BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidiu por unanimidade nesta quarta-feira (11), em seu último encontro de 2024, fazer uma alta de juros mais agressiva e elevou a taxa básica (Selic) em 1 ponto percentual, de 11,25% para 12,25% ao ano.

Para 2025, o colegiado do BC prometeu um choque de juros, prevendo aumentos de mesma intensidade nas duas próximas reuniões, em janeiro e março. Se a indicação for cumprida, a taxa básica vai atingir o patamar de 14,25% ao ano -pico da Selic na crise do governo de Dilma Rousseff (PT), entre 2015 e 2016.

“Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões”, disse no comunicado.

A decisão marca a despedida de Roberto Campos Neto do comando do colegiado do BC. A partir de janeiro de 2025, o posto será ocupado por Gabriel Galípolo -nome de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A aceleração do ritmo de alta da Selic era esperada pelo mercado financeiro. Mas, segundo levantamento feito pela Bloomberg, a maioria dos economistas consultados projetava uma elevação de 0,75 ponto, enquanto a parcela minoritária apostava em um aumento de 1 ponto percentual.

“Em função da materialização de riscos, o comitê avalia que o cenário se mostra menos incerto e mais adverso do que na reunião anterior”, afirmou em trecho do comunicado.

O colegiado ressaltou piora adicional das expectativas de inflação, elevação de suas próprias projeções para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), dinamismo acima do esperado da atividade econômica e maior abertura do hiato do produto (indicação de que a economia está operando acima do seu potencial, aquecida e sujeita a pressões inflacionárias).

No cenário de referência do Copom, a projeção de inflação para este ano subiu de 4,6% para 4,9% -ainda mais distante do teto da meta. Para 2025, a estimativa saltou de 3,9% para 4,5%. Houve também alta no prognóstico para o 2º trimestre de 2026 -período em que o BC hoje se propõe a cumprir o objetivo- para 4%, ante 3,6% em novembro.

Diante disso, o comitê defendeu a necessidade de uma política de juros mais contracionista. Isso significa uma atuação que ajude a frear a força da atividade econômica de forma a controlar o avanço da inflação.

Para Marco Caruso, economista do Santander, o comunicado surpreendeu por ser muito “hawkish” (combativo à inflação).

“É um movimento que busca estancar essa rápida desancoragem das expectativas que temos tido. É um aparente tratamento de choque nos juros, o que pode gerar uma desaceleração no PIB”, disse.

O economista André Perfeito afirma que a Selic deve chegar a 15% em 2025. Ele duvida de algum espaço para cortes na taxa de juros no ano que vem, por motivos como a incerteza com o governo de Donald Trump nos Estados Unidos e fatores climáticos, que tendem a pressionar os preços.

O ciclo de alta de juros teve início em setembro, quando o Copom optou por um movimento mais gradual, de elevação da Selic de 0,25 ponto percentual (a primeira no governo Lula 3). No último encontro, em novembro, o colegiado acelerou o passo pela primeira vez, com um aumento de 0,5 ponto na taxa básica.

Com a terceira alta seguida, os juros se igualam ao mesmo patamar de 13 de dezembro do ano passado, quando a Selic estava em 12,25%. Na época, contudo, a taxa básica seguia trajetória em direção oposta, com o processo de flexibilização de juros em curso.

De acordo com o Copom, a extensão total do ciclo de alta de juros “será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta” e dependerá da evolução da trajetória do IPCA, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto (diferença entre o crescimento potencial da economia e o efetivo) e do balanço de riscos.

O colegiado do BC adotou um tom mais duro com relação à questão fiscal. Ressaltou que a percepção dos agentes econômicos sobre o anúncio do pacote de contenção de despesas do governo Lula afetou “de forma relevante” os preços dos ativos, as expectativas do mercado com relação a prêmio de risco (rentabilidade adicional cobrada pelos investidores no Brasil), inflação e a taxa de câmbio.

“Avaliou-se que tais impactos contribuem para uma dinâmica inflacionária mais adversa”, disse.

A cotação do dólar usada pelo comitê foi de R$ 5,95 -uma elevação significativa com relação ao encontro anterior, quando a moeda norte-americana estava cotada a R$ 5,75.

Nas últimas semanas, os agentes econômicos passaram a apostar na necessidade de um choque ainda maior de juros em meio à piora adicional das expectativas de inflação. A onda de revisões refletiu a frustração dos agentes econômicos com o pacote fiscal, a disparada do dólar, que rompeu a barreira dos R$ 6, e a nova demonstração de força do PIB (Produto Interno Bruto).

Dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostraram que a economia brasileira cresceu 0,9% no terceiro trimestre e que a inflação, no acumulado de 12 meses, ganhou força e acelerou a 4,87% até novembro.

Segundo o último boletim Focus, os analistas já projetam que o IPCA fique acima do teto da meta neste ano e também em 2025 -4,84% e 4,59%, respectivamente. Para 2026, a estimativa subiu para 4%.

O BC trabalha agora com a inflação do 2º trimestre de 2026 na mira, conforme o sistema de meta contínua, devido aos efeitos defasados da política monetária sobre a economia.

O alvo central perseguido pelo BC é 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que a meta é considerada cumprida se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).

O comitê continua vendo o balanço de riscos para a inflação assimétrico para cima. Isso significa que ele avalia que há mais riscos de o IPCA ficar acima do que foi projetado do que abaixo dele.

Entre os fatores que puxariam a alta de preços, citou o risco de as expectativas de inflação seguirem distantes da meta por período mais prolongado, maior resiliência na inflação de serviços e uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio da taxa de câmbio mais depreciada de forma persistente.

Entre riscos que levariam os preços para baixo, mencionou novamente a possibilidade de desaceleração da atividade econômica global mais acentuada e a chance de os impactos do choque de juros sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o previsto.

Se a projeção de estouro da inflação deste ano se confirmar, Galípolo será obrigado a escrever uma carta aberta a Haddad logo após assumir o comando do BC.

O Copom voltará a se reunir nos dias 28 e 29 de janeiro de 2025, com a estreia de três novos integrantes -diretores Nilton David (Política Monetária), Gilneu Vivan (Regulação) e Izabela Correa (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta). A partir do ano que vem, o comitê terá maioria dos representantes indicados por Lula, com sete dos nove membros.