RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou nesta sexta-feira (22) que a empresa “não está interessada em empilhar dinheiro” e vai distribuir dividendos sempre que as condições financeiras permitirem.

Na quinta (21), a estatal anunciou R$ 20 bilhões em dividendos extraordinários, o que animou investidores e gerou alta das ações da companhia nesta sexta. Sindicatos aliados do governo, porém, questionaram a decisão.

Em seu plano de investimentos divulgado na noite de quinta, a Petrobras prevê ao menos US$ 45 bilhões (R$ 256 bilhões) em dividendos ordinários e de até US$ 10 bilhões (R$ 57 bilhões) em dividendos extraordinários nos próximos cinco anos.

Nesta sexta, em relatório, analistas do UBS BB disseram que o plano é como “música para os ouvidos”. O documento, prossegue, “destrava elevados dividendos e sustenta o crescimento da produção [de petróleo]” da companhia.

Os analistas do banco dizem que a projeção feita pela empresa é conservadora, já que mudanças no caixa mínimo e no limite de endividamento aprovadas no plano podem liberar mais dinheiro para remunerar acionistas.

“Esperamos revisões para cima nas estimativas de dividendos [da companhia] nos próximos anos”, concordam analistas do Itaú BBA, também em relatório sobre o plano de negócios para os próximos cinco anos.

A Petrobras já atingiu o posto de segunda maior pagadora de dividendos do mundo durante o governo Jair Bolsonaro, quando virou alvo tanto da oposição quanto de governistas pela estratégia de focar a remuneração a acionistas em detrimento de investimentos.

A política de remuneração da empresa foi alterada em 2023, durante a gestão Jean Paul Prates, mas com um corte pequeno que manteve a estatal brasileira entre as maiores pagadoras do setor de petróleo mundial.

Prates subiu investimentos em relação à gestão Bolsonaro e o primeiro plano de investimentos sob a gestão Magda Chambriard prevê um orçamento de US$ 111 bilhões (R$ 640 bilhões), 9% superior à versão anterior.

O documento traz crescimento de aportes em exploração e produção, refino e biocombustíveis, além do retorno a projetos de fertilizantes e petroquímica, uma das missões dadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Magda.

Para analistas do BB, o plano “segue atento em manter o equilíbrio entre a necessidade de maior diversificação energética e garantir retornos robustos para seus acionistas, mantendo o pré-sal como prioridade estratégica”.

“A Petrobras tem mantido uma remuneração aos acionistas bastante superior a seus pares, graças à forte geração de caixa operacional, gestão do endividamento e pelo baixo patamar de alavancagem”, prossegue o texto.

Aliada tanto do governo Lula quanto da gestão Magda, a FUP (Federação Única dos Petroleiros) divulgou nota questionando a estratégia da empresa. O pagamento dos dividendos extraordinários de R$ 20 bilhões, diz, coloca em risco o avanço da companhia na transição energética.

O coordenador-geral da entidade, Deyvid Bacelar, ressaltou que a estatal já anunciou R$ 64,5 bilhões em dividendos em 2024, valor superior aos investimentos de R$ 53,9 bilhões em baixo carbono no ano.

“A Petrobras precisa romper com uma visão de curto prazo e orientada à distribuição de dividendos bilionários aos acionistas”, afirmou. “É papel da companhia acelerar os investimentos em direção à transição energética justa e contribuir para a garantia da segurança energética nacional.”

Os dividendos extraordinários haviam sido retidos no início do ano por pressão dos ministérios de Minas e Energia e da Casa Civil, em processo conturbado que culminou com a demissão de Prates e derrubou o valor de mercado da Petrobras.

Dois meses depois, o governo voltou atrás e permitiu a distribuição de metade dos R$ 44 bilhões retidos. Agora, o restante foi liberado. A empresa diz que a decisão preserva sua capacidade de investir nos próximos anos.