BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro Fernando Haddad (Fazenda) disse nesta quarta-feira (11) que o aumento de um ponto percentual na taxa básica de juros, a Selic, foi surpresa “por um lado”, mas que por outro já havia “uma precificação nesse sentido”.

Ele ainda minimizou eventual impacto da política fiscal do governo na decisão do Banco Central. Segundo o ministro, cálculos do mercado sobre a economia a ser obtida com o pacote de medidas anunciado no fim de novembro têm se aproximado das estimativas do governo.

Questionado sobre se o quadro fiscal não seria um fator de peso no balanço de riscos do BC na decisão de subir os juros, Haddad disse que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “está perseguindo as metas estabelecidas”.

“Do ponto de vista fiscal, nós estamos perseguindo as metas estabelecidas já há um ano”, disse o ministro. “A gente mandou um ajuste que nós consideramos adequado e viável politicamente. Você pode mandar o dobro para lá [Congresso Nacional], mas o que vai sair é o que importa. Nós procuramos calibrar o ajuste para as necessidades de manutenção da política fiscal”, acrescentou.

O próprio comunicado do Copom (Comitê de Política Monetária), porém, citou que a percepção dos agentes econômicos sobre o recente anúncio fiscal afetou “de forma relevante” os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio.

“Avaliou-se que tais impactos contribuem para uma dinâmica inflacionária mais adversa”, disse o comunicado do Banco Central.

Nesta quarta-feira (11), o colegiado decidiu, em seu último encontro de 2024, fazer uma alta de juros mais agressiva e elevou a taxa básica em 1 ponto percentual, de 11,25% para 12,25% ao ano. A decisão foi unânime.

No comunicado, o Copom ainda antecipou que prevê mais dois aumentos de mesma intensidade nas reuniões de janeiro e março, o que levaria os juros a 14,25% ao ano. “Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões”, afirmou.

No cenário fiscal, o governo prevê poupar R$ 71,9 bilhões com as medidas de contenção de gastos entre 2025 e 2026. Como mostrou a Folha de S.Paulo, a equipe econômica avalia que este número pode ser até maior e chegar a R$ 80 bilhões. No mercado financeiro, porém, há dúvidas quanto à potência do pacote, e o ceticismo tem sido alimentado pelas resistências dos parlamentares a parte das iniciativas.

Haddad, porém, disse ver sinalizações de que aos poucos os economistas estão convergindo na direção dos números oficiais. “Hoje [quarta, 11] saiu um relatório de um grande banco aproximando os cálculos dos nossos. E ainda com vários pontos pendentes, que não foram considerados. E que, se tivessem sido considerados, já chegariam a mais perto de R$ 65 bilhões nos dois anos”, afirmou.

O ministrou reconheceu que os projetos devem passar por ajustes, mas se disse confiante de que a potência fiscal do pacote será mantida.

“Estamos tirando dúvidas. Se precisar melhorar a redação, vai ser melhorada a redação, mas o objetivo é cumprir as metas estabelecidas na divulgação. E nós estamos confiantes que nós vamos alcançar aqueles valores”, afirmou, acrescentando que uma semana é suficiente para a aprovação das propostas.

O ministro da Fazenda preferiu fazer poucas declarações sobre a decisão do Copom e disse que queria primeiro ler a ata, a ser divulgada na próxima terça-feira (17), e “falar com algumas pessoas depois do período de silêncio” -em referência ao período em que diretores do BC evitam falar sobre política monetária com interlocutores fora da instituição.