SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Cantando para um Allianz Parque longe de estar lotado, talvez com pouco mais de 60% da ocupação, o americano Lenny Kravitz fez um show sem surpresas na noite de sábado (23). Na única apresentação até agora programada para o Brasil na turnê de seu álbum “Blue Electric Light”, lançado no começo do ano, ele apostou no caminho fácil dos hits.
Décimo segundo álbum de uma carreira fonográfica iniciada em 1989, “Blue Electric Light” teve críticas muito favoráveis, na melhor recepção a um trabalho dele nos últimos 20 anos. Por causa disso, muitos fãs provavelmente esperavam um material maior dessa última leva de músicas, mas o cantor foi conservador.
Ele mostrou ao público paulistano apenas três músicas do álbum novo: “Human”, “Paralyzed” e “TK421”, justamente aquelas que tiveram bom desempenho como singles lançados nas redes. Canções que já estavam mastigadas para o grande público.
De resto, ele priorizou seus hits singles, pinçando músicas de nove de sua dúzia de álbuns gravados. E a quantidade de sucessos em escala global é tanta que permite a ele construir o repertório com canções reconhecidas pelo público logo nos primeiros acordes.
Para abrir a noite, ele já chutou a porta com coisas bem pesadas, como as antigas “Bring It On” e “Minister of Rock and Roll”, e a nova “TK421”, que funciona bem melhor ao vivo do que na versão original de estúdio.
No palco, ele exibiu seu arsenal de poses e requebradas, fiel a um tipo sensual que desde o início da carreira tem obtido bons resultados junto ao público. Kravitz, 60, ostentou todo o tempo uma marca visual pessoal, indefectível: os óculos escuros, que ele afirma serem necessários por ter uma alta sensibilidade à luz. Mas sua ex, a atriz Lisa Bonet, já disse em entrevistas que é apenas uma bossa que ele gosta de manter.
A banda demonstrou ser muito boa, com destaque para o guitarrista e produtor Craig Ross, desde sempre escudeiro constante de Kravitz nas turnês e muitas vezes o único a participar das gravações dos álbuns do cantor, que prefere tocar sozinho vários instrumentos no estúdio.
Na primeira parte da apresentação, ele elencou canções mais lentas, como “I Belong to You” e “Stillness of Heart”. Nesta, foi até quem estava no gargarejo na pista premium e se deixou abraçar pelos fãs.
Optou por batidas um pouco mais fortes com as recentes “Human” e a funkeada “TK421”, realmente um momento Prince na noite.
Embora com músicas conhecidas, um bloco lá pelo meio do show soou um tanto arrastado, reunindo “Paralyzed”, “The Chamber” e “Fear” quando foi possível ver muita gente se dirigindo aos bares para comprar mais uma rodada de cervejas .
Mas aí Kravitz sinalizou a mudança para uma parte final matadora com um de seus maiores êxitos, a pegajosa “It Ain’t Over ‘Til It’s Over”, que atravessou todo o ano de 1991 sem parar de tocar nas rádios. Virou trilha de filme, música de comercial de TV e grudou nos cérebros de toda uma geração.
Kravitz manteve a hipnose na plateia com a romântica “Again” e o funk-rock “Always on the Run”. E nocauteou o Allianz de vez, mandando em seguida “American Woman”, cover da banda Guess Who que ele gravou em 1999 e, num desses casos que às vezes acontece no rock, transformou a canção dos outros em sua propriedade.
Para encerrar, escolheu “Fly Away”, rock lascivo e feito para pular, extraído do álbum “5”, de 1998, e “Are You Gonna Go My Way?”, sua mais adorada canção. No bis, a solitária mas empolgante “Let Love Rule”, que dá título a seu disco de estreia, de 1989.
Assim, fechou uma noite na qual ele optou pela segurança. Escolheu os singles famosos que serviram para exibir sua mistura bem-sucedida de rock, funk, soul e pop.
Em sua quinta vez no Brasil, a primeira desde 2019, Lenny Kravitz deu ao público mais uma comprovação de ser um hitmaker não muito inovador, mas que entrega muito bem o que a plateia quer.
Quase como se montasse um festival particular, Kravitz colocou três atrações para esquentar o público no Allianz desde o fim da tarde. A cantora Lineker fez um show curto, mas vigoroso, atestando a boa fase em que ela surfa agora. No entanto, pegou o estádio quase vazio. A participação não funcionou para aumentar seu público com novos fãs.
Depois, também para poucas testemunhas, a britânica Lianne La Havas mostrou um pouco de seus três álbuns já lançados, que levaram seu nome a ser uma nova aposta no soul e no folk. Sua voz é realmente incrível, o repertório traz músicas elegantes e a conexão com a plateia rolou. Sua passagem pelo Brasil incluiu na agenda show solo no Cine Joia, em São Paulo, no domingo (24).
Antes da atração principal subir ao palco, foi a vez de Frejat, já com uma plateia mais consistente. E o público reagiu bem aos inúmeros hits da longa carreira do ex-líder do Barão Vermelho. Seu habitual rock pop com alguma raiz de blues caiu bem para os admiradores da fórmula sonora de Kravitz.
Pna que teve o som cortado no meio da última música, “Pro Dia Nascer Feliz”, por indelicadeza da produção de Kravitz, porque Frejat tinha de acabar seu show até as 20h30. O público tomou as dores do brasileiro e o aplaudiu com entusiasmo.