BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Em 2024, o Banco Central voltou a estourar a meta de inflação e descumpriu o objetivo perseguido pela terceira vez desde que a autonomia formal entrou em vigor, em 2021.

O desempenho também colocou Roberto Campos Neto, cujo mandato terminou em 31 de dezembro, como o presidente do BC que mais vezes falhou no controle da inflação. Na chefia da instituição entre 2019 e 2024, ele viu o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) fechar o ano acima do limite superior da meta em 2021, 2022 e 2024.

“No pós-pandemia, não tem um BC no mundo que cumpriu meta”, afirmou Campos Neto em entrevista à Folha, em novembro, ao ser questionado sobre o assunto. “Precisamos agora passar uma mensagem que, passado o período da pandemia, a gente precisa, sim, fazer convergir [a inflação à meta]”, acrescentou.

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a inflação oficial do país fechou 2024 com alta acumulada de 4,83% -acima do limite superior da meta.

No ano passado, o alvo central definido pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) era 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. A meta seria considerada cumprida quando oscilasse entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).

Desde a criação do sistema de metas para a inflação no Brasil, em 1999, o BC já descumpriu o alvo oito vezes, sendo três na gestão de Campos Neto.

Em 2022, a inflação fechou o ano com alta acumulada de 5,79% -acima do limite superior do alvo (5%). Como justificativa, Campos Neto elencou, entre outros fatores, a retomada na demanda de serviços e no emprego após a reabertura da economia e a elevação dos preços de commodities, em especial do petróleo.

Ele citou também a inflação herdada do ano anterior. Em 2021, o país registrou IPCA de 10,06% -maior alta desde 2015 (10,67%). Na ocasião, o chefe da autarquia disse que a inflação de dois dígitos era culpa do fenômeno global em meio à pandemia de Covid.

O antecessor de Campos Neto, Ilan Goldfajn, teve de se justificar por ter deixado a inflação ficar ligeiramente inferior ao limite mínimo estabelecido para o objetivo de 2017.

Nos casos referentes aos anos de 2015, 2003, 2002 e 2001, foi excedido o limite superior da meta de inflação. Entre as diversas causas, estavam a desvalorização do real, a crise de confiança de investidores, a crise global e o realinhamento de preços.

Nesta sexta-feira (10), o BC publicará uma nova carta aberta ao ministro Fernando Haddad (Fazenda), dessa vez assinada pelo atual presidente, Gabriel Galípolo, explicando os motivos que levaram ao descumprimento da meta de inflação na gestão de seu antecessor.

META DE INFLAÇÃO TERÁ NOVA SISTEMÁTICA EM 2025

A partir deste ano, passará a valer uma nova sistemática para a meta de inflação e a autoridade monetária buscará o alvo central de 3% sem se vincular ao chamado ano-calendário, ou seja, ao período de janeiro a dezembro.

O novo modelo prevê que a meta será considerada descumprida quando a inflação, medida pela variação de preços acumulada em 12 meses, ficar por seis meses seguidos fora do intervalo de tolerância.

No último relatório trimestral de inflação, publicado em dezembro, o BC afirmou que o IPCA seguirá acima do limite do intervalo de tolerância até o terceiro trimestre de 2025, nas projeções de seu cenário de referência, entrando depois em trajetória de declínio.

Se a estimativa do próprio BC se confirmar, Galípolo deverá prestar contas novamente já em meados do ano. Na carta, ele deverá fazer uma descrição detalhada das causas do descumprimento, as medidas necessárias para assegurar o retorno da inflação aos limites estabelecidos e o prazo esperado para que essas medidas produzam efeito.