SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ricardo Nunes (MDB) tomou posse para um novo mandato como prefeito de São Paulo nesta quarta-feira (1º). Aos 57 anos, ele é o décimo prefeito a comandar a capital paulista desde a redemocratização do país.

A cerimônia -que também deu posse ao vice-prefeito, Ricardo Mello Araújo (PL), e aos vereadores- ocorreu no Palácio Anchieta, sede da Câmara Municipal. A sessão foi presidida pelo vereador Eliseu Gabriel (PSB), por ser o parlamentar mais velho da Casa.

O discurso de início de segundo mandato do prefeito foi marcado por uma tentativa de moderação, sem deixar de lado o seu agradecimento pessoal ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), a quem chamou de “um grande amigo”.

“A humildade deve guiar nossos passos. É o meu pensamento. Nenhuma diferença pode ser maior do que a convergência a favor do povo dessa cidade. Nada pode interferir quando o que está em jogo é o bem-estar da população. A ideologia nunca pode ser mais importante do que o dia-a-dia.”

“Podem contar comigo para tudo que for diálogo, solução e resolução de impasses. O Brasil precisa ser pacificado consigo mesmo. Onde reina o trabalho, não reina a discórdia. Onde reina a colaboração, não reina a divisão. Onde reina o propósito, não reina o confronto. São Paulo e o Brasil podem contar comigo como um agente da moderação e do diálogo leal e democrático”, disse Nunes.

Nunes afirmou que é o primeiro prefeito da história da cidade que veio da periferia e se descreveu como “um homem das antigas, que cumpre o que é tratado no fio do bigode”.

Ele também repetiu três vezes uma frase de seu antecessor, Bruno Covas: “São Paulo é maior que todos nós”. Era um apelo contra vaidades e projetos individuais na política. Nunes classificou Covas como “um dos maiores homens públicos que tivemos o privilégio de conhecer”.

Educação, habitação e geração de emprego foram os destaques entre as promessas de governo. “Os próximos serão os melhores quatro anos da história da cidade de São Paulo”, prometeu.

No início do discurso, fez um aceno ao vereador Milton Leite (União Brasil), que deixa a Câmara após 28 anos como vereador. Foi o primeiro a receber agradecimentos de Nunes depois da família. O prefeito afirmou que Leite deixa um “grande legado” e ressaltou a aprovação de 102 projetos de lei enviadas pelo Executivo em 2024.

Outro que recebeu afago do prefeito foi o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem Nunes agradeceu pelo apoio e por ter indicado o vice na chapa.

O emedebista foi reeleito após derrotar o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) no segundo turno das eleições de outubro -foi a segunda vez consecutiva que Boulos ficou em segundo lugar na disputa pela prefeitura paulista.

Em seu discurso inaugural, Eliseu Gabriel optou por fazer um discurso sobre ciência e política educacional. Ele comentou um caso de fracasso de políticas para a educação nos Estados Unidos baseada em princípios de livre mercado, que eram consensuais na política americanas mas mostraram-se ineficazes.

Assim, ele lançou um aviso aos novos vereadores: “cuidado com o senso comum, cuidado com tudo na política que parece óbvio demais”.

A cerimônia teve gritaria e provocações entre parlamentares de esquerda e de direita. Ao serem chamados ao microfone para fazer o juramento, os vereadores passaram a fazer manifestações políticas, o que levou vários a responderem com declarações mais longas.

O plenário se inflamou quando a última vereadora a tomar posse, Zoe Martinez (PL), disse “Viva Bolsonaro”. Integrantes da esquerda gritaram “Sem Anistia” em resposta. Antes disso, Silvia da Bancada Feminista (PSOL) havia levantado um papel com a frase “sem anistia para golpista”.

A campainha do plenário foi acionada e o presidente da sessão pediu ordem a todos.

Nunes assumiu a administração da capital paulista em maio de 2021, após a morte por câncer de Bruno Covas (PSDB), de quem era vice-prefeito. Nascido na periferia da zona sul, foi vereador por dois mandatos e se projetou na região a partir da atividade empresarial no ramo da dedetização.

Mello Araújo, seu vice, é coronel da reserva da Polícia Militar e já foi diretor-presidente do Ceagesp (Companhia de Armazéns Gerais do Estado de São Paulo), uma empresa pública federal, por três anos. De 2017 a 2019, ele comandou a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), tropa de elite da PM conhecida pelos altos índices de letalidade.

O acordo para que Mello Araújo concorresse na chapa que saiu vitoriosa ocorreu por indicação pessoal de Bolsonaro, de quem é homem de confiança. Além da vice-prefeitura, ele assume também a Secretaria Executiva de Projetos Estratégicos. Em seu discurso, Araújo agradeceu ao “meu amigo Bolsonaro” por tê-lo convencido a entrar na política. “Eu não queria”, afirmou, e disse que o ex-presidente insistiu com a seguinte frase: “os bons têm que entrar”.

Com previsão de R$ 125,7 bilhões em receitas para 2025, Nunes terá o maior orçamento da história. O valor é 12% a mais que o aprovado para 2024.

Ele inicia seu segundo mandato com 82% do Plano de Metas da prefeitura para o período 2021-2024 concluído. Isso após sua própria gestão ter revisado o programa e desistido de inaugurar quatro terminais de ônibus e dois corredores BRT e, também, de construir 11 piscinões em locais afetados pelas enchentes, entre outros pontos. As áreas de educação, cultura e mobilidade estão entre aquelas que não foram concretizadas.

Ao longo de sua campanha, ele exaltou conquistas como a fila da creche zerada, o recapeamento recorde, a tarifa zero de ônibus aos domingos e a faixa azul exclusiva para motos. Apesar desses investimentos, a capital teve em 2024 o maior número de mortes no trânsito dos últimos nove anos, considerado o período de janeiro a novembro.

O tempo de deslocamento aumentou, em média, 10 minutos para aqueles que usam o transporte público na capital, e aqueles que usam o sistema de ônibus municipal relatam mais tempo de espera pelas lotações.

Algumas das primeiras mudanças na estrutura do secretariado foram publicadas no Diário Oficial do primeiro dia do ano. A secretaria de Cultura, por exemplo, passa a incluir também a área de economia criativa. As secretarias de Transporte e Trânsito tiveram seus nomes alterados. O prefeito anunciará seu secretariado completo durante uma cerimônia no Theatro Municipal na tarde desta quarta.

Se completar o mandato que assumiu nesta quarta, Nunes pode se tornar o prefeito mais longevo da história recente da capital paulista. Considerando o tempo que já ficou no cargo após a morte de Bruno Covas, ele pode permanecer, ao todo, 7 anos e 7 meses no comando.