FOLHAPRESS – “Pôr do sol, é melhor tomar cuidado / Se eu descobrir que você andou espreitando pela minha escada dos fundos”, canta Gordon Lightfoot na chegada do protagonista, Ben, vivido pelo ator Lewis Pullman, à pequena cidade de Jerusalem’s Lot.

A letra do músico canadense para a balada “Sundown”, um de seus clássicos, abre a nova versão de “A Hora do Vampiro”. Faria muito bem ao filme se o ritmo de Lightfoot e sua melodia desencantada sobre dores e amores perdidos fossem seguidos mais à risca.

Mas a adaptação aqui é do segundo romance de Stephen King, publicado em 1975 e transformado duas vezes antes em minisséries de TV —uma em 1979, pelo grande Tobe Hooper, e outra em 2004, nas lentes do inexpressivo Mikael Salomon. Por motivos corporativos nunca exatamente explicados, este longa-metragem “A Hora do Vampiro”, de 2024, que seria lançado nos cinemas, acabou por cair direto no streaming da Max.

Isso faz com que nenhuma das três transposições diretas do livro de King tenha sido exibida em circuito de salas. O privilégio da telona ficou apenas à inusitada continuação da série de Hooper escrita e dirigida por Larry Cohen em 1987, “Os Vampiros de Salem –O Retorno”, sem conexão com a história literária para além de referências básicas.

“A Hora do Vampiro” tem direção de Gary Dauberman, operário da linha de montagem de James Wan e da produtora Atomic Monster e roteirista de todos os “Annabelle”. Ele chega montado num histórico bastante familiar aos interessados por vampiros e precisa dialogar com as gerações que têm um primeiro contato com o assumido pastiche de “Drácula” escrito por King a partir de seu fascínio pelo romance gótico de Bram Stoker, de 1897.

O filme mantém a ambiência no mesmo ano de 1975 da trama original, o que o leva a ares nostálgicos que viraram fetiche em adaptações recentes de King, especialmente depois do sucesso da duologia “It” em 2017 e 2019 —não coincidentemente roteirizada por Dauberman a partir de um livro do mesmo autor.

Apesar de menos genérico que sua estreia na direção com “Annabelle 3 – De Volta para Casa” em 2019, Dauberman segue pouco habilidoso no trato com climas e situações insólitas. Seu “A Hora do Vampiro” é um amontoado de momentos que de vez em quando formam um corpo narrativo rumo ao clímax, com personagens indo e vindo sem maiores propósitos para além de aparecer e desaparecer de cena.

É perceptível a ambição de enredar o espectador na construção do suspense desenvolvido por King no livro e relativamente bem capturada por Tobe Hooper em 1979, fazendo da cidade de Jerusalem’s Lot e seus tipos humanos com hábitos esquisitos parte essencial do envolvimento. Só que o filme é prejudicado pela falta de vigor dramático, pelos efeitos visuais com aspecto de incompletude e por evidentes cortes truncados de montagem, talvez exigidos pelo estúdio, que não deixam nenhuma sequência de fato acontecer por inteiro.

Fica mais sofrido para Dauberman emplacar “A Hora do Vampiro” nessas circunstâncias questionáveis a uma audiência em potencial que viu, poucos anos atrás, a minissérie “Missa da Meia-Noite”, feita por Mike Flanagan para a Netflix em 2021. Apesar do roteiro original, Flanagan adaptou informalmente “Salem’s Lot”, o livro de King rebatizado no Brasil de “A Hora do Vampiro”, e fez um de seus melhores trabalhos. A exuberância da série de Flanagan vem à mente sempre que Dauberman tenta e não consegue escapar do medíocre.

Há espasmos de emoção nos vinte minutos finais de “A Hora do Vampiro”, numa perseguição por um cinema drive-in, só que a mistura de “Scooby-doo” com “Supernatural” tira a gravidade do que poderia ter algum impacto. Resta, no fim, a volta da música de Gordon Lightfoot, de novo entoada com a melancolia da saudade do que não vivemos: “Às vezes acho que é um pecado / Quando me sinto como se estivesse vencendo, mas estou perdendo de novo”.

A HORA DO VAMPIRO

– Avaliação Ruim

– Onde Disponível no Max

– Classificação 16 anos

– Elenco Lewis Pullman, Makenzie Leigh, Jordan Preston Carter

– Produção Estados Unidos, 2024

– Direção Gary Dauberman