ALESSANDRA MONTERASTELLI

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O filme “Feliz Ano Velho”, adaptação do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva que marcou a juventude dos anos 1980, volta aos cinemas da rede Cinesystem, em São Paulo, onde é inaugurada uma sala dedicada às produções nacionais, e também em salas do Rio de Janeiro, de Brasília e de Salvador.

O longa entra em cartaz para acompanhar o sucesso de “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, que também é inspirado em um livro do escritor lançado em 2015.

Aos 20 anos, em 1979, Paiva vivia o auge de sua juventude, entre festas, sexo e viagens. A balburdia acompanhava o fim do AI-5 e a promulgação da Lei de Anistia, que encerrou os anos de perseguição no Brasil contra todos aqueles que eram considerados inimigos pelos líderes da ditadura militar.

No mesmo ano, ele sofreu um acidente que o deixou tetraplégico. Em “Feliz Ano Velho”, Paiva escreveu sobre a adaptação ao seu próprio corpo e ao mundo, enquanto lembra o sequestro e assassinato de seu pai, o ex-deputado Rubens Paiva, pelo regime militar.

Publicado em 1982 e adaptado para o cinema pelo diretor Roberto Gervitz em 1987, o livro marcou uma geração inteira ao sintetizar, em suas páginas, o frenesi e a desilusão do período.

A escrita coloquial de Paiva atiçou o interesse da juventude da época. “O livro possuía uma narrativa cheia de vida e de associações livres. As épocas se alternavam e evocavam experiências comuns para jovens de classe média de nossa geração”, diz o diretor. “Eu queria refletir sobre o medo de viver em meio a um mundo que ficava para trás e outro que mal se anunciava e já ameaçava.”

“Feliz Ano Velho”, que têm no elenco Malu Mader, Marco Nanini e Eva Wilma, não foi uma unanimidade para a crítica, mas fez sucesso nos cinemas. O longa foi lançado no ano em que se discutia a Constituição de 1988, pouco antes da redemocratização.

A esperança de um país diferente e libertário se fundia à frustração da imobilidade diante da inflação, de governos conservadores e a da epidemia de HIV. “O Brasil saía da ditadura e, apesar da grave crise econômica, havia uma euforia relacionada à capacidade de a sociedade civil lutar pelos seus direitos”, lembra Gervitz.

Marcelo diz achar curioso que um livro escrito há 40 anos volte a despertar interesse. Isso porque as vendas de “Feliz Ano Velho” voltaram a crescer, junto às de “Ainda Estou Aqui”. O autor relaciona o fenômeno ao momento político delicado que o país enfrenta, com discussões sobre “o que é democracia, o que foi a ditadura e porque devemos evitá-la.”

FELIZ ANO VELHO

Quando Dezembro

Onde Cinesystem Frei Caneca e Shopping Bourbon (São Paulo), Botafogo (Rio de Janeiro), Casa Park (Brasília) e Saladearte (Salvador)

Classificação 10 anos

Elenco Com Marcos Breda, Malu Mader e Marco Nanini

Direção Roberto Gervitz