SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O supermercado 100% digital Justo anunciou o encerramento de suas atividades no Brasil a partir deste sábado (7), sem dar mais detalhes. A startup mexicana deixa o país após três anos.

A saída ocorre cerca de um mês depois de um aporte de US$ 70 milhões (R$ 420 milhões). Embora o Brasil tenha sido um foco para a expansão da empresa no mercado latino-americano, incluindo parcerias com Latam e iFood, ao que tudo indica o investimento irá para as operações no México, onde a startup fechou recentemente parceria de entrega com a Amazon .

Em comunicado publicado em sua conta brasileira no Instagram, o Justo agradeceu aos consumidores e informou que os pedidos no site poderão ser feitos até esta sexta-feira (6).

O Justo foi fundado em 2019, no México, pelo mexicano Ricardo Weder e o brasileiro Ricardo Martinez. No Brasil, o supermercado digital começou a operar em outubro de 2021, em meio à pandemia de Covid-19.

Os produtos vendidos, segundo a empresa no Brasil, vão de hortifrúti de fornecedores locais a itens para limpeza de casa e carnes. Com pedidos feitos pelo site ou app, os clientes agendavam dia e horário para receber a entrega até no mesmo dia, sem precisar se deslocar.

Os rivais iFood, Rappi, Shopper e Daki, além de redes como Carrefour e Pão de Açúcar que expandiram suas operações online, devem absorver a clientela do Justo.

A compra online de produtos de supermercado foi uma das tendências aceleradas pela pandemia e continua em alta após o fim das medidas de isolamento. Mas a viabilidade do negócio é mais complexa do que para outros setores do varejo.

Segundo o consultor Alberto Serrentino, sócio da Varese Retail, o varejo alimentar tem uma série de impactos grandes tanto para a operacionalização como para a sustentabilidade econômica dos modelos.

“Já se tentou vários modelos, e operar um negócio de varejo alimentar puro online no mercado difícil como é e competitivo como é o mercado, por exemplo, de São Paulo, é uma empreitada muito complexa. Muitas empresas tentaram, mas não conseguiram criar um equilíbrio que gerasse um negócio lucrativo”, afirma.

A dificuldade está na logística de entregar, de forma rápida, produtos com demandas diferentes de manipulação, armazenamento e transporte.

“O modelo de operação puramente virtual, independente, ou seja, que não esteja integrado a uma plataforma maior que tem outros negócios e outras categorias, é muito difícil de ser escalado de forma sustentável. E não há um fator de desaquecimento de demanda. Pelo contrário”, diz o especialista em varejo.

Relatório Webshoppers da NielsenIQ Ebit divulgado em abril, aponta que, em 2023, o setor de alimentos foi um grande destaque nos hábitos de consumo online, registrando aumento de 26,2%.

Dos que responderam à pesquisa, 32% disseram que utilizaram pelo menos uma vez ao mês os aplicativos de entrega de supermercado, uma alta de 3 pontos em relação a 2022.

Mariana Munis, professora de administração do Mackenzie Campinas, diz que entre as dificuldades para se manter um mercado 100% digital no Brasil há ainda “a complexidade contábil e fiscal”, além de uma infraestrutura precária e cara para logística, por ser dependente do modal rodoviário.

“Aqui a gente tributa por estado, por federação, por município, coisa que em outros mercados não ocorre. Tem municípios em que o ecommerce tem algumas isenções fiscais. O Brasil é um país continental, o que o torna muito complexo de ter um negócio e, principalmente, de ter uma escala maior quando você fala de um mercado 100% digital”, afirma a especialista.