Em Goiás, os registros de violência contra a mulher tiveram uma discreta queda entre janeiro e setembro de 2024. Os casos de estupro reduziram de 540 em 2023 para 526 neste ano, enquanto os feminicídios passaram de 46 para 42. Apesar da diminuição ser um reflexo de esforços contínuos, ela ainda é insuficiente diante da gravidade do problema. A violência contra a mulher continua a ser uma das maiores tragédias, não apenas em Goiás, mas em todo o Brasil e no mundo.

Dados globais são igualmente preocupantes: em 2023, cerca de 85 mil mulheres e meninas foram assassinadas intencionalmente, sendo 60% dos casos cometidos por parceiros íntimos ou familiares. Isso significa que, a cada 10 minutos, uma mulher ou menina perde a vida devido à violência. Por trás dessas estatísticas, há histórias de sofrimento e dor que não podem ser ignoradas.

Para enfrentar essa realidade, a Polícia Civil de Goiás concluiu mais de 10 mil inquéritos relacionados à violência contra mulheres em 2024. Além disso, a revitalização da Delegacia Estadual de Atendimento Especializado à Mulher (Deaem) reforça o compromisso das autoridades em avançar no combate à violência. No entanto, segundo o governador do Estado, medidas repressivas não bastam. É essencial fornecer suporte financeiro e psicológico às vítimas, por meio de programas como o Aluguel Social e iniciativas de inserção no mercado de trabalho, que ajudam a romper o ciclo da violência doméstica.

Culpabilização da vítima: uma barreira ao acesso à justiça

Ana (nome fictício), vítima de violência doméstica em Pontalina de Goiás, compartilhou sua difícil experiência ao buscar justiça. Durante o processo judicial, ela foi revitimizada, enfrentando preconceito e descaso. Na decisão de primeira instância, as agressões que sofreu foram atribuídas à sua reconciliação com o ex-companheiro, ignorando o impacto do ciclo de violência e o fato de que seu filho presenciou um dos episódios de agressão.

A defensora pública Tatiana Bronzato, coordenadora do Nudem, destaca que o ciclo da violência, incluindo a chamada “lua de mel” após as agressões, dificulta o rompimento por parte das vítimas. Dados de uma pesquisa revelam que 44% das vítimas sentem medo extremo, mas apenas 30% registram queixas e 17% solicitam medidas protetivas.

Ao recorrer da decisão judicial, Bronzato argumentou que a reconciliação entre vítima e agressor não elimina os riscos de novas agressões. Ela defendeu a aplicação do Protocolo para Julgamento com Perspectiva de Gênero, que busca evitar a revitimização e combater estereótipos de gênero. Graças ao recurso, a decisão foi reformada, reconhecendo a responsabilidade do agressor.

“Hoje, me sinto aliviada em saber que a Justiça reconheceu o caso e que a culpa não era minha”, afirma Ana, cujo caso exemplifica a importância de garantir uma abordagem sensível e inclusiva ao tratar a violência contra a mulher.