SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Descrito como “prioridade” pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em meados de outubro, o pacote de cortes de gastos levou 44 dias para tomar forma e ser detalhado, nesta quinta (27). Na noite de quarta (26), Haddad mencionou algumas das medidas, sem detalhá-las, em pronunciamento na TV.

Foi em 14 de outubro que o ministro afirmou que a “batata quente” do corte de gastos havia virado prioridade dos debates com o presidente Lula. Nesses debates, porém, foi preciso conciliar a necessidade de adotar cortes efetivos, que convencessem o mercado financeiro de que o rombo nas contas do governo vai diminuir, com as preocupações políticas de que medidas duram vão afetar a popularidade do presidente Lula e podem atingir parte importante de sua base eleitoral.

Além desse cabo de guerra entre equipes política e econômica, foi preciso negociar com categorias que perderiam benefícios, como os militares, e ministros que teriam suas verbas restritas ou seu prestígio arranhado, como os de áreas sociais.

Veja dia a dia como foi a batalha neste um mês e meio.

14/10/2024 (SEGUNDA)

O ministro Fernando Haddad (Fazenda) diz que “batata quente” do corte de gastos virou prioridade dos debates com o presidente Lula. “Ainda que a receita responda, o arcabouço fiscal não vai funcionar se a despesa não estiver limitada”, afirma à colunista Mônica Bergamo.

15/10/2024 (TERÇA)

A ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) diz que a revisão de gastos será levada a Lula após o segundo turno das eleições municipais. “Chegou a hora para levar a sério uma revisão de gastos estruturais no Brasil”, afirma.

28/10/2024 (SEGUNDA)

De volta a Brasília, Haddad conversa por cerca de 2 horas com o presidente Lula, no Palácio da Alvorada, sobre as medidas de corte de gastos.

29/10/2024 (TERÇA)

Na manhã seguinte, Haddad afirma não haver prazo para o anúncio de medidas de contenção de gastos e diz que a definição de quando o pacote será fechado cabe ao presidente Lula. Após a fala, o dólar fecha em forte alta, cotado a R$ 5,762.

Nova reunião de Lula no Palácio da Alvorada. Tebet não participa do encontro, que conta com a presença dos homens de confiança do presidente: Haddad e Rui Costa (Casa Civil) e o futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. Encontro durou cerca de 4h30.

30/10/2024 (QUARTA)

O ministro Luiz Marinho (Trabalho e Emprego) diz que “não existe” discussão de mudanças no seguro-desemprego e no abono salarial do PIS/Pasep e ameaça pedir demissão caso alguma decisão sobre temas da pasta seja tomada sem sua participação.

30/10/2024 (QUARTA)

Haddad e Rui dizem que há convergência sobre corte de gastos, mas que não foi batido martelo sobre as medidas. Haddad fala em “inquietação” do mercado e em “forçação boba” de jornalistas nos questionamentos sobre o tema.

31/10/2024 (QUINTA)

Avanço das medidas de revisão de gastos é colocado em dúvida com a previsão de viagem de Haddad para a Europa na semana seguinte, entre 4 e 9 de novembro.

1º/11/2024 (SEXTA)

O dólar fecha em disparada, cotado a R$ 5,869, atingindo o maior patamar desde o início da pandemia, em 15 de maio de 2020.

3/11/2024 (DOMINGO)

O Ministério da Fazenda comunica que Haddad cancelou a viagem à Europa a pedido do presidente Lula para que o ministro se dedique a temas domésticos. A decisão ocorre após estresse do mercado financeiro com a demora do anúncio.

4/11/2024 (SEGUNDA)

Haddad diz que o governo está pronto para divulgar na semana o pacote de medidas de corte de gastos. No mesmo dia, o plano é discutido com os ministros Camilo Santana (Educação), Nísia Trindade (Saúde) e Luiz Marinho (Trabalho) -titulares das pastas afetadas. O encontro no Palácio do Planalto dura quase 3h30 e termina sem anúncio.

5/11/2024 (TERÇA)

O governo dá continuidade às tratativas sobre corte de gastos em nova reunião no Palácio do Planalto, desta vez com os ministros Carlos Lupi (Previdência) e Wellington Dias (Desenvolvimento Social), além de Haddad e outros ministros que integram a JEO (Junta de Execução Orçamentária). A reunião não contou com a presença de Lula.

6/11/2024 (QUARTA)

Haddad diz que o conjunto de medidas de corte de gastos deve ter uma decisão final do presidente Lula no dia seguinte (quinta, dia 7). Segundo o ministro, restam “dois detalhes” que precisam ser alvo de uma “arbitragem simples” do chefe do Executivo.

7/11/2024 (QUINTA)

Reunião de Lula com oito ministros, além do vice-presidente Geraldo Alckmin, para acertar detalhes do pacote fiscal, termina sem falas. O encontro tem início pela manhã, é interrompido para almoço, e retomado no período da tarde.

8/11/2024 (SEXTA)

Lula reúne no Palácio do Planalto, pela terceira vez na mesma semana, os ministros da área econômica e os titulares das pastas afetadas pelos cortes. O encontro termina sem anúncio, com o governo Lula empurrando mais uma vez a decisão para a semana seguinte.

11/11/2024 (SEGUNDA)

Haddad afirma que o governo Lula fez ajustes no conjunto de medidas de corte de gastos, mas nega desidratação do pacote. O ministro fala sobre a inclusão de uma nova pasta, sem citar que se trata do Ministério da Defesa, no “esforço fiscal” a pedido de Lula.

13/11/2024 (QUARTA)

Ministro da Fazenda diz que as medidas de contenção de gastos já estão prontas e que o anúncio depende da decisão do presidente Lula. Haddad afirma que o impacto das medidas é “expressivo”. Ele viaja no dia seguinte, e o anúncio fica para depois da cúpula do G20.

21/11/2024 (QUINTA)

Haddad promete a apresentação da redação das propostas para Lula na segunda-feira (25), adiando novamente o anúncio das medidas de corte de gastos para a semana seguinte.

25/11/2024 (SEGUNDA)

Negociação para reestruturação da carreira militar atrasa pacote. Lula tem longa reunião com os ministros Haddad, Rui e Esther Dweck (Gestão). O secretário-executivo do Planejamento, Gustavo Guimarães, representa Tebet -em São Paulo para lançamento de seu livro. Galípolo também participa da reunião.

27/11/2024 (QUARTA)

Haddad faz pronunciamento em rede nacional de rádio e TV para explicar o pacote de corte de gastos. Ele também anuncia a elevação para R$ 5.000 a faixa de isenção da tabela do IRPF.