PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – A Polícia Civil do Rio Grande do Sul investiga se Deise Moura dos Anjos pode estar envolvida em mais casos de envenenamento.
Ela é suspeita de ter envenenado com arsênio umbolo que deixou três mortos em uma confraternização familiar em dezembro em Torres, no litoral norte do estado.
“As investigações seguem para saber se ela tem envolvimento com alguma outra morte que tenha ocorrido eventualmente na família”, disse à Folha a delegada regional de Capão da Canoa Sabrina Deffente, uma das responsáveis pelo caso.
Dentre as mortes suspeitas está a de José Lori da Silveira Moura, pai de Deise, que faleceu em 2020, aos 67 anos, com causa atribuída à cirrose. “A gente verifica a viabilidade de, se essas suspeitas se transformarem em indícios suficientes que possam levar a ela [Deise], a gente solicitar outras perícias, como aconteceu com o sogro”, disse Sabrina.
Deise está presa desde o dia 5 de janeiro, suspeita de triplo homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e uso de veneno. Depois, se tornou suspeita da morte do sogro Paulo Luiz dos Anjos, que morreu em setembro, após a exumação do corpo apontar a presença de arsênio no organismo.
O Instituto-Geral de Perícias (IGP) do Rio Grande do Sul também vai analisar alimentos levados por Deise para a sogra, Zeli Teresinha dos Anjos, quando ela ainda estava internada no hospital, para identificar a possível presença de arsênio.
Zeli não chegou a consumir os alimentos, que incluíam um suco de uva, um pastel, barras de cereal e outros lanches. Não há prazo para a conclusão das análises.
A investigação ainda apura como ocorreu a compra do arsênio, que tem venda controlada no Brasil. Ainda não há confirmação sobre a identidade do fornecedor que fez a venda para Deise, mas a polícia já identificou uma nota fiscal de compra em um celular dela.
“Ela tentou adquirir pela internet por quatro vezes. Duas vezes a gente tem a certeza de que esse veneno foi comprado e entregue, e as outras duas vezes estamos tentando verificar se a compra foi concluída”, disse Sabrina.
Deise foi ouvida pela primeira vez como testemunha, antes de a polícia obter indícios de que ela poderia estar envolvida no caso.
“Após a prisão temporária, ela não foi ouvida novamente porque constituiu advogado”, explicou Sabrina. Uma nova intimação deve ser feita, na presença da defesa. “Essa oitiva ainda não foi agendada, porque a gente tem um certo prazo e quer colher outras provas antes.”
A farinha contaminada com arsênio foi utilizada no preparo do bolo servido durante uma confraternização familiar em 23 de dezembro.
Seis pessoas consumiram o bolo, resultando em três mortes: Maida Berenice Flores da Silva, de 59 anos, Neuza Denize Silva dos Anjos, de 65 anos, e Tatiana Denize Silva dos Anjos, de 47 anos, respectivamente irmãs e sobrinha de Zeli.
Um menino de 10 anos, filho de Tatiana, também ingeriu o bolo e chegou a ser internado, mas recebeu alta pouco depois. Zeli recebeu alta hospitalar na sexta-feira (10), após três semanas de internação.
A investigação policial revelou que Zeli estava encarregada de preparar um bolo para um chá com mulheres de uma associação da terceira idade na cidade de Arroio do Sal, que ocorreria dias antes do encontro familiar. No entanto, o chá acabou sendo cancelado.