SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As redes sociais da Meta (Facebook, Instagram e Threads) começaram a mostrar na linha do tempo de publicações conteúdos políticos de perfis não seguidos pelo usuário, disse o presidente do Instagram, Adam Mosseri, em publicação feita na quarta-feira (8) na rede de fotos. “Se você ainda não reparou as mudanças, deve começar a percebê-las nas próximas semanas.”
A mudança é o efeito prático da “volta do conteúdo cívico”, anunciada pelo CEO do conglomerado, Mark Zuckerberg, na terça (7), a poucos dias do início do mandato presidencial de Donald Trump. A empresa também diminuiu as salvaguardas contra discurso de ódio em debates políticos, passando a permitir ofensas a grupos LGBTQIA+ e migrantes.
Em fevereiro de 2021, logo após a posse do então presidente Joe Biden nos Estados Unidos, a Meta anunciou que reduziria a exposição dos usuários a publicações relacionadas a debates considerados ideológicos ou eleitorais. Ficariam isentos da medida os posts de blogs governamentais.
Além das publicações por contas de políticos profissionais, a big tech define como conteúdo político as publicações com menções a governos, eleições ou “tópicos sociais que afetam grupos de pessoas ou toda a sociedade”. A empresa cita, em suas diretrizes da comunidade, como exemplo de discussões políticas a limitação do acesso a banheiros por gênero ou restrições por gênero ao alistamento militar.
Procura pela reportagem, o conglomerado afirmou que não iria comentar.
Em teste feito pela Meta com usuários americanos no fim de 2020 e em meados de 2022, a parcela dos conteúdos de matiz político visualizados pelos usuários caiu de 6% para 3%.
O controle para classificar a natureza da publicação primeiro passava por um filtro algorítmico. Em maio de 2022, a empresa afirmou que diminuiu a relevância de compartilhamentos e comentários nas publicações de cunho eleitoral ou social visando a redução de alcance.
Em 2021, o conglomerado reconheceu que as mudanças teriam efeitos no tráfego nas redes como um todo.
As contas que publicavam conteúdos do gênero deixavam de receber recomendações -quando a publicação fura a bolha do grafo de seguidores e aparece para estranhos. “Os criadores podem se despreocupar com isso”, afirmou Mosseri.
Nos Estados Unidos, a empresa lançou em setembro a opção de ajustar o feed de notícias de Facebook, Threads e Instagram para mostrar mais conteúdo de cunho ideológico ou eleitoral. A configuração chegou ao Brasil após as eleições de 2024 em 27 de outubro.
De acordo com Mosseri, a atualização deve chegar a outros países “na próxima semana”.
As mudanças devem ter mais efeito no Threads, a rede social de textos curtos lançada pela Meta em uma tentativa de ocupar o vácuo deixado pela queda de popularidade do X (ex-Twitter). “Muitas pessoas nos pediram para ver mais publicações políticas”, afirmou o executivo.
No Threads, o ajuste de exposição a conteúdo político deve ter três níveis: baixa, moderada ou alta.
Além disso, o presidente do Instagram disse que a Meta abandonará a postura proativa de moderação e passará a tomar medidas após receber denúncias dos usuários.
Segundo comunicado oficial da Meta, as mudanças visam diminuir a quantidade de erros e aumentar a liberdade de expressão.
A remoção, disse Zuckerberg, ocorria com auxílio de “sistemas complexos”. “Mas o problema com sistemas complexos é que eles erram, mesmo se eles acidentalmente censurarem apenas 1% dos posts.”
Para a ex-diretora de assuntos globais da big tech Katie Harbath, o anúncio do CEO segue um padrão: “Depois das eleições americanas, Zuckerberg recalibra as políticas da Meta.”
Ela recorda que em 2017 o Facebook lançou um manifesto reforçando medidas de integridade da informação, após a repercussão da possível influência das redes sociais na primeira eleição de Trump no embate com a democrata Hillary Clinton.