BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O deputado federal Aécio Neves (MG), um dos principais líderes do PSDB, afirmou que seu partido trava conversas de federação, fusão ou incorporação com outras legendas, mas reclamou do que classifica de um processo de cooptação de quadros tucanos sem o devido diálogo institucional.

Sem citar nomes, ele disse que essa ofensiva pode até resultar na ida de tucanos para outras siglas, mas que o partido não se dobrará.

“Esse tipo de cooptação que a gente está assistindo aí de forma muito assertiva e em alguns momentos até indelicada não atende ao interesse do PSDB, não estamos atrás de quem resolva o problema regional de A, B ou C”, disse ele na quinta-feira (9).

Outrora uma potência eleitoral, o PSDB levou um tombo nas urnas, nos últimos anos, o que levou a legenda de Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso e José Serra a descer da prateleira dos grandes para a dos médios partidos, com risco de ir para a dos pequenos e nanicos.

Os tucanos perderam mais da metade do número de deputados federais e não elegeram nenhum senador em 2022, além de verem o número de prefeitos eleitos também cair para menos da metade em 2024.

A federação com o Cidadania de pouco adiantou, tendo sido a que amargou os piores resultados eleitorais entre as três formadas até o momento.

Com isso, há ameaça de saída de tucanos da legenda, incluindo os três governadores (Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, Raquel Lyra, de Pernambuco, e Eduardo Riedel, do Mato Grosso do Sul), em especial para o PSD de Gilberto Kassab.

“Eu quero somar com forças que estejam dispostos a trocar cargos e postos de poder por um projeto de Brasil. Não queremos ser mais um número na contabilidade de nenhum partido político, nós queremos discutir com quem esteja disposto a se desvincular desses dois extremos”, disse Aécio, em referência a Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT).

Hoje o partido de Kassab integra a base de Lula, com três ministérios, além do governo em São Paulo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro e um dos principais aliados de Bolsonaro.

Kassab afirmou desconhecer qualquer ação do PSD no sentido de cooptar quadros do PSDB, mas disse ver “com muita satisfação uma aproximação com um partido que tem excelentes quadros como seus filiados”.

A reportagem tentou falar com o presidente do PSDB, o ex-governador de Goiás Marconi Perillo, mas não conseguiu contato.

Aécio confirmou que há conversas institucionais do PSDB com o MDB, como antecipou o jornal O Globo, e com Solidariedade e Podemos.

“O PSDB vai construir uma aliança ao centro com forças que estejam dispostas a isso e por isso nós temos ampliadas as nossas conversas. A partir de fevereiro nós vamos retomá-las com mais intensidade.”

Segundo ele, é preciso haver, porém, conversa institucional. “Nos incomoda muito essa busca de uma cooptação pessoal de lideranças do PSDB sem a discussão de um projeto para o Brasil.”

O presidente do MDB, o deputado federal Baleia Rossi, também confirmou as conversas com o PSDB para uma possível federação, fusão ou incorporação.

“A gente está demonstrando para eles que há um interesse do MDB como um todo dessa reunificação com o PSDB. Não é uma coisa isolada. A gente tem o mesmo DNA, nós fomos muito importantes no governo do Fernando Henrique e eles foram muito importantes no governo do Michel [Temer]”, disse Rossi.

“Acho que tem muito sentido a gente fazer outra vez essa unificação. A gente sabe que tem algumas questões ainda a serem resolvidas, mas eu falei para o Marconi, falei para o Aécio e falei para todos os líderes deles que nós temos todo o interesse de fazer essa conversa.”

Rossi disse que tanto ele como Temer, o governador do Pará, Helder Barbalho, a ministra Simone Tebet e o líder da bancada na Câmara, Isnaldo Bulhões Jr. (AL), têm conversado com alguns dos principais dirigentes do PSDB, entre eles Aécio, Perillo e Beto Richa (PR).

Além das tratativas MDB-PSDB, o partido de Baleia Rossi também avalia uma federação com o PSD para fazer frente a uma possível união de partidos do centrão.

Trata-se de uma superfederação que uniria o PP de Arthur Lira (AL) e Ciro Nogueira (PI) ao União Brasil de Davi Alcolumbre (AP) e ao Republicanos de Hugo Motta (PB) -esses dois últimos, os respectivos favoritos para comandar Senado e Câmara a partir de fevereiro.

Caso formada, essa federação teria como objetivo unir forças para ter mais influência no Congresso e nos estados, além de ampliar o poder de barganha com o governo federal.

O Congresso aprovou em 2021 a possibilidade de os partidos se unirem em federação, medida tomada à época em resposta à proibição das coligações e ao avanço da chamada cláusula de barreira (ou de desempenho), que visa tirar de circulação legendas com baixo desempenho eleitoral.

Ao se federarem, os partidos são obrigados a atuar em conjunto no Legislativo e nas eleições por ao menos quatro anos.

Há atualmente três federações aprovadas em 2022 com vigência até pelo menos o primeiro semestre de 2026 -1) PT, PC do B e PV, 2) PSDB e Cidadania e 3) PSOL e Rede.