Maria Lúcia das Dores, presidente da Associação Quilombola de Aparecida de Goiânia, reflete sobre o impacto do racismo e a luta pela igualdade em ocasião do Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro. Apesar de expressar orgulho por sua identidade quilombola, ela reconhece que ainda há muitos desafios para que a população negra conquiste plenamente seus direitos.

“Não ocupamos ainda o lugar que nos pertence por direito. A data do Dia da Consciência Negra, que já deveria existir há muito tempo, é um momento para reforçar a valorização da nossa história, que remonta a Zumbi dos Palmares. Aqui em Goiás, muita gente batalhou por isso”, declara Lúcia.

Com 69 anos, a líder comunitária se dedica a promover cursos de capacitação profissional, como design de sobrancelhas e manicure, em parceria com o Colégio Tecnológico do Estado de Goiás (COTEC). As iniciativas visam ampliar as oportunidades para mulheres, jovens e homens da região.

Combate ao preconceito e projetos sociais

Além da capacitação profissional, Lúcia desenvolve ações voltadas para crianças, organizando atividades recreativas e ofertando alimentação durante as férias escolares. A proposta busca assegurar que os jovens estejam amparados e envolvidos em atividades construtivas.

No entanto, ela destaca que o racismo ainda é uma realidade cotidiana, frequentemente de forma dissimulada. “O preconceito verbal, os xingamentos, estão mais escondidos, mas o preconceito institucional persiste em todos os espaços de poder. Muitos parentes meus não conseguem emprego simplesmente pela cor da pele”, relata.

Lúcia relembra sua própria trajetória marcada por discriminação: “Sofri muito preconceito, mas nem sempre entendia o porquê. Como trabalhadora doméstica, muitas vezes me recusavam emprego por causa da minha cor. O preconceito estrutural segue forte até hoje.”

Apesar das adversidades, Maria Lúcia se orgulha de sua trajetória e determinação. “Tenho muito orgulho de ser quilombola, de chegar onde cheguei. Aos 69 anos, me sinto linda, realizada. Já me candidatei a vereadora e deputada, e estou determinada a realizar meu projeto, que não pode ser deixado de lado.”