BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi derrotado na tentativa de evitar a mistura do pacote de corte de gastos com medidas para aumentar a arrecadação via tributação dos super-ricos. A taxação visa garantir o aumento da isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5.000 por mês.

Haddad queria deixar o projeto de tributação para o ano que vem e explicitou isso publicamente em várias ocasiões, depois que a Folha de S.Paulo revelou em outubro que o governo tinha pronta uma proposta para criação de um imposto mínimo para taxar os milionários e financiar a desoneração do IR, que beneficia a classe média.

A decisão final de Lula foi tomada na reunião entre presidente e ministros na última segunda-feira (25), que contou com a participação do futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo.

Haddad e Galípolo argumentaram que era melhor não fazer junto o anúncio, mas prevaleceu a avaliação política da necessidade de mostrar que todos teriam que dar uma cota de sacrifício no ajuste.

Na reunião, Galípolo, que é o atual diretor de Política Monetária do BC, passou a “leitura” do BC sobre a necessidade das medidas de contenção de gastos, de acordo com participantes do encontro ouvidos pela reportagem.

Após a reunião com Lula, Haddad e Galípolo seguiram juntos para o Ministério da Fazenda, onde conversaram por cerca de 40 minutos.

Naquele momento, havia o temor na área econômica de uma forte reação negativa do mercado financeiro ao pacote por causa da inclusão da medida do lado de receitas num pacote anunciado para enfrentar o problema de alta das despesas -o que de fato aconteceu nesta quarta-feira (27).

A avaliação foi de que o pacote era “corajoso” para enfrentar o desequilíbrio fiscal com “justiça e correção das distorções e ineficiências”, mas também havia a preocupação de como o mercado iria receber as medidas.

Haddad foi, então, aconselhado por auxiliares a gravar um pronunciamento à nação para explicar as medidas com a mensagem “Brasil mais forte, governo eficiente e país justo”.

A estratégia acabou vazando e prejudicando a comunicação das medidas. Logo cedo, já havia rumores nas mesas do mercado financeiro de que o pacote seria anunciado com a correção da faixa de isenção. Não houve coordenação de expectativas, admitem técnicos do Ministério da Fazenda.

O próprio ministro do Trabalho, Luiz Marinho, atropelou Haddad em entrevista e acabou antecipando que o pacote teria a tributação dos super-ricos -o que o ministro iria informar no pronunciamento.

Como a Folha de S.Paulo revelou, no início de novembro, a medida de taxar os super-ricos entrou na mesa de discussão do pacote como contrapartida a cortes que atinjam benefícios sociais. Colaboradores do presidente insistiram para que, entre as medidas anunciadas, também estivessem presentes as que alcançassem o chamado “andar de cima” da pirâmide de renda no Brasil.