SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Enquanto países como México, Chile, Colômbia e Peru deverão fechar 2025 com déficits nominais abaixo de 4%, o Brasil verá suas contas negativas crescendo, chegando ao equivalente a 8,6% do PIB (Produto Interno Bruto) ao fim deste ano, projeta o BTG Pactual.
O déficit nominal é o resultado das receitas do governo menos as despesas -incluindo o pagamento de juros da dívida pública. O número indica o resultado fiscal total.
O déficit nominal, segundo o banco, será puxado pelo aumento no pagamento de juros -de 7,5% do PIB, em 2024, para 8% em 2025- e pela piora nas contas do governo central, que considera Tesouro Nacional, Previdência e Banco Central. Em 2023, o déficit nominal fechou em 8,8%, e em 4,6% no ano anterior.
Com base em dados do Banco Central e do FMI (Fundo Monetário Internacional), o BTG Pactual projeta que o Brasil fechará 2025 com o 2º pior déficit nominal entre 23 países emergentes, de renda média e economia desenvolvidas.
Em 1º lugar estará a Bolívia, que também ocupou o topo em 2023 e 2024. Ao contrário do Brasil, porém, o país vizinho vem reduzindo seu déficit nominal, que foi de 10,9% em 2023 e deverá ser de 10,4% em 2024. Para este ano, o BTG calcula que ficará em 9,7%.
Entre os países latino-americanos analisados pelo banco, o Brasil será o único a registrar piora nessas contas entre 2024 e 2025.
O BTG Pactual também calcula que o déficit nominal médio do atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2023-2026) ficará em 8,2% do PIB. O resultado marcará um novo ciclo de alta, depois do recuo entre 2019 e 2022, período da gestão de Jair Bolsonaro (PL).
O risco fiscal em 2025 ainda será elevado, segundo a análise do banco, para quem a meta de resultado primário em 2024 ainda será cumprida graças a uma economia mais forte do que o previsto inicialmente e à entrada de receitas extraordinárias.
Para este ano, porém, o cumprimento depende, na avaliação dos economistas do BTG, de muitas receitas incertas, como a arrecadação de tributos via voto de desempate no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), o aumento de Imposto de Renda sobre JCP (Juros sobre Capital Próprio).
Há ainda dúvidas sobre a efetividade do pente-fino em benefícios sociais e previdenciários. Se o governo economizar R$ 26 bilhões com esses pagamentos, o atual limite de despesas será cumprido, prevê o banco.
“Em nossa visão, o principal obstáculo para a agenda de revisão de gastos será a coordenação entre diferentes ministérios”, diz o BTG em relatório.
A análise do banco também aponta preocupações com o arcabouço fiscal, devido ao que consideraram um aumento no volume de exceções, com os gastos extraordinários com o Rio Grande do Sul (o socorro ao estado após dias de enchentes) e os precatórios mantidos fora da meta.
A reforma do Imposto de Renda, que deverá ser enviada pelo governo Lula neste ano, também é vista com ressalvas devido ao risco de o Congresso desidratar os impactos projetados pelo Ministério da Fazenda.
O governo prevê levar a isenção do IR a R$ 5.000, que seriam compensados pela criação de alíquota efetiva de 10% para contribuintes de alta renda.
“Adicionalmente, com a provável desaceleração do crescimento, aumenta o risco do surgimento de novas medidas de estímulo”, conclui o banco.