TREMEMBÉ, SP (FOLHAPRESS) – A Polícia Civil paulista investiga se há mandantes que ordenaram o atentado ao assentamento Olga Benário, do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), em Tremembé (SP), que deixou dois mortos e seis feridos, ou se o crime foi executado pelos próprios mandantes, com ajuda de terceiros.
O crime, segundo a polícia, moradores do assentamento e dirigentes do MST, está relacionado à ocupação de 1 dos cerca de 50 lotes do assentamento, que tem uma área de 158 hectares (pouco mais de quatro parques do Ibirapuera). A área em disputa tem cerca de 5.000 metros quadrados.
A investigação ainda não tem um número fechado de integrantes do ataque, ocorrido na sexta-feira (10). Há relatos, ouvidos pelos policiais, de até cinco veículos usados no ataque, incluindo picapes de luxo. Por isso, a polícia não descarta que a organização possa ter incluído criminosos com alto poder financeiro.
“Ambas as hipóteses estão sendo investigadas. Se [os suspeitos já identificados] estão sendo enxergados como mandantes ou participantes”, disse nesta segunda-feira (13) o delegado Vinícius Garcia Vieira, da Deic (Delegacia de Investigações Criminais) de Taubaté, responsável pela investigação.
O lote em disputa estava vazio havia três anos e vinha sofrendo tentativas de ocupação por pessoas de fora do assentamento. Os moradores da área vinham tentando impedir.
As duas pessoas apontadas pela polícia como participantes do ataque haviam sido identificadas pelos próprios moradores assentados: Antônio Martins dos Santos Filho, 41 anos, conhecido como “Nero do Piseiro”, e Ítalo Rodrigues da Silva.
Santos Filho, detido no sábado (11), já havia sido preso por porte ilegal de arma, segundo a polícia. Seu apelido é por possuir um forró na região, chamado de piseiro, alvo de denúncias de tráfico de drogas. Ele foi preso em flagrante, localizado pela polícia horas após o crime. Silva, que teve prisão temporária decretada, não tem histórico criminal. Ele está foragido.
Nenhum dos dois identificados, contudo, têm histórico de ligação com ações de grilagem, ainda de acordo com o delegado.
“Nenhuma hipótese pode ser descartada, mas não há nenhum indicativo de que seja uma facção constituída para essa finalidade. Há o indicativo, ainda precário, de que seria uma briga por um terreno específico existente no interior daquele assentamento”, disse o delegado.
Nesta segunda, ao falar sobre o caso, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) classificou o atentado como “terrível”.
“A Polícia Civil deflagrou imediatamente uma operação. Por meio da coleta de depoimentos, foi possível chegar a um dos atiradores, o Nero do Piseiro. Esse elemento já foi preso, e o outro atirador já está identificado”, disse o governador. “De certa forma, vão ajudar a buscar os outros que participaram desse momento. Vamos fazer todo esforço para elucidar esse caso e apresentar os envolvidos desse ataque terrível à Justiça.”