BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Aliados da líder opositora María Corina Machado dizem que ela foi “violentamente interceptada” e horas depois liberada pela ditadura após participar de protestos na capital da Venezuela, nesta quinta-feira (9), véspera da provável posse de Nicolás Maduro.

Oposição e regime convocaram atos pelo país que ampliaram o clima de tensão em uma semana na qual a repressão já se acirrou na ditadura chavista. María Corina rompeu mais de cem dias de clandestinidade, refugiada em local desconhecido, e foi às ruas.

Figura-chave do regime na Venezuela, o procurador-geral Tarek William Saab afirma que ela não foi detida, “nem por um minuto”. Saab falou à reportagem, por telefone, no início da noite.

María Corina teria sido detida após discursar no ato oposicionista e se preparar para voltar para o refúgio. O local estava cercado por agentes de segurança armados. Aliados próximos a ela relatam que a opositora foi abordada por um contingente de oficiais em motos e com drones quando estava em uma moto. Tiros teriam sido disparados. O motorista também teria sido levado, mas não há informações sobre seu paradeiro.

A líder, impedida de concorrer às eleições do último ano, é acusada pelo regime chavista de traição à pátria. Ela dizia ter em conta que sua segurança estava em risco. “Mas não tenho outra opção”, afirmava María Corina, que pedia apoio policial e militar para parar a ditadura.

Com vocabulário característico de figuras do chavismo, Tarek Saab nega e diz que todos estão “diante de uma mulher demente que simula crimes contra ela, se vitimiza de forma reiterada”.

Ele afirma que há investigações contra María Corina, mas não ordens de detenção, e que sem isso ela não seria presa. Na última semana, porém, ao menos 18 opositores foram presos no país sem que processos judiciais contra eles tivessem sido anunciados.

“O Ministério Público a está investigando com base no que estabelece a lei. Ela nunca foi detida, nem por um minuto. Fala isso para manchar a posse do presidente Nicolás Maduro de amanhã [sexta-feira, 10]. Como pode simular um ato punível como esse?”

É a primeira vez que Saab fala com a imprensa brasileira e uma das poucas entrevistas que ele concede. Aliado do regime chavista, ele diz que contra o opositor Edmundo González, sim, há hoje uma ordem de prisão. E que se ele pisar em solo venezuelano, como afirma que o fará nesta sexta-feira, será levado para a prisão.

Diante da denúncia de detenção, o González, o nome que concorreu contra Maduro em 28 de julho e que teria vencido com mais de 60% dos votos segundo projetos de checagem, disse que os órgãos de segurança “não devem brincar com fogo”.

Um dos primeiros líderes regionais a se manifestar foi o presidente do Panamá, José Raúl Mulino. “Exigimos liberdade para María Corina, assim como respeito à sua integridade. O regime ditatorial é responsável por sua vida”, disse. Depois, o governo de Javier Milei na Argentina disse que a ação é “um ataque criminal do regime chavista”.

Nas redes sociais circula um vídeo, não checado e que muitos dizem ser feito com ferramentas de inteligência artificial (IA), no qual uma pessoa que se parece com María Corina diz que está bem e segura. Figuras do regime, como membros do Ministério Público, também compartilham essa versão no WhatsApp, como o fizeram quando a reportagem perguntou por informações oficiais sobre o tema.

O partido de María Corina foi forçada a gravar vídeos.

Opositores começaram a marchar às 11h (10h locais) em Caracas e capitais estaduais. Mas relatos, vídeos nas redes sociais e informações dos poucos jornais independentes que ainda operam no país indicam que o tamanho das manifestações foi bem aquém do esperado.

Enquanto isso, o ditador Nicolás Maduro acionou nesta quarta-feira (8) o que chama de Órgão de Direção de Defesa Integral. Na prática, é o empoderamento de todas as forças de segurança, dos militares às milícias civis armadas, para atuarem em conjunto.

Nas principais ruas e praças do país havia dezenas de homens em motos enviados pelo regime para tentar dissuadir aqueles que pensavam em participar de mobilizações opositoras. São membros dos chamados coletivos, milícias de civis autorizadas pelo regime para atuar como uma espécie de órgão de segurança.

Em um cenário no qual a incerteza já reina, Edmundo González encontra-se na República Dominicana. Ele passou também pelo Panamá, pelos EUA, pelo Uruguai e pela Argentina, todos países nos quais se encontrou com os respectivos presidentes, que lhe deram apoio e o reconheceram como presidente eleito, em um giro pelas Américas para buscar respaldo nos vizinhos.

Da ilha de Hispaniola ele promete que irá à Venezuela nesta sexta-feira (10) para tomar posse. É uma afirmação vista como fantasiosa por muitos analistas independentes. Por questões de segurança, a oposição não deu detalhes. Mas ex-presidentes da região dizem que acompanhariam González na empreitada.