas estar todos os anos disputando para voltar a ganhar é muito difícil. Pegar um grupo, estafe e comissão que quer estar todos os anos ganhando é difícil. E o bom dessa comissão é que estão trabalhando com o mesmo desejo de jogadores novos: ganhar sempre. Treinos diferentes, estratégias diferentes, mas com os mesmos conceitos. Fiquei recentemente com dificuldade, foram dois títulos que não comemorei. A Supercopa de lá e a Copa do Brasil. Não estava conseguindo comemorar porque estava cansado, o corpo cansado. E pega essa comissão agora que te motiva e despertou em mim de novo uma vontade de estar sempre ganhando. Será uma partida difícil, equipe bem treinada. Espero que a gente possa se dedicar para ganhar. É um jogo difícil, temos de respeitar e saber que do outro lado tem uma grande equipe. Céu e o inferno é muito curto. Temos que dar nosso melhor e tentar superá-los.”
“Não penso em ser titular. Não penso em querer ser o melhor, o líder de assistência, artilheiro. A única coisa que penso é ganhar. Se tiver que ficar no banco, não jogar, mas ganhar, vou ficar muito satisfeito. Tinha perdido um pouco esse desejo, mas o que quero nesta quarta-feira (15) é ganhar. Quando pensa no eu, limita muito. O ego é o que mais pode prejudicar. Quero sempre ganhar e lutar para ser melhor. Tenho que ser importante para a equipe, tenho que ter uma qualidade. E sei o que posso ou não posso fazer. Tenho limitações, reconheço e potencializo o que tenho de bom. Quero só ganhar e ajudar o Flamengo a estar sempre ganhando nem que para isso eu precise estar no banco aplaudindo.”
Em 2020, Michael superou uma depressão, que continua tratando desde então. O jogador admitiu ter passado por momentos difíceis ainda no Al-Hilal e deu um conselho a todos: façam terapia.
“Meu coração está em paz. Não fiquei velho, eu estou quase velho mesmo, mas fiquei mais maduro. O conselho que eu daria para mim com 20 anos é: faça terapia porque vai ajudar. Teve um momento no Al-Hilal que eu queria ir embora, estava fechado com outro time. Foi quando minha mãe e minha avó morreram, em 30 dias perdi duas pessoas queridas. Fiquei mal. Falei para o presidente que queria sair e eles falaram que eu não ia, que iam me ajudar. Falei “não posso ficar aqui como estou, não consigo render”. E mentalmente eu estava mal. Fazia terapia, mas não adiantava. Pedi para trazer meu psiquiatra para trabalhar comigo. Ele saiu do Brasil, foi para a Arábia, ficou três semanas comigo, ajudou meu estafe, minha família. Teve o cuidado, e isso me amadureceu muito, de falar que eu podia continuar. Confio que vai melhorar. Esse trabalho mental esforço dos outros em querer me ajudar, sempre fui muito ajudado. Sou abençoado por ter pessoas que querem me ajudar. Único conselho que dou aos jovens é: faça terapia. Não é ganhar dinheiro que acaba o problema, vai dobrar. Então, faça terapia, se cuidem. Antes de querer jogar e ganhar dinheiro se prepare para isso. nesta quarta-feira (15) estou pronto para jogar e lidar com as emoções que o futebol dita. Estou mais maduro e feliz por ter desfrutado de cada momento que vivi. Se tiver que fazer de novo eu faria de novo, tiraria alguns erros, mas faz parte do aprendizado.”
O QUE MAIS ELE DISSE?
Filipe e Jesus: “Quando cheguei no Flamengo eu peguei a bola, toquei para trás e o Jesus falou: “foda-se, pá. Se fosse para tocar para trás eu tinha buscado outro, caralho”. Ele pediu para pegar a bola e ir para frente, sempre a frente. Se não der, para trás. Isso alimentava a energia do jogador mais jovem de sempre atacar. E muitas vezes eu tomava decisões precipitadas. Chegava na cara do gol com as pernas cansadas, chutava de qualquer jeito, queria driblar e perdia a bola. Com o tempo aprendi a saber os momentos que dá para ir. Trabalhei com o Jesus agora e estava totalmente diferente. Lá eu não era melhor que ninguém, mas ele me deixava em uma posição mais vantajosa e eu não ia em todas. Sabia ir e voltar um pouco. A diferença com o Fili é que ele está mais novo e quer ganhar, igual o velho. Vê os treinos e muitos não são iguais, mas tem fundamentos parecidos com o Mister. Mas uma coisa é igual: a mesma vontade de vencer, ganhar títulos, construir histórias. O Filipe já foi um puta atleta e agora quer ser como treinador. É a mesma vontade do velho. Estávamos ganhando e ele queria todo dia mais. Fico vendo o Fili todo dia levando para a parte mental, físico, é o mesmo. Se continuar do jeito que está vai ser tão vitorioso ou mais. Ele não é o dono da razão, é apto a ouvir. E quando as pessoas são aptas a ouvir, elas são tardias ao falar. Então se equivocam menos e aprendem mais. É um ponto que gosto muito dele”
Finalização: “Quando eu cheguei o time já estava totalmente adaptado, bem treinado. Mas todo clube vai ter uma falha. Não é de não finalizar, às vezes queremos limpar para ter espaço, entendemos uma jogada que outros não entendem. Sempre pego a bola e tento um passe, o chute é o último plano. Prefiro compartilhar com os colegas. O Filipe também preza e eu fui acostumado lá atrás ao que importa é a equipe. Importa ganhar, não eu fazer o gol. Se eu marcar e perdermos, não adianta. O Filipe quer sempre mais, fazer um, dois, três. Já era como atleta e agora como treinador. Quando quer ele estimula a todos quererem mais. Fico feliz de desfrutar dessa pré-temporada com ele e meus colegas. Espero aprender um pouco mais a cada dia”
Torcedor pode esperar mais? “Eu estava vindo de uma pré-temporada e tinha acabado de ser campeão da Supercopa. Nessa pré-temporada eu já estava com algumas dores que não preciso falar os lugares. O meu combinado com o pessoal que estava lá era jogar a final e depois estava liberado para sair. Fui porque queria e precisava ajudá-los. O clube me ajudou de maneira muito grande. Foi um clube que eu não era parente de ninguém, nem conhecia o idioma. O Al-Hilal sempre me acolheu e eu queria sair bem, falando que não tenho mágoa com ninguém e nem deixei mágoa no coração de ninguém. Joguei a final e saí. Quando vim para cá, peguei uma viagem longa, cansativa. Em três, quatro dias já joguei. Não tive tempo de me preparar realmente. E tudo bem, se tiver que fazer de novo eu faço. Nas minhas limitações entreguei o que podia. Achei que nem jogaria a final por conta do cansaço, mas joguei. Ajudei a equipe. No final da temporada o Fili me deixava fora algumas partidas para me recuperar e começar a melhorar. Tive uma lesão grau 2 para 3. Ele teve um cuidado comigo e agradeço muito isso. O que posso falar é que vou me dedicar para dar o meu melhor.”
Grupo atual: “Energia boa. Trabalho com cada um querendo ser o melhor de si. Faz a competitividade ficar mais forte, aumenta o desenho de ganhar”
Filipe Luís treinador: “A pessoa quando é sincera ela já ajuda todo mundo. Um treinador não tem que querer ser amigo ou agradar, tem que fazer o que é certo. O bom do Fili é isso. Não precisa colocar ninguém para jogar, coloca quem ele acha que é melhor para a equipe. E ele já pensa como equipe, não sou eu, é o nós. Isso me dá coragem de falar que só preciso dar o meu melhor. Vai jogar quem está melhor. Isso é maravilhoso. Quando saí ele já era como treinador. Falava, se dedicava, estudava. Direto ele falava que tinha todos os treinos de técnicos que já passou. Ele já estava se preparando. no jogo ele falava direita ou esquerda e eu já sabia que tinha que marcar. Já tinha o feeling de treinador. Espero que possa ser um ano abençoado para nós e ele possa experimentar coisas novas e possa nos capacitar com estratégias de jogo. Que possamos ganhar e seja vantajoso para todos. Quero muito o bem dele. Merece ganhar e continuar ganhando”
Amistoso: “O jogo a comissão vai assistir, passa para nós. Vou primeiro focar no truco que é importante e não podemos perder, não. Vai ser legal desfrutar dessa partida. Ganhar queremos ganhar até no par ou ímpar, dominó. Enfrentar os ex-companheiros que estão no Cruzeiro no futuro, eu já enfrentei alguns, até o Flamengo mesmo. Ali fora tem sentimento, gosta, mas dentro de campo que chore a mãe deles. A minha não pode. A minha já até morreu, né, mas que chore a dos outros. Não posso querer só o melhor deles”
Ambiente nos EUA: “Um clube é bom ter jogadores novos, aqueles mais experientes e até no meio termo. É um grupo legal, todos em sintonia. É muito difícil ter um grupo que se gosta o tempo todo. Aqui não vou falar que todo mundo se ama, mas todos se respeitam e querem a mesma coisa. 70%, 80% está junto toda hora, brincando e se divertindo. É difícil ver um grupo assim. Não é uma família, mas é um grupo que se gosta. É bom”
Necessidade de centroavante: “Flamengo em 2019, 2020 teve o Gabi. Se não me engano é um dos maiores goleadores do clube. Moleque que é novo, mas tem uma história brilhante, fez muito pelo clube e o clube muito por ele. Teve o Pedro que também fez muito depois. O Flamengo teve sempre bons atacantes. Agora teve a lesão do Pedro, Gabi saiu, mas futebol é assim. Você vai se mexendo e encontrando outros. Tenho certeza que o Filipe vai achar alguém, vai dar opções e confiança para ele fazer gols e ajudar todos nós durante o ano. Quem será? Não interfiro. O que posso fazer é dar ajuda e dar o meu melhor para ele. Quem jogar ali vai dar o melhor. Se querem referencias de nomes, isso não posso dar.”