PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – A polícia gaúcha apura as circunstâncias do assassinato de um preso morto a tiros por outro detento neste sábado (23) dentro da Penitenciária Estadual de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre. A suspeita é que a arma chegou ao presídio levada por um drone.

A vítima, Jackson Peixoto Rodrigues, tinha 41 anos e era suspeito de liderar a facção criminosa Família do Sul, que opera no Rio Grande do Sul. De acordo com a SSPS (Secretaria de Sistema Penal e Socioeducativo), ele foi morto na ala de triagem do presídio após ser atingido por disparos feitos por uma portinhola.

O preso apontado como autor do ataque é Rafael Telles da Silva, suspeito de ser ligado à facção Bala na Cara, rival do grupo de Jackson. Ele foi transferido para o presídio de Charqueadas.

Uma denúncia do MPF (Ministério Público Federal) aponta que os Bala na Cara se associaram ao PCC (Primeiro Comando da Capital) para realizar o assalto ao aeroporto de Caxias do Sul em junho, quando R$ 14,4 milhões foram roubados de um avião.

É uma mudança no modus operandi da facção paulista, que tinha inserção limitada no Rio Grande do Sul.

Nego Jackson, como era conhecido, era acusado pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul de envolvimento em mais de 20 homicídios, dentre eles a decapitação de um homem de 22 anos em 2016. Na época, Porto Alegre enfrentava um pico na violência motivada pela guerra entre facções.

A Família do Sul é uma das facções mais novas do Rio Grande do Sul, e surgiu para fazer frente ao crescimento dos Bala na Cara.

Jackson também era investigado por investigado por tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Foragido, foi preso no Paraguai em 2017 ao tentar cruzar a fronteira com documentos falsos. Após cumprir tempo no presídio federal de Porto Velho (RO), ele foi transferido para o sistema prisional gaúcho em 2020, em uma operação com reforço de escolta policial.

Um dia antes do assassinato, os agentes de segurança revistaram a galeria dos presos após identificarem um drone sobrevoando o complexo prisional. Foram recolhidos um rádio e drogas.

Na tarde desta segunda-feira (25), o vice-governador Gabriel Souza (MDB) determinou o afastamento do diretor de três das quatro penitenciárias do complexo, o chefe de segurança, dois supervisores e o agente responsável pela segurança da área onde ocorreu o crime.

“Isso não é uma confirmação de culpabilidade dos servidores, mas no sentido de buscar uma apuração isenta, rigorosa e célere, disse Souza em entrevista coletiva.

O vice-governador também afirmou que um dos servidores afastados recebeu uma carta escrita por Jackson, que teria sido entregue ao seu advogado, mas disse ainda não saber o teor do texto.

Também foi anunciado o reforço do policiamento em Porto Alegre e na região metropolitana com cerca de 500 policiais do BOPE (Batalhão de Operações Especiais) e do batalhão de choque da Brigada Militar.

É o quinto assassinato que ocorre dentro da penitenciária inaugurada em 2016. O mais recente foi em 2020, quando o corpo de um detento foi encontrado esquartejado em uma cela. Um dos sete detentos que dividiam o espaço confessou o crime.