SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Apontada como responsável por envenenar e matar dois irmãos pequenos com cajus em Parnaíba (PI), Lucélia Maria da Conceição Silva, 52, afirmou que recebeu ameaças de morte na prisão. Ela ficou detida por cinco meses até a última segunda-feira (13), quando foi solta provisoriamente após determinação da Justiça do Piauí.
Suspeita deixou a Penitenciária Feminina de Teresina após solicitação do Ministério Público para que sua prisão fosse revogada. O pedido do MP se deu depois que um laudo do Instituto Médico-Legal, liberado na última quinta-feira (9), descartou a presença de veneno nos cajus consumidos pelas crianças antes de morrerem. Segundo as acusações iniciais, as frutas, supostamente envenenadas, teriam sido oferecidas a elas por Lucélia, que era vizinha das vítimas à época.
Resultado da perícia foi liberado um dia após a prisão do padrasto da mãe das crianças envenenadas. Francisco Assis da Costa é apontado como o principal suspeito de envenenar um baião de dois que matou quatro pessoas da família no dia 1º de janeiro.
Lucélia contou que ouviu ameaças de que teria a cabeça “cortada” quando estava presa. O relato da piauiense foi feito à emissora TV Clube, sediada em Teresina, na última terça-feira (14).
“Disseram [na prisão] que tinha uma única cabeça sobrando, que era a minha, [diziam que] iriam cortar a minha cabeça. Eu ouvi isso lá e ouvi pelas redes sociais também (…) que se me encontrassem na rua iriam me matar”, disse Lucélia Maria da Conceição Silva, em entrevista à TV Clube.
Ela relatou que sentiu medo e “nunca mais” voltou a dormir bem. “Desde que aconteceu isso na minha vida, nunca mais consegui dormir direito. O pesadelo ainda hoje tá na minha cabeça”, contou Lucélia, emocionada.
Suspeita afirmou ainda que não conhecia as crianças. Questionada se não teria oferecido as frutas do seu quintal aos irmãos envenenados, ela afirmou ainda: “De jeito nenhum, (…) nunca [os] conheci”.
Apesar da liberdade provisória, Lucélia não poderá voltar para casa em Parnaíba. O local foi depredado e incendiado por vizinhos na época da repercussão do crime. Ainda à emissora piauiense, Lucélia contou que, quando sua residência começou a ser depredada com pedras pelos moradores da região, ela e sua família estavam dentro de casa. “Eles começaram a depredar comigo ainda dentro. (…) Agradeço muito a Deus que a polícia chegou no momento, se não, teriam morrido eu, meu filho e meu marido”, disse à emissora.
“Passei por muito sofrimento esse tempo todo. (…) Só quem acreditou em mim foi o meu advogado e a minha família. De resto, ninguém acreditava”, disse Lucélia Maria, à TV Clube.
UOL tentou contato com a defesa de Lucélia, mas não teve retorno. Em entrevista coletiva na segunda, o advogado da acusada, Sammai Cavalcante, ressaltou que ela sempre se declarou inocente e que, após deixar a prisão, seria acolhida na casa de familiares. Um dia depois, à TV Clube, ele afirmou estar “confiante ao extremo” de que Lucélia, hoje em liberdade provisória, será absolvida pelo poder judiciário do Piauí.
O QUE DIZEM AS INVESTIGAÇÕES
Perícia constatou que as vítimas, João Miguel da Silva, 7, e Ulisses Gabriel da Silva, 8, foram envenenadas com a mesma substância utilizada no arroz que matou outras quatro pessoas da família em 1º de janeiro. Segundo a polícia, na madrugada do Réveillon, o padrasto da mãe das crianças mortas em agosto contaminou o arroz com chumbinho e, na manhã seguinte, insistiu que o arroz fosse servido no almoço familiar.
“Ainda não há um elemento que o coloque diretamente na cena do crime, mas já há informação de que aquelas crianças teriam ingerido outro alimento que não o caju. Ou seja, há um fato novo e, havendo um fato novo, é preciso que se analise toda essa circunstância”, disse Silas Sereno Lopes, promotor de justiça, ao Fantástico.
Em depoimento, Francisco contou à polícia que sentia raiva da enteada Francisca, que era a mãe de João Miguel e Ulisses Gabriel. “Quando eu passava por ela, eu sentia às vezes até nojo. Eu olhava pra ela assim, com um pouco de raiva assim, de rancor, com uma cara ruim às vezes”.
Suspeito também fez comentários preconceituosos sobre a família. “Era como se eu tivesse tentando civilizar uma gente, uma civilização de índio. Primata, sabe?”, disse em depoimento, conforme divulgado pela Polícia Civil.
Polícia acreditava que Lucélia tinha entregado cajus envenenados para meninos. Na época, vizinhos a agrediram e relataram à polícia que ela tinha conflito com várias pessoas. Ela sempre negou o crime.
Lucélia foi denunciada em agosto do ano passado pelo Ministério Público por duplo homicídio qualificado, com audiência marcada para 23 de janeiro. Após a divulgação do laudo, o próprio MP pediu a revogação da prisão.