SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo) encaminhou nesta quinta-feira (9) à Procuradoria-Geral da instituição seu relatório preliminar sobre o caso do professor Alysson Mascaro, acusado de assédio e abuso sexual por mais de dez alunos.
No documento, há cerca de 30 depoimentos de supostas vítimas e testemunhas sobre possíveis crimes cometidos pelo docente. Em seu parecer, o responsável cita “relatos preocupantes” e pede a adoção de providências pela diretoria da unidade.
A defesa de Mascaro, representada pela advogada Fabiana Marques, diz ainda não ter sido informada sobre a finalização do relatório preliminar. No entanto, Marques afirma estar confiante na inocência de seu cliente e que acredita que os relatos contra ele são fracos e “nada se sustenta”.
O professor prestou depoimento à Faculdade de Direito na última terça-feira (7) e afirmou ser inocente e vítima de calúnia.
Num dos depoimentos, um ex-estudante relata ter sido convidado por Mascaro para uma conversa sobre assuntos acadêmicos em seu apartamento, em 2022. Durante o encontro, ele teria sido coagido a ficar de cueca e abraçar o professor, que teria dito estar imitando a maneira como filósofos e seus discípulos se relacionavam na Grécia Antiga citando Sócrates e Platão.
Alysson Mascaro é advogado e professor associado da Faculdade de Direito desde 2006. Dez alunos ou ex-alunos o acusaram de assédio e abuso sexual ao site Intercept Brasil em 3 de dezembro. Então, a USP abriu sua investigação sobre o caso.
Um dia após a publicação da reportagem com as denúncias, a Faculdade de Direito decidiu instaurar procedimento apuratório preliminar. Um professor da unidade foi designado para presidir os trabalhos da sindicância, que tinha prazo de 30 dias para ser concluída.
O responsável pela investigação solicitou que Mascaro fosse afastado do cargo durante o período de análise. A direção da faculdade aceitou o pedido, dizendo haver “fortes indícios” contra o professor.
Os supostos casos de abuso e assédio sexual teriam ocorrido entre 2006 e o início de 2024. Conforme os relatos, as abordagens de Mascaro tinham um padrão no qual ele se aproveitava da posição de autoridade como docente, além de argumentar ter influência e amizade com pessoas em altos cargos do Judiciário.
A princípio, os relatos envolviam apenas homens, mas a Faculdade de Direito da USP identificou três supostas vítimas mulheres.
Antes mesmo de os casos surgirem, em 30 de novembro, o docente publicou uma nota pública nas redes sociais em que dizia estar sendo “vítima de crime cibernético, sofrendo um processo de perseguição por pessoas que, se escudando no aparente anonimato no ambiente virtual desde meados de 2023, vêm buscando atacá-lo em sua honra”.
“Tal grupo de pessoas vem perpetrando acusações inverídicas para ferir sua imagem pública, buscando descredibilizar suas posições em detrimento do debate aberto acerca de sua luta concreta e de suas ideias amplamente difundidas por meio de sua vasta obra teórica e luta política”, diz a nota pública.
A defesa do professor informa que foi registrado um boletim de ocorrência e uma representação criminal para apuração do crime de perseguição em 20 de novembro e que esse fato será usado como argumento em caso de confirmação de um processo administrativo.