BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – A crise política na Alemanha, que implodiu a coalizão de governo formada por Olaf Scholz, agora já divide seu próprio partido, o SPD. Enquanto o primeiro-ministro participava do G20, no Rio, nesta semana, lideranças da sigla transpiravam pela imprensa o nome de Oscar Pistorius, ministro da Defesa e um de seus principais aliados para concorrer nas eleições de fevereiro ao cargo do chefe.
Pesquisas de opinião, há meses, conferem a Pistorius o título informal de político mais popular do país. Em uma lista de 20 potenciais candidatos, o ministro lidera com folga, e Scholz é apenas o 19º. O desempenho reflete também o descontentamento dos eleitores com o partido. Na intenção de voto, os sociais-democratas reúnem apenas 16% das preferências, menos do que os conservadores da CDU e a extrema direita da AfD.
Olaf Scholz, de camisa polo, conversa com jornalistas durante o voo que levou o primeiro-ministro e a delegação alemã de volta a seu país depois da reunião do G20, no Rio Andreas Rinke Reuters A imagem mostra o interior de um avião, onde um grupo de pessoas está reunido.
O melhor momento da sigla, no começo da coalizão “semáforo”, apelido que faz referência às cores do SPD, do liberal FDP e dos Verdes, há três anos, teve justamente Pistorius como protagonista. A invasão da Ucrânia pela Rússia fez a Alemanha deixar de lado décadas de sobriedade militar na política externa para liderar a reação europeia a Vladimir Putin.
O país ampliou seus gastos em defesa em volume sem precedentes e foi um dos primeiros a alcançar a meta de 2% do PIB exigida pela Otan para fazer frente a Moscou.
Promessas de modernização da infraestrutura, transição energética e estímulo à estagnada economia do país, porém, não decolaram. Uma discussão sobre relaxar ou não o “freio da dívida”, a versão local do teto de gastos, consumiu a coalizão. A reforma do instrumento é vista pelo primeiro-ministro, por empresas e até por parte da oposição como vital para estimular a economia e um novo ciclo de modernização.
Scholz diz que continua sendo o homem para tarefa. Ainda no Rio, deu entrevistas para a mídia alemã, em que tergiversou. Pistorius, a despeito de seu nome habitar as manchetes dos jornais há dias, não escorrega nas declarações, em que louva o trabalho do primeiro-ministro e sua candidatura à reeleição. Algo parecido faz Lars Klingbeil, vice-presidente do SPD, ao frisar que quem tem “responsabilidade” no partido apoia Scholz.
Por essa ótica, vários sociais-democratas foram irresponsáveis nos últimos dias. Em entrevista ao Financial Times, Joe Weingarten, parlamentar do SPD, declarou apoio a Pistorius e disse que ele “não terá receio de dizer o que precisa ser dito” ao país. Lideranças regionais também pediram a mudança de candidato.
Há quem tema um desempenho muito fraco da sigla nas eleições, que seriam em setembro e foram antecipadas pela crise. Menos cadeiras no Parlamento significa menos recursos, e o SPD já enfrenta dificuldades em alguns estados. O FDP, outro partido tradicional, definha e, segundo as pesquisas, corre o risco de não alcançar a cláusula de barreira de 5%.
Friedrich Merz, que voltou para a política após carreira bem-sucedida no mercado financeiro e há anos se posiciona como candidato a primeiro-ministro, é tido como favorito. Não do público, mas por ser líder da CDU. Projeções apontam que o partido conservador deve obter o maior número de cadeiras. Ainda assim, a sigla terá que construir uma maioria para indicá-lo, e até uma coalizão com o SPD é plausível.
Por enquanto, Scholz se diz capaz de construir uma nova vitória. Antes dos eleitores, terá que convencer seu próprio partido, mais preocupado até aqui com o tamanho da derrota. Os líderes do SPD estão sendo pressionados a tomar uma decisão até a semana que vem.
O primeiro-ministro se submete a um voto de confiança em 16 de dezembro. Sua provável derrota será o gatilho formal para a convocação das eleições, já agendadas para 23 de fevereiro.