SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Justiça negou o pedido de prisão do policial militar Guilherme Augusto Macedo, responsável por disparar o tiro que matou o estudante de medicina Marco Aurélio Cárdenas Acosta, 22, em novembro do ano passado em São Paulo. Na decisão de segunda-feira (13), no entanto, a juíza Luciana Menezes Scorza aceitou a denúncia contra ele e o PM Bruno Carvalho do Prado, também envolvido na ação.

Com isso, ambos viraram réus por homicídio doloso. Por se tratar de crime contra a vida, o caso será julgado no Tribunal do Júri.

No lugar da prisão de Macedo, a magistrada determinou o comparecimento mensal em juízo, a obrigação de manter endereço atualizado e as proibições de contatar familiares da vítima e testemunhas da acusação por qualquer meio e de deixar a capital por mais de oito dias sem autorização prévia.

A juíza também argumenta que Macedo é réu primário, tem bons antecedentes e não tentou prejudicar ou retardar as investigações.

A mãe do estudante, Silvia Mónica Cárdenas Prado, 55, criticou a decisão. “Meu filho também seria um réu primário, porém não tem sete vidas como um gato. Só um tiro é suficiente para converter a alguém em assassino”, disse à Folha. “Aqui a polícia mata e a justiça não existe.”

O advogado João Carlos Campanini, que defende os agentes, concordou com a decisão da juíza. “Agiu acertadamente a magistrada na negativa da apreensão. Agora a defesa trabalhará para demonstrar a legalidade na ação dos policiais.” Ele disse que não havia elementos para manter a prisão preventiva e reforçou pontos citados na decisão, como a colaboração de Macedo com a investigação.

Na sexta-feira (10), foram divulgadas as imagens das câmeras corporais usadas por Macedo, responsável pelo tiro, e por seu companheiro de viatura, Bruno Carvalho do Prado.

Os policiais passaram a perseguir o estudante de medicina após ele dar um tapa no retrovisor da viatura em que eles estavam, na avenida Conselheiro Rodrigues Alves, na Vila Mariana, zona sul da capital. O veículo não foi danificado.

O estudante, que estava sem camiseta, de calça jeans e chinelos, foi perseguido até o hotel onde estava hospedado com uma garota. Ele foi morto com um tiro na barriga quando estava encurralado em um portão. As imagens mostram o jovem desarmado e sem oferecer resistência. Mesmo baleado, ele foi ameaçado outras vezes pelo policial.

Os dois foram indiciados sob suspeita de homicídio, mas a Polícia Civil só havia pedido, com anuência do Ministério Público, a prisão preventiva de Macedo.

Em uma entrevista coletiva na casa da família na última quarta-feira (8), Silvia criticou o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o secretário da Segurança Pública paulista, Guilherme Derrite, pelo que considerou uma falta de controle da Polícia Militar.

“Eu quero justiça, eu quero desse miserável do Tarcísio ao menos um pedido de desculpas”, disse Silvia Mónica Cárdenas Prado, 55. Ela listou diversos casos de violência policial recentes, como um homem jogado no rio e a morte de uma criança durante uma operação em Santos, no litoral de São Paulo.

Já na última segunda-feira (13), Tarcísio afirmou entender as críticas dos pais do estudante de medicina Marco Aurélio Cárdenas Acosta, 22, morto por um policial militar em novembro do ano passado.

“Acho que no lugar deles eu estaria procedendo da mesma forma. Existe um desejo de ver justiça, eu acho que essa justiça tem que acontecer e vai acontecer, porque os responsáveis serão apresentados à Justiça, irão a julgamento”, disse, durante entrevista no aeroporto de Guarulhos.

Médicos do Hospital das Clínicas, os pais do estudante têm pedido reiteradamente a exoneração de Derrite e do comandante-geral da Polícia Militar, coronel Cássio Araújo de Freitas, que apontam como responsáveis diretos pela morte do filho.

O casal também já cobrou pedidos de desculpas do governador, que segue sem procurá-los diretamente.