SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Dossiê sobre Balneário Camboriú (SC), cidade que virou hit do verão, falhas estruturais em projetos do Minha Casa, Minha Vida levam a um aumento do número de processos contra a Caixa e outros destaques do mercado nesta segunda-feira (6).

**DESCENDO PARA BC**

Cerca de 2 milhões de pessoas passaram a virada do ano em Balneário Camboriú, em Santa Catarina, segundo o Ministério do Turismo.

A cidade foi a inspiração do hit do verão, uma mistura de funk e sertanejo chamada “Descer pra BC”, interpretada pela dupla Brenno & Matheus.

Ela ajuda a demonstrar a mudança da imagem do litoral sul do país: com alguns dos prédios mais altos do Brasil, carros de luxo, festas e outras comodidades, Balneário Camboriú entrou para a lista de destinos mais desejados.

CRESCIMENTO

Segundo o Censo de 2022, a população da cidade subiu 28,74% em relação a 2010. O PIB per capita cresceu de R$ 25 mil em 2011 para R$ 49 mil em 2021, de acordo com o IBGE.

Tem o metro quadrado mais caro na venda de imóveis no Brasil: R$ 3.762/m², conforme o calculado pelo índice FipeZap (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) de novembro de 2024.

ARRANHANDO OS CÉUS

Uma parte desse crescimento se deve ao mercado imobiliário.

Os apartamentos luxuosos nos prédios mais altos do país cercam a paisagem litorânea. A ostentação alimenta o turismo e vice-versa.

↳ Para ser considerado um arranha-céu, um prédio tem que ter mais de 150 metros de altura.

↳ Segundo o ranking do Skyscraper Center, site especializado no assunto, seis dos dez prédios mais altos do Brasil estão em Balneário Camboriú.

Os maiores são os Yachthouse 1 e 2, com 294 metros de altura cada um.

Em terceiro lugar, o One Tower, com 290 metros.

Com espaço pequeno, Balneário Camboriú (SC) escolhe a verticalização como forma de atrair turismo

Protagonistas. Os principais agentes da corrida aos céus são as construtoras Plaenge, uma das líderes em prédios de luxo, e a FG Empreendimentos.

↳ A Plaenge atua desde a década de 1970 no setor e desenvolve projetos industriais e imobiliários. Em 2023, as vendas líquidas atingiram R$ 2,77 bilhões. Encontrou na classe alta catarinense um nicho que busca prédios tecnológicos e símbolos de status.

Os Yachthouses são uma parceria da construtora com a Pininfarina, empresa italiana de design.

↳ A FG Empreendimentos apareceu na década de 90 e é comandada pela mesma família desde então. A companhia tomou para si o desafio de construir prédios cada vez mais altos, sobretudo na cidade que discutimos aqui.

O One Tower foi construído com um investimento de R$ 650 milhões da família Hang –sim, a mesma do Luciano Hang e dona da Havan. Foram nove mil toneladas de aço para colocar seus 84 andares de pé.

A FG constrói a Senna Tower, com a pretensão que a torre se torne a mais alta do país e o prédio residencial mais alto do mundo. Ele terá pêndulos de 1.000 toneladas para amenizar o vento.

SOL Y SOMBRA

Os arranha-céus trouxeram turistas e a sensação de que o futuro já começou em Santa Catarina. Entretanto, tirou o sol da praia, antes principal atração local.

Para tentar solucionar o problema de que a Praia Central ficava sob a sombra dos prédios durante boa parte do dia, a cidade alargou a faixa de areia em uma obra entregue em 2021.

A largura passou de 25 metros para 70 metros.

Em 2024, a praia encolheu de novo. Passou de 70 metros para 55, após uma obra de reurbanização –a princípio, para evitar que a ressaca do mar invada a pista da avenida paralela ao limite natural.

A empreitada quer criar um “parque linear” com mais espaço para pedestres e ciclistas na obra, incluindo opções como “playgrounds” para crianças e “dog parks” para pets.

A obra foi loteada em 18 partes, e a primeira já foi bancada pela FG.

Prédios escondem sol na praia e a substituem no papel de principal atração turística de Balneário Camboriú (SC)

Tudo tem a ver com grana. A reurbanização da orla deve valorizar os imóveis que a cercam em 30%.

O trabalhador mora ao lado. O metro quadrado mais caro do Brasil pesa no bolso de quem trabalha no balneário.

O turismo de luxo empurrou os trabalhadores para a cidade vizinha, Camboriú, onde os aluguéis são um pouco menores.

De acordo com a Prefeitura de Camboriú, cerca de 35 mil pessoas que residem na cidade seguem para trabalhar em Balneário.

🌌Lá em cima, céu azul. O ex-prefeito, Fabrício Oliveira (PL), que deixou o cargo nos primeiros dias de 2025, defendia que a especulação imobiliária na cidade era legítima e defendeu os prédios gigantes como um “arrojo que ajudou a cidade”.

A prefeita atual, Juliana Pavan (PSD), diz que vai investir em programas de aluguel social e buscar parcerias com o município vizinho.

**MINHA CASA, MEU PROCESSO**

Falhas estruturais em construções de moradias para o programa Minha Casa, Minha Vida aumentaram as ações na Justiça que pedem indenizações à Caixa.

↳ A CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) estima o total atual em 90 mil ações.

↳ A Caixa Econômica Federal diz que só em 2024 foram 8.500, apenas considerando a faixa 1 do programa.

A faixa 1 é destinada a famílias com menor renda. Para usufruir dela, a renda bruta familiar mensal deve ser de até R$ 2.640,00. É possível conseguir um imóvel com subsídio de 95% do governo federal.

CASA CAINDO

Nas ações por falha, os principais danos apontados são fissuras e rachaduras nas paredes, caixas de esgoto que cedem e obras em que o teto é desnivelado.

Para seguir com o processo, um profissional designado pela Justiça precisa fazer uma perícia no imóvel e atestar que há defeitos nele.

Prejuízo nos cofres. Em 2024, a Caixa teve que pagar mais de R$ 92,4 milhões em ações judiciais envolvendo vícios de construção na faixa 1 do Minha Casa, Minha Vida, segundo o próprio banco.

DESCONFIANÇA

O aumento dos processos levou a desconfianças da CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

Por um lado…a Justiça apura a possibilidade de haver uma indústria de indenizações que nem sempre existiam na construção.

Essa é uma declaração do presidente do CNJ e do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso, à Folha.

Por outro…advogados que defendem as causas afirmam que há uma “indústria de construção predatória” no programa.

“Eles [construtoras] escolheram um público-alvo vulnerável, pessoas hipossuficientes, que é a faixa 1″, diz o advogado cearense Flávio Pimentel, que ajuizou, segundo ele, 4.500 ações sobre o assunto.

Ele argumenta que as construtoras não atendem aos padrões mínimos do programa, e por isso entregam moradias com defeitos na estrutura.

E a Caixa? Negou em um primeiro momento o acesso aos dados totais de valores pagos em ações judiciais por vício de construção, alegando que “o fornecimento de valores pode comprometer a estratégia processual para o tratamento do referido acervo”.

Ela diz que “tem atuado na defesa das ações judiciais que alegam vícios construtivos em imóveis construídos pelo Minha Casa, Minha Vida”.

**SEM BARATO**

A indústria da maconha dos Estados Unidos murchou depois de frustração com o governo de Joe Biden, que começou em 2021 e termina neste mês.

DESÂNIMO

Durante a campanha eleitoral, o novo presidente dos EUA, Donald Trump, mostrou-se apoiador de várias medidas de reforma da cannabis.

Em setembro de 2024, disse que apoiaria a liberação do uso recreativo da planta na Flórida.

Ainda sim, a vitória do republicano não animou o mercado.

HISTÓRICO

A maconha, tanto em seu uso medicinal, quanto no uso recreativo, ganhou espaço nos Estados Unidos nos últimos dez anos.

Em 2012, Washington e Colorado se tornaram os primeiros estados a permitir a venda de maconha para uso recreativo.

Em 2024, os americanos gastaram cerca de US$ 29 bilhões em maconha legal.

PROMESSAS

Durante sua campanha para a presidência em 2020, Joe Biden prometeu descriminalizar a maconha, o que animou investidores em diferentes estados.

No final de 2020, a Casa Verde, uma empresa de investimento em cannabis co-fundada pelo rapper Snoop Dogg, arrecadou US$ 100 milhões.

Mas…nunca cumpriu. A descriminalização a nível nacional não saiu durante seu mandato, e a causa caminhou a nível estadual, com cada unidade federativa criando seus próprios parâmetros de uso.

↳ As iniciativas de permitir o uso recreativo na Flórida e nas Dakotas do Sul e do Norte fracassaram.

CONCORRÊNCIA DESLEAL

A cannabis legalizada enfrenta dois principais adversários: o mercado ilegal e o “cânhamo intoxicante”, uma variação mais fraca da planta.

Estima-se que o comércio paralelo à lei seja mais de duas vezes maior que o autorizado, e enfrenta menos restrições e burocracias na venda.

Com isso, o preço da maconha permitida está em níveis historicamente baixos. A indústria está em desaceleração e cresceu menos de 1% em 2024.

↳ O American Cannabis Operator Index, que acompanha o valor de mercado das empresas do setor, caiu mais de 90% desde fevereiro de 2021.

Por isso…as expectativas do mercado não melhoraram com a vitória de Trump, ainda que ele tenha falado sobre uma expansão da legalidade. Os investidores já assistiram a esse filme antes.

**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**

EUA,

EUA afrouxam regras para hidrogênio verde na corrida para impulsionar o setor

Tesouro americano adia requisitos mais rigorosos para reivindicar créditos fiscais antes do retorno de Trump

COMBUSTÍVEIS

Gasolina inicia 2025 pressionada por defasagem de preço e aumento de ICMS. Imposto estadual sobre combustíveis sobe em fevereiro, em meio a alta do dólar e do petróleo.

ENERGIA

Congresso e governo Lula causam peso extra de mais de R$ 300 bi na conta de luz. Custos adicionais contratados em 2024 vêm de alta de subsídios a empresas, erros de projeção e falta de pente-fino em benefício social; ministério diz que busca segurança energética no país.