RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Moradores de bairros do Rio de Janeiro podem comprometer de 0,47% a 8,26% da renda média mensal para comprar um frango assado em serviços de delivery.

É o que sinaliza a nova edição do Índice Frangão Carioca, publicada em dezembro pelo Instituto Fundação João Goulart, ligado à Prefeitura do Rio. O estudo, relativo a 2024, evidencia as desigualdades no poder de consumo entre os bairros da capital fluminense.

Para isso, cruza duas variáveis: a renda média domiciliar per capita (por pessoa) e o preço médio do frango assado em cada local. A refeição é uma das mais tradicionais da mesa dos cariocas.

Segundo o índice, um morador de Barros Filho, na zona norte, pagava R$ 51 pelo frango assado. Já a renda por pessoa era de R$ 617,64 no bairro.

Assim, a população local precisaria destinar o equivalente a 8,26% do rendimento, em média, para a compra do prato. É o maior comprometimento de renda entre os 113 bairros pesquisados.

Cidade de Deus (7,22%), Manguinhos (6,75%) e Maré (5,86%) aparecem logo na sequência. As localidades ficam nas zonas oeste e norte.

Na outra ponta da lista, Ipanema, na zona sul, teve o menor comprometimento de renda para a compra de um frango assado. O impacto era equivalente a apenas 0,47% do rendimento local.

O preço médio do item foi calculado em R$ 49,90 em Ipanema. O valor até é similar ao de Barros Filho (R$ 51), mas há uma grande disparidade de renda entre os dois bairros.

O rendimento foi de R$ 10.644,54 em Ipanema. Ficou bem acima do registrado na localidade da zona norte: R$ 617,64.

Além de Ipanema, outros bairros da zona sul também se destacam pelo baixo comprometimento de renda para a compra de um frango assado. São os casos de Flamengo (0,58%), Laranjeiras (0,67%) e Copacabana (0,71%), que aparecem logo na sequência.

Na média da capital fluminense, o preço da refeição foi de R$ 44,36, enquanto a renda ficou em R$ 3.700,10. Esses dados indicam que a compra de um frango assado consome 1,2% do rendimento da população carioca, também em média.

A presidente do Instituto Fundação João Goulart, Rafaela Bastos, afirma que o índice não pode ser analisado isoladamente, mas é uma das variáveis que ajudam a compreender a situação econômica dos diferentes moradores da cidade.

A intenção da pesquisa, diz Rafaela, é trazer uma métrica de fácil entendimento e que converse com o dia a dia da população.

Parte da inspiração, segundo a presidente, vem do índice Big Mac, que mostra o poder de compra dos países a partir dos preços do hambúrguer da rede de fast-food McDonald’s.

“Ele [Frangão] traz mais uma camada da percepção econômica que é olhar o comprometimento de renda com o recorte geográfico”, aponta Rafaela.

O levantamento analisou informações de 255 estabelecimentos no Rio. A coleta dos preços ocorreu por meio do aplicativo de delivery iFood.

O estudo contempla 113 bairros de um universo de 164 no município. O estudo afirma que essa diferença não significa necessariamente que não existam fornecedores nas regiões sem dados, mas que não havia lojas vendendo os produtos no iFood no intervalo da coleta (setembro de 2024).

Fechamento temporário de restaurantes, delivery não disponível e outros fatores podem estar por trás da situação. Bairros como o Leblon, conhecido pela alta renda na zona sul, não aparecem na pesquisa.

Ainda de acordo com o estudo, se o morador de Ipanema comprometesse o mesmo percentual da renda de Barros Filho (8,26%), teria de desembolsar R$ 879,23 para comprar apenas um frango assado.

Em contrapartida, a mesma refeição em Barros Filho teria de sair por módicos R$ 2,90 para que a população do bairro gastasse a mesma proporção da renda verificada em Ipanema (0,47%).

A Barra da Tijuca, na zona oeste, teve o maior preço médio do frango assado no Rio (R$ 89,90), seguida pelo Humaitá (R$ 79,90), na zona sul.

Os menores valores, por outro lado, foram encontrados em Pedra de Guaratiba (R$ 28), na zona oeste, e Quintino Bocaiúva (R$ 29,50), na zona norte.

Quando a variável analisada é a renda média domiciliar por pessoa, a liderança fica com Ipanema (R$ 10.644,54). A Barra da Tijuca (R$ 9.999,88) aparece depois.

Barros Filho e Costa Barros registraram o menor patamar: R$ 617,64. Os dois lugares são vizinhos na zona norte.

O índice leva em consideração dados de renda do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) com ajustes metodológicos e atualização pela inflação.

“A renda per capita foi ajustada pelo IPCA acumulado de abril a setembro de 2024, garantindo que o indicador refletisse seu valor presente real, corrigido pela inflação do período. Essas atualizações foram necessárias para assegurar maior precisão e relevância aos resultados apresentados”, diz o estudo.