SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse nesta segunda-feira (13) entender as críticas dos pais do estudante de medicina Marco Aurélio Cárdenas Acosta, 22, morto por um policial militar em novembro do ano passado.

“É claro que a gente sensibiliza com a dor dessa mãe, com a dor do pai. Eu entendo as manifestações que eles têm emitido, são perfeitamente compreensíveis”, disse, durante entrevista no aeroporto de Guarulhos.

“Acho que no lugar deles eu estaria procedendo da mesma forma. Existe um desejo de ver justiça, eu acho que essa justiça tem que acontecer e vai acontecer, porque os responsáveis serão apresentados à Justiça, irão a julgamento”, acrescentou.

O chefe do Executivo paulista é um dos principais alvos dos médicos Julio César Acosta Navarro, 59, e Silvia Mónica Cárdenas Prado, 55, pais do jovem.

Médicos do Hospital das Clínicas, eles têm pedido reiteradamente a exoneração do secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, e do comandante-geral da Polícia Militar, coronel Cássio Araújo de Freitas, os quais responsabilizam diretamente pela morte do filho.

O casal também já cobrou pedidos de desculpas do governador, que segue sem procurá-los diretamente.

“Ele [Tarcísio] tem, em meu conceito, a alma e as mãos manchadas de sangue, porque ele pactua dessa criminalidade disseminada por Derrite. Lágrimas de mães feitas com a dor mais genuína. São piores que sal em ferida aberta”, disse Silva Mónica à reportagem após tomar conhecimento da fala do governador.

Após viagem de férias, Tarcísio retomou a agenda nesta segunda. Ainda durante a entrevista, afirmou que não pretende fazer mudanças na pasta de Segurança, que tem sofrido pressão com o crescimento de casos de latrocínio (roubo seguido de morto) e de violência policial, com diversos registros de mortes e agressões, como o episódio em que um homem arremessado de uma ponte por um PM.

O governador usa a queda de roubos e furtos no estado como argumento para não fazer trocas.

Na sexta-feira (10), foram divulgadas as imagens das câmeras corporais usadas por dois PM envolvidos na ocorrência, Guilherme Augusto Macedo, responsável pelo tiro, e seu companheiro de viatura, Bruno Carvalho do Prado.

Os policiais passaram a perseguir o estudante de medicina após ele acertar um tapa no retrovisor da viatura em que eles estavam, na avenida Conselheiro Rodrigues Alves, na Vila Mariana, zona sul da capital. O veículo não teve danos.

O estudante, que estava sem camiseta, de calça jeans e chinelos, foi perseguido até o hotel onde estava hospedado com uma garota. Ele foi morto com um tiro na barriga quando estava encurralado em um portão. As imagens mostram o jovem desarmado e sem oferecer resistência. Mesmo baleado, ele foi ameaçado outras vezes pelo policial.

Os dois foram indiciados por homicídio, mas apenas Macedo teve o pedido de prisão preventiva pedido pela Polícia Civil, com anuência do Ministério Público. A solicitação de prisão ainda não foi apreciada pela juíza Luciana Menezes Scorza.

“Nós não vamos tolerar casos de abuso, nós não vamos compactuar com isso. Então aqueles que estão se excedendo, que estão descumprindo aquilo que são procedimentos estabelecidos, serão severamente punidos”, acrescentou Tarcísio nesta segunda.