BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O marqueteiro Sidônio Palmeira, novo ministro da Secom (Secretaria de Comunicação), chega ao Palácio do Planalto já como um dos principais conselheiros do presidente Lula (PT), ao lado dos ministros Rui Costa (Casa Civil) e Fernando Haddad (Fazenda).

Na opinião de aliados do presidente, a entrada do marqueteiro, que toma posse nesta terça (14), altera a correlação de forças dentro do governo, representando um fortalecimento de Rui Costa na constante queda de braço que mantém contra Haddad, especialmente sobre a agenda econômica.

Essa disputa já foi travada durante debate sobre o pacote de contenção de gastos, anunciado por Haddad em novembro. O ministro da Fazenda resistiu à ideia de inclusão da isenção do Imposto de Renda no anúncio.

Prevaleceu, no entanto, a proposta de Sidônio, com apoio de Rui Costa e da presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR). Dois dias antes do pronunciamento do titular da Fazenda, Sidônio apresentou ao presidente e ministros um caderno com a campanha publicitária para divulgação da isenção de IR para quem ganha até R$ 5.000. O caderno foi recolhido após a apresentação.

A propaganda só não foi ao ar porque Haddad alegou que a proposta ainda não tinha sido encaminhada ao Congresso. Apesar dessa objeção, o ministro da Fazenda anunciou a medida no pronunciamento em rede nacional —uma demonstração de poder do publicitário.

Aliados do presidente chegam a afirmar que a ala baiana do governo fica fortalecida com a nomeação do publicitário —Rui Costa foi governador do estado. Sua entrada é também interpretada por aliados de Lula como um passaporte para que o ministro da Casa Civil venha a vigorar como alternativa para a sucessão de Lula, seja em 2030 ou 2026.

Outros integrantes do governo ponderam, porém, que sua posse não será obra do núcleo baiano, mas da relação que construiu diretamente com o presidente. De qualquer forma, há uma sintonia direta com o chefe da Casa Civil.

Segundo integrantes do governo, Rui Costa intercedeu para que Sidônio aceitasse o convite do presidente, além de ter defendido a inclusão dos R$ 5.000 de isenção do Imposto de Renda no pacote fiscal, à revelia de Haddad.

Além da resistência do ministro da Fazenda ao anúncio de nova tabela do IR sem prévio debate no Congresso, auxiliares palacianos afirmam que a forma de Haddad se comunicar com o mercado e a imprensa tem gerado ruídos.

De acordo com esses auxiliares, foi com respaldo de Lula que Sidônio reagiu a críticas de Haddad à comunicação do governo na sua primeira entrevista depois de oficializado para o cargo.

Sidônio alfinetou o ministro da Fazenda, citando diretamente seu nome para dizer que os problemas de comunicação não eram exclusividade da Secom.

O marqueteiro escolheu responder a uma entrevista concedida pelo ministro da Fazenda na véspera, em que Haddad disse haver “problemas graves” na comunicação da gestão federal. Segundo relatos, até o próprio presidente se incomodou com essa crítica. Sidônio disse, em resposta, que a comunicação era tarefa de todo o governo.

Hoje, com o aval de Lula, sua tarefa será alinhar o discurso na Esplanada. Isso incluiria o Ministério da Fazenda, que tem uma estratégia independente. Há um diagnóstico de que é preciso garantir que não haja mais ruídos entre o que os ministérios pretendem e o que o Planalto decide.

A discussão do IR vem desde a campanha de 2022, quando a equipe técnica resistiu à inclusão da meta no programa de governo do presidente. Prevaleceu o argumento de que a promessa deveria constar em propaganda em rádio e TV.

O marqueteiro, segundo aliados, é conhecido por ser habilidoso no trato, mas sem evitar embates duros. Ele mostrou essa habilidade na campanha de 2022, quando driblou obstáculos interpostos por integrantes da equipe de Lula.

Uma das dificuldades enfrentadas foi a de não ter acesso às redes do candidato para divulgação de peças da campanha. As senhas ficavam sob responsabilidade de assessores de Lula.

Três anos depois, Sidônio obteve carta branca para demitir antigos assessores do presidente, como foi o caso do jornalista José Chrispiniano (secretário de Imprensa da Presidência e antigo auxiliar de Lula). Também sairá a secretária de Estratégias e Redes, Brunna Rosa.

Chrispiniano tinha confiança de Lula, a quem acompanha há mais de uma década. No governo, a aposta é que vá para uma estatal.

Brunna, por sua vez, trabalhou em outros governos petistas e se aproximou do presidente durante a campanha eleitoral. Além disso, tem a confiança da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja. Ela deverá ser incorporada à equipe da primeira-dama.

Em sua primeira entrevista após ser oficializado na Secom, o novo ministro deu o tom das mudanças, dizendo que quer ter boa relação com a imprensa e que o governo precisa melhorar na comunicação digital.

No lugar de Chrispiniano, entrará o jornalista Laércio Portela, atual secretário de Comunicação Institucional. Ele chegou a ser ministro da Secom, quando Paulo Pimenta assumiu a secretaria de reconstrução do Rio Grande do Sul.

Já para o cargo de Brunna, entrará Mariah Queiroz, que trabalha com as redes sociais do prefeito de Recife, João Campos (PSB).