SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em busca de expandir os negócios e aumentar o número de clientes, muitos profissionais concentram em grupos específicos seu trabalho e sua divulgação nas redes sociais. Essa já é uma realidade muito presente no mercado de personal trainers.
De acordo com Gabriel Rossi, professor de comunicação e consumo da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), para entrar em um mercado segmentado é importante conhecer e interagir com o público com o qual deseja trabalhar. A partir do estilo de vida dessas pessoas é que se construirá uma boa estratégia de comunicação.
O casal Eduardo Behring, 29, e Osvaldo de Farias Júnior, 26, de Blumenau (SC), atua desde 2022 exclusivamente com o público de homens gays. Eles criam os treinamentos, acompanham resultados e fazem consultoria online do progresso de seus clientes.
Segundo Eduardo, durante a pandemia houve uma transição para o mercado digital com o fechamento das academias. Naquele momento, eles perceberam que havia uma carência de profissionais dedicados especificamente a esse público.
“Percebi que era uma oportunidade que eu não podia deixar passar e comecei a desenvolver a minha linguagem, a minha comunicação, os conteúdos e os treinos totalmente voltados para esse nicho.”
Gabriel, da ESPM, explica que a comunicação direcionada é um dos pilares mais importantes para quem deseja trabalhar em um mercado mais segmentado.
“O foco talvez seja o conceito mais importante dentro do marketing e da comunicação. Você não consegue falar com todo mundo da mesma forma. Então, focar um público e um estilo direcionado te deixa muito mais poderoso e assertivo”, afirma o especialista.
A personal trainer Mariana Mósca, 38, que atua na área desde 2008, decidiu empreender e apostar no público feminino em sua empresa Across Performance após se tornar mãe, em 2018. Ela diz que um de seus primeiros passos foi publicar conteúdos da rotina pessoal e de treinamento em suas redes sociais.
“Eu trago muito da minha experiência pessoal para o Instagram. Isso me faz conectar com muitas mulheres, porque o universo feminino acaba gerando muitos assuntos, como a maternidade ou particularidades de treinamento que interessam mais às mulheres”, diz ela.
Mariana realiza consultoria de treinamento físico por meio de um aplicativo, buscando individualizar os exercícios que a aluna precisa fazer. Atualmente, ela conta com cerca de mil clientes e tem 12 pessoas trabalhando na empresa.
Com o crescimento da demanda, a personal busca aumentar o número de alunas na consultoria e expandir os cursos online que ela já oferece hoje em dia. Também deu início a uma marca de roupas e acessórios fitness.
Michelle Barbosa, 33, criadora do Protocolo T, voltado para homens trans, começou a trabalhar com consultoria online em 2018, ao perceber uma possibilidade de atender um público maior do que o que tinha em sua cidade natal, Guarapuava (PR).
No ano seguinte atendeu o primeiro homem trans e, a partir de indicações desse cliente para os seguidores nas redes, encontrou novos alunos e percebeu uma oportunidade de negócio.
Segundo ela, os exercícios em si não são muito diferentes, mas para prescrever um treino adequado é importante ouvir os desejos dos clientes com atenção e sem julgamentos.
“Muito além do planejamento vem a questão do acolhimento, da pessoa ter liberdade de se abrir e falar o que ela quer, o que ela está buscando. O que eu escuto dos alunos é que quando chegam na academia, eles não se sentem confortáveis por medo de sofrer preconceito ou eles recebem fichas padrões que não atendem suas necessidades”, afirma.
Para atrair seu público específico, Michelle posta vídeos com dicas e dúvidas comuns de seus alunos. “Tento trazer as pessoas para o meu perfil, para conhecerem o meu trabalho e a partir daí consigo iniciar conversas com possíveis clientes.”
Atualmente ela conta com oito pessoas trabalhando em sua empresa e tem 520 alunos. No total já atendeu quase 2.000 homens trans no Brasil e em outros 13 países.
Eduardo e Júnior também utilizam estratégia parecida. Por também serem homens gays, eles percebem que a comunicação funciona bem com esse público. “Por ser um personal gay, o cliente se sente mais à vontade de falar que querer treinar a bunda, por exemplo, sendo que com um outro personal hétero ele se sentiria constrangido. Muitos também reclamam do ambiente e de piadinhas homofóbicas nas academias.”
Segundo a dupla de treinadores, o objetivo é aproveitar o alcance atingido nas redes sociais para crescer ainda mais o negócio. Atualmente, eles têm 352 alunos. A equipe de funcionários conta com oito pessoas.
“A gente montou uma equipe capacitada para cuidar dos treinos e do suporte, assim, não precisamos mexer muito nessa parte e podemos nos dedicar à criação de conteúdo. Todos os dias, pelo menos meio período, a gente foca a comunicação, criando e planejando post, revisando, começando a gravar ou editando os vídeos”, diz Júnior.
Um outro nicho que se destaca é o de pessoas idosas. Fernando Carlos de Oliveira, 46, de Uberlândia (MG), trabalha há 15 anos com esse público. Ele atende em academias e nas casas de clientes, além de realizar montagem de treinos e consultorias online.
“Eu comecei a trabalhar em algumas academias e percebi que eu conseguia atender muito bem as pessoas mais velhas. Eu percebi que essas pessoas tinham uma carência muito grande de profissionais que dessem a atenção devida para elas”, conta o treinador.
A estratégia utilizada por ele é publicar vídeos de seus próprios alunos realizando os exercícios, para motivar mais pessoas que se identifiquem com as mesmas condições. Segundo Fernando, a grande maioria dos clientes gosta de ver a repercussão e também de acompanhar o próprio desenvolvimento por meio das filmagens.
A demanda pelo trabalho começou a crescer após alguns desses registros viralizarem nas redes sociais. Hoje, Fernando tem mais uma pessoa em sua equipe e atende 28 alunos presenciais e outros 30 à distância.
Segundo Gabriel Rossi, professor da ESPM, uma dica importante para empreendedores que desejam apostar em públicos específicos é entender o poder de compra do segmento escolhido para saber se ele será suficiente para sustentar os custos do negócio.
“Além disso, é importante conhecer o conjunto de hábitos dessas pessoas, quais mídias elas consomem, o tipo de lugar que frequentam, as crenças e os valores. A partir daí a sua comunicação fica muito mais interessante para cativar o seu público”, afirma o especialista.