SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu próximo da estabilidade nesta quinta-feira (9), em um dia que promete ser de poucas operações já que os mercados nos Estados Unidos estão fechados devido ao funeral do ex-presidente Jimmy Carter.
Às 9h07, a moeda norte-americana oscilava 0,05% para baixo, cotada a R$ 6,1076. Na quarta-feira (8), o dólar fechou com leve variação positiva de 0,08%, cotado a R$ 6,109, e a Bolsa teve forte queda de 1,27%, aos 119.624 pontos.
A tônica da semana tem sido o vai-e-vem do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a imposição de tarifas para produtos importados. O republicano toma posse no dia 20 de janeiro, e a expectativa é sobre qual será a postura do novo governo em relação às demais economias globais.
Na segunda-feira, uma reportagem do The Washigton Post indicou que assessores do presidente eleito estavam considerando taxar apenas importações de setores críticos para o país. A notícia, um recuo da abordagem mais agressiva prometida por Trump durante a campanha eleitoral, inspirou apetite por ativos de maior risco no mercado e causou a queda do dólar por duas sessões consecutivas.
Mas Trump logo refutou a publicação e, na quarta, a CNN informou que o republicano está estudando declarar emergência econômica nacional para ter uma justificativa legal na imposição de tarifas sobre aliados e adversários.
A medida permitirá a criação de um novo programa tarifário através da Lei de Poderes de Emergência Econômica Internacional, que autoriza o presidente a administrar importações. “Nada está fora da mesa”, disse uma fonte familiarizada com o assunto, reconhecendo que houve uma discussão sobre a declaração de emergência.
Trump, ainda em campanha, prometeu aplicar tarifas de 10% sobre as importações globais, além de outras de 60% para chinesas e de 25% para canadenses e mexicanas.
As medidas são consideradas inflacionárias, o que pode forçar o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) a manter a taxa de juros mais alta. Isso elevaria os rendimentos dos treasuries, os títulos ligados ao Tesouro dos EUA, e, por consequência, tornaria o dólar mais atrativo.
Na ata da última reunião, publicada nesta quarta, as autoridades do Fed disseram “esperar que a inflação continue a se mover em direção a 2%”, embora tenham ponderado que “os efeitos de possíveis mudanças na política comercial e de imigração sugerem que o processo possa levar mais tempo do que o previsto anteriormente”.
“Vários observaram que o processo desinflacionário pode ter estagnado temporariamente ou observaram o risco de que isso possa acontecer.”
A autoridade monetária cortou os juros em 0,25 ponto percentual no encontro de dezembro, levando-os à faixa de 4,25% e 4,50%.
Um relatório do governo ainda mostrou que o número de vagas de emprego em aberto para o mês de novembro teve uma alta inesperada, sinalizando que o mercado de trabalho continua sólido, apesar de em gradual desaceleração.
Uma pesquisa também apontou que o setor de serviços, que compõe dois terços da economia do país, voltou a acelerar a expansão em dezembro.
Os dados têm consolidado expectativas de que o Fed reduzirá o ritmo de afrouxamento da política monetária, com 95% de chance das autoridades manterem os juros inalterados na reunião deste mês.
“Esse conjunto de informações, mercado de trabalho mais aquecido, atividade de serviços mais aquecida e uma possível resiliência inflacionária no setor de serviços, todos sugerem a ideia de que o Federal Reserve não vai ter muito espaço para novos cortes de juros”, disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
Já na ponta doméstica, o foco segue sendo a política fiscal do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em entrevista na terça, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o déficit primário ficará em 0,1% do PIB em 2024. O dado oficial do resultado primário do ano ainda não foi divulgado.
Se confirmado, o governo terá cumprido a meta fiscal de 2024, que prevê déficit zero, com tolerância de 0,25 ponto percentual do PIB para mais ou para menos.
“Depois de dez anos de desajuste, estamos fazendo um ajuste estrutural”, disse.
“Se o plano traçado pelo Ministério da Fazenda for a termo, chegar ao final do jeito que nós planejamos, nós vamos chegar com economia muito mais arrumada, mas muito mais arrumada, do que nós herdamos.”
O ministro ainda disse que houve um exagero por parte do mercado em relação à piora das perspectivas da economia nacional e acrescentou que espera uma acomodação do nível do câmbio.
“Hoje o dólar está valorizado no mundo inteiro, e nós vamos sentir os efeitos disso aqui no Brasil, embora eu considere que tenha havido um exagero do mercado em relação à perspectiva da economia brasileira, para pior”, afirmou.
Segundo Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, o mercado brasileiro agiu com “pessimismo excessivo” e de forma “exagerada” aos dados de crescimento, inflação e juros do final do ano passado, o que afetou o câmbio e a Bolsa, levando a precificações recordes.
A moeda brasileira passou por forte depreciação no fim do ano passado, com questionamentos sobre a responsabilidade fiscal do governo e a sustentabilidade da dívida pública, e em meio a uma forte saída de dólares do país que levou o BC (Banco Central) a intervir no câmbio. Ao todo, acumulou queda de 27% em relação ao dólar.