SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em uma sabatina tensa no Senado dos Estados Unidos, o indicado do presidente eleito, Donald Trump, para o Departamento de Defesa, o ex-militar e ex-apresentador da Fox News Pete Hegseth, recusou-se a responder se cumpriria uma eventual ordem ilegal da Casa Branca e se defendeu de acusações de abuso sexual.

Hegseth, 44, enfrentou perguntas duras dos senadores do Partido Democrata nesta terça-feira (14) a respeito de suas visões passadas sobre as Forças Armadas, em especial sobre a opinião de que mulheres não deveriam servir em posições de combate -ideia repetida por ele em várias ocasiões, inclusive poucas semanas antes de ser nomeado ao cargo.

O ex-militar não encampou a posição, mas tampouco a repudiou de forma clara, dizendo apenas que apoiaria mulheres em posições de combate “se os padrões não forem alterados” -e que esses padrões devem ser baseados em “igualdade, não equidade”.

“Infelizmente, na busca por certas cotas ou porcentagens, os padrões [das Forças Armadas] foram alterados, e isso torna o combate mais difícil para todos os envolvidos”, disse Hegseth, criticando os programas de diversidade do Pentágono. A senadora democrata Kirsten Gillibrand desmentiu o indicado de Trump, dizendo que não existem cotas para posições de combate no Departamento de Defesa.

A sabatina aconteceu no Comitê das Forças Armadas do Senado, controlada pelo Partido Republicano, mas que conta com 13 membros do Partido Democrata.

Com o processo concluído, o comitê deve votar a nomeação de Hegseth na próxima segunda (20). Uma vez aprovado, o que é provável, o nome de Trump vai à votação no plenário da Casa, onde precisará do apoio de uma maioria simples dos cem senadores para que ele se torne o próximo chefe do Pentágono. Se houver empate, o futuro vice-presidente, J.D. Vance, atua como o voto de minerva.

Durante a sabatina, o ex-militar prometeu também “restaurar a cultura do guerreiro” ao Pentágono, sugerindo que as Forças Armadas americanas passam por uma crise de liderança e insinuando que pode substituir todo o primeiro escalão de generais, incluindo os que formam o Estado-Maior. “Todo oficial será avaliado com base em meritocracia, qualidade, letalidade e comprometimento com ordens”, afirmou.

Em um dos momentos mais tensos da sessão, Hegseth protagonizou uma troca rápida de perguntas e respostas com a senadora democrata Elissa Slotkin, que questionou se ele cumpriria eventuais ordens ilegais de Trump.

O ex-apresentador da Fox News não respondeu, dizendo apenas rejeitar “a ideia de que o presidente Trump daria uma ordem ilegal”. Slotkin relembrou então os relatos de Mark Esper, ex-secretário de Defesa de Trump, que disse que o então presidente quis utilizar as Forças Armadas contra manifestantes antirracistas em 2020.

“Não se trata de uma questão hipotética. [Esper] afirmou ter convencido Trump a não utilizar o Exército [para atirar contra manifestantes]. Se o presidente Trump lhe fizesse um pedido semelhante, o senhor também o convenceria do contrário?”, perguntou Slotkin.

Hegseth se recusou a responder. “Não vou me antecipar sobre possíveis conversas que teria com o presidente, mas leis e processos na Constituição serão seguidos”, disse, sem entrar em detalhes.

Os senadores republicanos, por sua vez, defenderam Hegseth -inclusive aqueles que poderiam barrar a nomeação. A senadora Joni Ernst, ela própria uma ex-militar que sofreu abuso sexual quando mais jovem, havia sinalizado anteriormente não ver com bons olhos o nome indicado por Trump ao Pentágono, mas se disse satisfeita com as respostas dadas por ele durante a sabatina.

Como o Partido Republicano tem maioria no Senado, Hegseth só seria barrado se perdesse o apoio de três desses senadores. Entretanto, essa possibilidade não é nula dada a natureza polêmica da escolha de Trump.

Além da baixa patente militar (ele saiu do Exército como major, longe do topo da carreira), Hegseth nunca esteve à frente de nenhum órgão público e é conhecido não apenas por suas opiniões sobre mulheres nas Forças, mas também por sua defesa de americanos acusados de crimes de guerra no Oriente Médio.

O ex-militar também se recusou a responder se acusações de abuso sexual, bebedeira e assédio moral o desqualificariam de ocupar o cargo de secretário de Defesa. Quando democratas o pressionaram a respeito, Hegseth afirmou que as acusações são “difamações anônimas”.

Em 2017, uma mulher que não teve a identidade revelada acusou Hegseth de a estuprar em um hotel na Califórnia -o ex-militar nega, dizendo que a relação foi consensual, e sua defesa diz que ele estava bêbado na ocasião.

O caso foi investigado pela polícia, mas não resultou em uma denúncia formal à Justiça, e Hegseth entrou em um acordo com a suposta vítima, pagando uma quantia não revelada em troca de confidencialidade.

Sobre o suposto hábito de Hegseth de beber em excesso, o senador democrata Mark Kelly pediu que o indicado de Trump confirmasse ou negasse uma série de episódios vexatórios.

“Verdadeiro ou falso: em 2014, em um evento na Virgínia, o senhor precisou ser carregado para fora por estar bêbado. Verdadeiro ou falso: no mesmo ano, em outro evento em Cleveland, o senhor estava bêbado em público com uma equipe [da empresa onde trabalhava na época]. Verdadeiro ou falso: em 2014, na Louisiana, o senhor levou colegas de trabalho, incluindo mulheres jovens, para um bar de strip-tease”, enumerou Kelly.

Para cada pergunta, Hegseth respondeu sempre com a mesma frase, sem alterações: “difamações anônimas”.