RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A água está uma piscina hoje, gritou uma vendedora ambulante para a dona de uma barraca na praia da Glória, zona sul do Rio de Janeiro, nesta sexta-feira (3).

Pipocam nas redes sociais vídeos com títulos como “descobri a praia mais escondida do Rio”, “visitei a praia secreta do Rio”. São conteúdos sobre a chamada Prainha da Glória, novidade dos últimos dois verões cariocas.

A faixa de areia na altura do bairro da Glória nunca esteve escondida — só não era tão visitada. Medições da qualidade da água começaram a indicar balneabilidade a partir de 2023, e a fama de bom lugar se consolidou neste verão, atraindo cariocas e turistas.

Nesta sexta, a primeira de 2025, boa parte da praia estava ocupada.

A praia fica no parque do Flamengo, área urbana com pouco mais de 1 km de extensão (em linha reta). A atualmente chamada prainha da Glória é um trecho de areia de pouco mais de 200 metros, margeado por árvores que dão sombras e encostado nas pedras que separam a praia da Marina da Glória, onde ficam estacionados barcos e lanchas. Todo o resto da orla é a praia do Flamengo.

Mais próxima da Central do Brasil e de outros terminais rodoviários, as praias da Glória e Flamengo eram frequentadas por moradores de outras partes da região metropolitana, especialmente famílias com crianças que desejavam fugir da agitação e eventual caos de Copacabana.

O mar da baía de Guanabara que bate ali quase não tem ondas. A água calma, de cor escura — e suja, durante muitos anos — contribuiu para o apelido de Praia do Brejo, hoje superado.

O governo estadual, responsável pelo Inea (Instituto Estadual do Ambiente), órgão que classifica a balneabilidade das praias, atribui a melhoria a um conjunto de fatores, como a mudança no tratamento de esgoto e ações com as concessionárias.

A praia do Flamengo é a foz do rio Carioca, que tem 4,3 km de extensão e nasce na floresta da Tijuca, mas passa por bairros populosos até chegar à baía.

A Águas do Rio, concessionária responsável pela distribuição de água em parte da cidade, afirma que a balneabilidade é resultado da implantação de sistemas de bombeamento de esgoto, o desvio do rio Carioca para o interceptor oceânico, o desassoreamento de sistemas e ações contra o despejo irregular de esgoto.

Ainda que alguns moradores e visitantes arriscassem o banho de mar, a água da praia do Flamengo figurou, de 2000 a 2023, com qualidade péssima ou má na qualificação anual histórica do Inea (Instituto Estadual do Ambiente). Como comparação, Copacabana esteve entre boa e ótima. Já o Leblon tem balneabilidade entre ruim e péssima desde 2016, segundo levantamento da reportagem.

Medições semanais do Inea feitas na praia do Flamengo ao longo de 2024 apontaram balneabilidade permitida em boa parte do ano. A praia da Glória começou a ser medida em setembro, e de 26 medições até dezembro, esteve própria para banho em 20.

O Inea faz amostram da qualidade das praias duas vezes por semana. As amostras são levadas para o laboratório do instituto, na Barra da Tijuca, responsável pelas classificações de balneabilidade. Uma praia é considerada própria ou imprópria a partir dos níveis de indicadores microbiológicos presentes na água.

A balneabilidade é imprópria, por exemplo, caso o resultado da análise for superior a 2.500 NMP (número mais provável) de coliformes termotolerantes por 100 ml.

No Rio antigo havia a praia do Russel na região. Em dias de ressaca, a água da baía de Guanabara chegava quase aos pés do outeiro de Nossa Senhora da Glória. Hoje a igreja fica a quase 1 km de distância do mar. A região foi aterrada para a construção de vias e do parque do Flamengo.

A prainha da Glória estava movimentada na primeira semana de 2025, a reboque de turistas que permaneceram na cidade após o Réveillon. “O clima aqui nessa praia é diferente”, diz o paulistano Elmo Fernandes, com um grupo de três cariocas, uma mineira e duas americanas. “Tem mais árvores, mais facilidade para estacionamento, uma divisão melhor da areia”.

A taxa de ocupação dos hotéis segue acima de 90%, e mais de 300 quiosques da orla do Leme ao Pontal esperam receber 200 mil pessoas no primeiro fim de semana.

“Dezenas de quiosques já receberam pedidos de reserva e, para atender o público com excelência, foram contratados novos colaboradores para o período”, afirma João Marcello Barreto, presidente da concessionária Orla Rio.

O movimento na Glória e Flamengo também é positivo para vendedores ambulantes como o casal Márcia Fernandes e Washington Fernandes, que vende marmitas aos finais de semana.

“O movimento tem aumentado muito e é uma praia muito popular, as pessoas consomem e vendem tudo muito rápido. Já tentei vender em Copacabana e não tive sucesso. Aqui, vendo cerca de 40 quentinhas em duas horas”, afirma Márcia, que aumentou o valor da marmita após perceber maior movimentação de público.