LEONARDO VIECELI

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O Brasil abateu mais de 10 milhões de cabeças de bovinos pela primeira vez em um trimestre, segundo dados divulgados nesta quinta (5) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O órgão contabilizou 10,37 milhões de animais abatidos no terceiro trimestre deste ano. Isso representa uma alta de 15,3% em relação a igual período de 2023 (9 milhões) e um acréscimo de 3,9% frente aos três meses imediatamente anteriores (9,98 milhões).

A série histórica do IBGE teve início no primeiro trimestre de 1997. Para se ter uma ideia, o número foi de 3,51 milhões à época. Os dados consideram os abates sob algum tipo de inspeção sanitária no país.

“O ano de 2024 está sendo de recorde no abate de bovinos e na produção de carne. Estamos nos encaminhando para um recorde anual, a depender do quarto trimestre”, disse Angela Lordão, gerente da pesquisa do IBGE.

Ela também destacou que julho teve a maior quantidade de abates em um mês na série histórica (3,59 milhões). “Estamos com uma boa oferta de animais, fruto de uma retenção de fêmeas que tivemos do final de 2019 a 2021”, afirmou.

Em paralelo, há uma demanda aquecida por carnes no mercado consumidor do país e no exterior, de acordo com Angela. “Estamos com exportações recordes, e aqui no mercado interno também temos observado um aumento do consumo per capita das famílias”, disse.

A partir de dados da Secretaria de Comércio Exterior, o IBGE apontou que as exportações no trimestre atingiram o patamar inédito de 706,43 mil toneladas, um aumento de 30,6% na comparação anual, com recordes para julho, agosto e setembro.

Para o consumidor final, o reflexo da procura em alta é a pressão sobre os preços nos últimos meses. Em novembro, a inflação das carnes acelerou a 7,54% no IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), também calculado pelo IBGE. Foi a maior elevação desde dezembro de 2019 (17,71%).

“O que guiou a alta dos preços do boi em um ano de abate recorde foram as exportações”, afirma Fernando Iglesias, coordenador de pecuária da consultoria Safras & Mercado.

“A exportação acabou levando 40% da produção brasileira, e isso promoveu a alta de preços. A gente viu essa elevação acontecendo muito centrada nas exportações”, acrescenta.

Analistas também dizem que a forte seca e as queimadas no Brasil pressionaram os preços. Com os estragos nas pastagens, parte da alimentação do gado teve de ser feita via ração recentemente, e isso encareceria o custo de produção.