PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – O prefeito reeleito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), foi reconduzido ao cargo em cerimônia de posse na tarde desta quarta-feira (1º). Ele tem o desafio de liderar a reconstrução da capital gaúcha após as enchentes históricas que atingiram o Rio Grande do Sul em maio de 2024.

Invertendo o protocolo, a posse foi dividida em duas etapas. A oficialização foi realizada no plenário da Câmara Municipal de Porto Alegre junto aos vereadores eleitos. Outra cerimônia foi agendada para ocorrer às 18h na Usina do Gasômetro, prédio histórico na orla do lago Guaíba, que estava fechado para reformas desde 2017.

Tanto a Câmara quanto a Usina foram afetadas pelas cheias de maio: nos dois lugares, a água atingiu quase 1,5 metro durante o pico da enchente do Guaíba.

Melo foi empossado ao lado da vice-prefeita Betina Worm (PL), a primeira mulher a ocupar um cargo no Executivo municipal na história de Porto Alegre. O vice no primeiro mandato, Ricardo Gomes (PL), optou por não disputar a reeleição.

Veterinária e tenente-coronel do Exército, Betina nunca havia disputado cargos eletivos. Sua entrada na política partidária ocorreu em julho deste ano, quando se filiou ao PL na convenção municipal do partido, com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Betina é uma aliada do deputado federal Luciano Zucco (PL), homem-forte de Bolsonaro no Rio Grande do Sul.

O apoio de lideranças conservadoras consolidou uma aliança ampla com partidos de centro e centro-direita, e garantiram a vitória em segundo turno com 62% dos votos válidos, contra 38% da deputada federal Maria do Rosário (PT).

A eleição foi marcada por uma abstenção histórica, que se aproximou dos 35% no segundo turno.

Melo assume com parte do secretariado ainda em negociação, conduzindo tratativas com os oito partidos que o apoiaram no primeiro turno (MDB, PL, PRD, PSD, PODE, PP, Republicanos e Solidariedade), além de PSDB, Cidadania e Novo, que aderiram na segunda etapa da campanha.

A oposição, composta por PT, PSOL e PCdoB, contará com 12 das 35 cadeiras do legislativo municipal, suficiente para abrir comissões parlamentares de inquérito sem apoio da base governista. Um dos principais embates previstos para 2025 é a discussão do plano diretor da cidade, cuja proposta deve ser enviada à Câmara no primeiro semestre.

Entretanto, Melo deve ter facilidade para aprovar seus projetos prioritários. Um deles, anunciado no começo de dezembro, é a concessão do Dmae (Departamento Municipal de Água e Esgotos) para a iniciativa privada.

A privatização do departamento responsável pelo abastecimento de água e drenagem urbana já era defendida antes da eleição por Melo, que alegava a necessidade de adequação ao marco legal do saneamento.

Ainda em dezembro, Melo solicitou à Câmara de Vereadores a manutenção do Escritório de Reconstrução e Adaptação Climática de Porto Alegre por mais um ano. Criado em caráter extraordinário, o órgão coordena as ações de recuperação da cidade em âmbito municipal e acompanha as ações dos poderes estadual e federal.

A enchente de maio danificou a rede de escoamento de água pluvial e esgotos em Porto Alegre, e alagamentos se tornaram maiores e mais frequentes em dias de chuva.

A prefeitura já investiu R$ 382 milhões em obras de reconstrução, enquanto aguarda a liberação de verbas federais. O sistema de proteção contra enchentes prevê 114 intervenções, das quais 45 estão em andamento, com investimentos estimados em R$ 520 milhões.

Somente o sistema de proteção tem 114 obras previstas, com 45 já em andamento, e previsão de investimentos na casa de R$ 520 milhões.

Outro desafio é ligado à educação, área em que Melo enfrentou desgastes nos últimos meses. O prefeito reeleito se comprometeu a zerar a fila de creches para crianças de 0 a 3 anos e reverter os baixos resultados sucessivos apresentados pelo Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).

Além disso, sua gestão sofreu desgastes após a prisão da ex-secretária da Educação Sônia da Rosa, acusada de envolvimento em um esquema de desvio de verbas na compra de materiais escolares.

Uma nova etapa da investigação levou ao afastamento do vereador suplente em exercício Pablo Melo (MDB), filho do prefeito, por 180 dias. Outro revés para o clã Melo veio quando a Justiça indeferiu a candidatura de Pablo, que havia recebido votos suficientes para se eleger, com base na lei que impede a eleição de parentes próximos de chefes do Executivo no mesmo território.