A Delegacia Especializada no Atendimento ao Idoso de Goiânia está investigando um golpe milionário de R$ 30 milhões que teria sido aplicado por um genro contra sua sogra. O inquérito, conduzido pelo delegado Alexandre Bruno de Barros, já conta com o depoimento da vítima e a coleta de documentos e outros indícios que fundamentam as investigações.

A idosa, que teve sua identidade preservada para evitar revitimização, está sendo representada no âmbito criminal pelo advogado Luís Alexandre Rassi. O crime, descrito como “apropriação de bens ou rendimentos de pessoa idosa”, é previsto no Estatuto do Idoso. Paralelamente, na esfera cível, o Tribunal de Justiça de Goiás determinou que o genro, um empresário, preste contas dos valores recebidos da sogra, supostamente para investimentos e criação de empresas. Após diversas tentativas infrutíferas de resolver a situação amigavelmente, a vítima recorreu à Justiça.

Segundo o advogado Leonardo Lacerda Jubé, representante da idosa, o empresário chegou a ser notificado via cartório, mas alegou que não tinha obrigações a cumprir, pois se tratava de uma “relação familiar”. “Diante disso, ajuizamos a ação, e a Justiça reconheceu nosso direito de exigir essa prestação de contas, resultando em uma decisão favorável à vítima”, explica Jubé.

As investigações revelaram que o empresário atuava irregularmente no mercado financeiro, sem registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o que levanta suspeitas de envolvimento em um esquema de pirâmide financeira. Ele utilizava cerca de 14 CNPJs para movimentar valores, confundindo recursos entre pessoas físicas e jurídicas. Além da prestação de contas, o acusado enfrenta outros processos relacionados a práticas semelhantes com outras vítimas.

O começo do golpe e os Bitcoins
De acordo com os autos, o genro começou a abordar a sogra sobre investimentos em 2018, quando ingressou na família, intensificando as investidas em 2021, durante a pandemia, enquanto ele e a esposa moravam na casa dos sogros. Ele a persuadiu a investir sob a promessa de segurança financeira, argumentando que buscava construir um futuro melhor para a família. Um dos repasses, no valor de R$ 5 milhões, foi destinado a investimentos em Bitcoin. Com o tempo, ele a convenceu a ampliar os aportes financeiros.

“Essa situação se prolongou por anos, aparentemente porque ele acreditava que, sendo da família, não enfrentaria consequências. Mas a situação se tornou insustentável. Encontramos ex-sócios dele em condições semelhantes”, afirma o advogado da vítima.

Vítima desabafa
“Minha filha se casou, engravidou, e, como morava em um apartamento pequeno, convidei-os a morar comigo. Ele se aproximou muito, sempre ao meu lado, e tinha grande poder de persuasão. Acreditei mais nele do que nos meus próprios filhos”, lamenta a sogra. “Ele dizia que tudo estava indo bem, e eu confiava. Mas ele levou todo o meu patrimônio. Não consigo me conformar.”

Segundo a Polícia Civil, o casal viveu na casa dos sogros por oito meses, enquanto o golpe se desenrolava por cerca de um ano e meio. “É doloroso pensar que, na velhice, quando eu deveria aproveitar a vida com meus netos, estou vivendo a pior fase da minha vida”, desabafa a vítima.

O genro chegou a perder cerca de R$ 20 milhões em um dos investimentos, o que levou a sogra a cobrar explicações. Contudo, ela relata que percebeu indícios de má-fé quando ele se recusou a prestar contas e transferia os valores diretamente para o próprio CPF. “Assinei contratos sem ler, algo que nunca fiz antes. Agora, só posso lutar judicialmente para tentar reaver parte do que perdi.”

A idosa também mencionou que seus outros dois filhos foram impactados indiretamente pelo golpe, agravando ainda mais sua situação familiar.