BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O diretor de Fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino, afirmou nesta quinta-feira (21) que a autoridade monetária está discutindo uma nova fonte de recursos para crédito imobiliário em meio à fuga da poupança, mas não quis antecipar as medidas em debate.

“A gente precisa repensar o funding do sistema financeiro e a gente precisa até trazer um novo olhar do que seja funding, o que seja esse desenho que a gente vem construindo até hoje no compulsório de poupança”, disse.

“Estamos estudando outra forma de financiar [o mercado imobiliário]. Não vou antecipar nada, mas temos estudos em curso e debates com a indústria”, acrescentou.

Perguntado sobre a possibilidade de liberação de parte parte dos recursos da poupança que hoje estão retidos em depósitos compulsórios, o diretor do BC diz que as conversas continuam, mas sinaliza que não há um avanço nesse sentido.

“Os debates continuam, os estudos sempre vão continuar no Banco Central no que toca o crédito imobiliário, compulsório é um item que está na mesa, mas provavelmente não temos horizonte para nenhuma manifestação clara acerca desse ponto”, afirmou.

Atualmente, a autoridade monetária exige o recolhimento compulsório de 20% sobre os recursos de depósitos de poupança.

No relatório de estabilidade financeira, o BC mostrou que a poupança registrou leve crescimento de 3% no primeiro semestre do ano, aproximadamente igual ao do rendimento médio do estoque, mas segue como ponto de atenção para o funding do crédito imobiliário.

O documento também indicou que houve redução no ritmo de crescimento das carteiras de LCI (Letra de Crédito Imobiliário) –3% no semestre atual, ante 20% no relatório anterior– após mudanças nas regras impostas pelo CMN (Conselho Monetário Nacional).

Em setembro, dados do BC mostraram que a concessão de novos financiamentos imobiliários rompeu a trajetória de alta observada ao longo de todo o ano e caiu 4,4% na comparação mensal.

A mudança de tendência coincidiu com um momento de falta de recursos para crédito imobiliário sob impacto do alto volume de saques da caderneta de poupança, de juros em dois dígitos no país e de demanda crescente por imóveis.

A Caixa Econômica Federal –maior financiadora da casa própria no país, responsável por cerca de 68% do mercado– está operando no limite de sua capacidade. Diante disso, o banco decidiu aplicar novas regras para emprestar dinheiro a quem pretende comprar imóveis de até R$ 1,5 milhão, encarecendo a operação.

A cota máxima de financiamento caiu de 80% para 70% para amortização pela tabela SAC (Sistema de Amortização Constante), em que as parcelas são maiores no início e menores no fim, por causa da diminuição progressiva dos juros.

O presidente da Caixa, Carlos Vieira, vem defendendo que a liberação dos depósitos compulsórios dos bancos seria uma saída para driblar a possível falta de recursos para a concessão de financiamento imobiliário.

A ideia da Caixa é que o recolhimento compulsório passe a ser de 15%. Segundo a vice-presidente de Habitação, Inês Magalhães, a liberação de uma parcela de 5% dos recursos da poupança poderia injetar cerca de R$ 20 bilhões na capacidade da Caixa de financiar a compra da casa própria.

Em julho, em entrevista à Folha de S.Paulo, o ministro das Cidades, Jader Filho, disse que o BC está segurando medidas que podem ampliar o financiamento à casa própria.