Estudante de curso de ensino técnico em treino de funilaria – José Paulo Lacerda 08.jun.21/CNI

ISABELA PALHARES

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro pode aumentar até 2,32% caso o país consiga triplicar o número de jovens matriculados no ensino técnico. O crescimento projetado resulta do aumento da empregabilidade e maiores salários de quem tem essa qualificação profissional.

A projeção é uma das conclusões do estudo “Potenciais efeitos macroeconômicos com a expansão da oferta pública de ensino médio técnico no Brasil”, feito por pesquisadores do Insper com apoio do Itaú Educação e Trabalho, divulgado nesta terça-feira (11).

Eles avaliaram os impactos macroeconômicos caso o Brasil investisse em uma política pública para expandir essa modalidade. Segundo o estudo, apenas 8% dos jovens que concluem o ensino médio cursaram a modalidade de ensino profissionalizante -a média entre os países membros da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) é de 32% dos concluintes.

Segundo o estudo, o investimento público para o aumento significativo da oferta de vagas nessa modalidade traria impactos econômicos positivos para toda a sociedade, e não apenas individuais, como ocorre hoje com a baixa cobertura da modalidade.

A população trabalhadora no Brasil é composta, predominantemente, de pessoas cujo maior nível de escolaridade é o ensino médio completo ou incompleto. Elas representam quase 80% dos trabalhadores de 24 a 65 anos.

Os dados mostram que os maiores ganhos salariais e empregabilidade são entre os que têm ensino superior. Como a ampliação da oferta de vagas em universidades é mais custosa, demorada e difícil em alguns locais, os pesquisadores apontam que o ensino técnico pode trazer resultados mais rápidos e efetivos para o país.

O estudo calcula que profissionais com ensino médio técnico ganham, em média, 32% a mais do que aqueles com o ensino médio tradicional. Além disso, eles têm maior chance de empregabilidade, já que a taxa de desemprego desse grupo é de 7,2%, enquanto entre os que têm somente ensino médio, de 10,2%.

“O ensino técnico é mais caro do que o regular, por isso, o estudo se propôs a avaliar se o investimento nessa modalidade pode trazer benefícios para toda a sociedade”, afirma o economista Sérgio Firpo, um dos responsáveis pela pesquisa. “Os dados indicam que sim.”

“Com mais concluintes no ensino técnico, teremos mais indivíduos com melhores chances de empregabilidade, salários mais altos e, consequentemente, maior poder de consumo. O que se reflete positivamente no PIB”, conclui o pesquisador, que é também secretário de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas e Assuntos Econômicos, no Ministério do Planejamento e Orçamento.

O estudo aponta que o investimento maior necessário para expandir o número de vagas no ensino técnico é compensado pelo aumento da produção do país, com a maior proporção de trabalhadores com ensino médio técnico ou superior.

“Só 20% dos jovens entre 18 e 24 anos estão no ensino superior ou já concluíram a graduação, ou seja, temos a maioria dos jovens sem qualificação e sem uma política pública que dê a eles perspectiva de ter condições melhores de trabalho e salário. O ensino técnico de qualidade pode dar possibilidades melhores”, diz Ana Inoue, superintendente do Itaú Educação e Trabalho.

Para ela, o ensino técnico não deve ser pensado como o fim de linha da profissionalização dos jovens, mas um ponto de partida para o mercado de trabalho.

“Ofertar mais vagas de ensino técnico não é sinônimo de apartar os jovens do ensino superior, mas garantir que tenham um ponto de partida em sua profissionalização”, diz.

Apesar dos efeitos econômicos positivos encontrados pelo estudo, os pesquisadores alertam que os cálculos não consideram explicitamente, por exemplo, como as alterações na demanda por trabalho e na estrutura da oferta de formação profissional poderiam potencializar ou reduzir os efeitos desejáveis com a expansão do acesso ao ensino médio técnico.

A expansão da modalidade sem a qualidade esperada tem sido alvo de crítica de estudantes e professores em algumas redes estaduais do país.

Como a lei do novo ensino médio criou a possibilidade de um dos itinerários de aprofundamento ser de ensino profissionalizante, eles reclamam que a oferta foi precarizada.

No Paraná, por exemplo, as disciplinas dessa modalidade ocorriam em aulas transmitidas pela televisão. Em São Paulo, a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) estuda ofertar o ensino técnico em escolas regulares sem prever aumento de investimentos.

“Os benefícios do ensino técnico dependem da ampliação da oferta e da qualidade do ensino. Não dá para dispensar um desses fatores, eles andam juntos”, diz Inoue.