SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma carta do presidente afastado da Coreia do Sul Yoon Suk Yeol foi publicada na sua página no Facebook nesta quarta-feira (15), horas depois de o líder ser preso para interrogatório.
Nela, Yoon faz um elogio ao próprio governo e defende a declaração de lei marcial que motivou seu impeachment. Segundo ele, a medida um autogolpe que buscava suspender os direitos políticos no país foi uma “escolha difícil” que tinha tinha como objetivo “proteger a soberania e restaurar a ordem”.
“Foi uma resposta necessária para garantir que nossa democracia e o governo funcionassem adequadamente durante este período turbulento”, afirma o líder no texto, acrescentando que a atuação dos militares após o decreto “foi limitada e precisa” e não violou princípios constitucionais.
“Muitos dizem que fui tolo por não ceder ou buscar o caminho mais fácil”, prossegue. “Embora críticas à minha ação sejam válidas, é importante entender que, quando a integridade da nação e a estabilidade política estão em jogo, precisamos agir com firmeza.”
Ao anunciar a lei marcial, Yoon justificou-a com a acusação fantasiosa de que a oposição estava “travando o funcionamento do país” sob orientação da Coreia do Norte, com quem Seul vive um estado de guerra congelado desde o armistício que encerrou três anos de combates e dividiu a península coreana em 1953.
Deputados do bloco contrário ao dele vinham bloqueando a aprovação da lei orçamentária de 2025 no Congresso e pedindo o impeachment de procuradores nomeados pelo governo.
“Eu declaro lei marcial para proteger a livre República da Coreia da ameaça das forças comunistas da Coreia do Norte, para erradicar as desprezíveis forças antiestatais pró-Coreia do Norte que estão pilhando a liberdade e a felicidade do nosso povo, e para proteger a ordem constitucional”, disse Yoon.
Durante o breve período em que a lei vigorou, tropas tentaram invadir a Assembleia para impedir que ela fosse votada. A investida fez o prédio ser palco de embates entre assessores munidos de extintores de incêndio e os militares, numa amostra do caos no qual o país mergulhou após o decreto. Houve invasão de salas, e janelas foram quebradas.
Além disso, as forças disseram ter recebido ordem de retirar parlamentares do plenário e autorização para disparar para entrar no local se necessário.
As determinações a princípio foram atribuídas ao ex-ministro da Defesa Kim Yong-hyun, que renunciou no dia seguinte à lei marcial e assumiu “total responsabilidade pela confusão”, tendo sido preso logo em seguida. Mas um comandante do Exército disse depois que elas tinham partido do próprio presidente afastado.
Yoon também teria ordenado ao chefe de contraespionagem da Defesa, general Kwak Jong-keun, que entrasse rapidamente na Câmara para retirar à força os presentes, aproveitando-se do fato de que o quórum necessário para suspender a lei marcial não havia sido alcançado. “Arrombe as portas com um machado, se necessário, e arraste todos para fora”, teria dito o então presidente.
A despeito da ação dos militares, os deputados conseguiram se reunir naquela mesma noite e derrubar a lei marcial em uma votação. Dias depois, aprovaram o impeachment de Yoon. O Tribunal Constitucional agora julga a validade da decisão, e tem 180 dias para determinar se removerá o presidente afastado do cargo ou restaurará seus poderes.
A prisão de Yoon nesta quarta se deu no âmbito de uma ação paralela, no entanto. Chefiada pelo gabinete anticorrupção do país, ela investiga se ele cometeu insurreição ao declarar lei marcial. O crime é um dos poucos contra os quais um presidente sul-coreano não tem imunidade, e pode levá-lo a ser condenado à prisão perpétua ou mesmo pena de morte, embora o país não execute ninguém desde 1997.
O presidente afastado deveria ter prestado depoimento, mas ficou em silêncio e não respondeu aos investigadores ao ser levado a seu escritório.