SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O aumento da taxa básica de juros e a piora das condições financeiras são fatores que devem contribuir para um crescimento menor da economia brasileira em 2025. As expectativas, no entanto, estão longe de um cenário recessivo ou mesmo de estagnação.
O consumo deve continuar a crescer, impulsionado por fatores como mercado de trabalho aquecido, gastos governamentais ainda relevantes e safra agrícola contribuindo para as exportações. O impacto do aperto monetário sobre os investimentos, no entanto, é incerto.
A maioria dos economistas avalia que o PIB (Produto Interno Bruto) deve ter uma expansão de pelo menos 2%, depois de crescer por três anos seguidos no patamar de 3% a 3,5% -resultados que superaram as expectativas tanto do setor privado como do governo.
Em janeiro de 2024, a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda dizia estar “otimista”, cravando uma projeção de 2,2% para o resultado do ano. As previsões do Banco Central e dos analistas de mercado, na época, estavam pouco acima de 1,5%.
Na proposta de Orçamento de 2025, o governo trabalha com um crescimento real de 2,64% para o ano, acima dos 2% dos economistas consultados na pesquisa Focus e dos 2,1% esperados pelo Banco Central.
Para a autoridade monetária, os maiores riscos para esse cenário são um crescimento global menor que o de 2024 e um impacto da piora nas condições financeiras internas mais intenso que o esperado atualmente. O BC não descarta a possibilidade de novas surpresas positivas, pois avalia que parte do forte resultado nos últimos anos pode estar relacionada a reformas que elevaram o crescimento potencial do país.
Felipe Salles, economista-chefe do C6, afirma que uma expansão na casa de 2% significa trazer a economia para um ritmo mais próximo do seu potencial e que, em 2025, será sustentada em grande parte por estímulos do governo e pelo bom desempenho das exportações de commodities.
O principal motivo para a desaceleração será a alta de juros -o banco projeta uma taxa Selic de 15% ao ano- e seus efeitos sobre os investimentos (formação bruta de capital fixo), que não deve crescer, afirma o economista. Para ele, o mercado de trabalho continuará aquecido, mas com os bons indicadores atuais “andando de lado”.
“Apesar da desaceleração da economia, a gente não vê aumento do desemprego ou deterioração no mercado de trabalho. Para isso acontecer, o PIB tem que ter um desempenho muito aquém desse 2%”, afirma o economista-chefe do C6. “O mercado de trabalho vai continuar aquecido, mas não vai continuar aquecendo.”
Andrea Damico, economista chefe da Armor Capital, projeta um crescimento de 1,8% no ano e não destaca a possibilidade de aumento do desemprego a partir do segundo semestre. Ela avalia que uma taxa básica chegando a 14,5% ao ano e medidas adicionais para conter o impulso fiscal vão contribuir para desacelerar a atividade, colocar a inflação abaixo do teto da meta (4,5%) e trazer o dólar para próximo de R$ 5,90.
“O governo, na nossa visão, vai em algum momento entregar alguma coisa a mais no fiscal. O próprio ministro Haddad já sugeriu isso. Se não houver mais nada, a gente tem que discutir um cenário um pouco pior, de um câmbio mais depreciado, ao redor desses R$ 6,10, R$ 6,20, uma inflação também mais alta e um juros mais alto”, afirma.
Para ela, o consumo deve sentir menos essa política econômica contracionista. Já o investimento é um forte candidato a reagir de maneira mais intensa, impactado também por um câmbio que encarece a compra de bens de capital importados e pela queda na confiança do empresariado. “O setor empresarial também está preocupado. Essa piora da confiança não é só do mercado.”
As projeções mais recentes do boletim Focus mostram um IPCA próximo de 5%, um câmbio de R$ 6,00 e uma taxa básica de juros de 15% ao ano no final de 2025.